O CEL. GEMINIANO E O BANDO DO LAMPIÃO
A SAGA DA FAMÍLIA NOBRE
Episódio 26
O CEL. GEMINIANO E O BANDO DO LAMPIÃO
O fato ora narrado aconteceu na década de 30, no distrito de Laranjeiras, Município de Quixadá -Ce.
Nesse local morava o Cel. GEMINIANO CORREIA NOBRE, meu avô, fazendeiro da região, o qual tinha muita influência política, bem como era querido pelos moradores da vizinhança.
Era de costume meu avô sair a cavalo sozinho e as vezes acompanhado com seus vaqueiros, para visitar vilarejos nos municípios de Quixadá , Morada Nova e Banabuiu.
Nesses locais ele fazia negócios com os fazendeiros da região, ou seja trocava e vendia animais.
Vovó GEMINIANO era muito conhecido na região e respeitado, por suas atitudes de homem bom, honesto e de palavra, segundo comentava seus próprios amigos.
Nessa época, como já frisei década de 30, os moradores dos vilarejos estavam sob alerta, pelo fato da volante de VIRGULINO LAMPIÃO, ter sido visto na região.
Segundo relatou meu pai ZUCA NOBRE, que na época tinha 18 anos, quando esse fato chegava ao conhecimento dos fazendeiros, logo eles se reuniam para impedir um avanço de LAMPIÃO e seu bando.
Cada fazendeiro tinha sua proteção, era seus próprios vaqueiros que eram treinados e usavam armas de fogo (espingarda)para enfrentar o bando de LAMPIÃO, caso eles viessem invadir as propriedades.
Como o Cel. GEMINIANO era muito conhecido, como já frizei anteriormente, ele temia que o bando do LAMPIÃO, viesse a sua procura devido sua patente de Coronel.
A vila onde o coronel GEMINIANO morava , todas as casas eram vizinhas, ou seja meia parede e havia portas que dava acesso as outras casa, que consequentemente dava acesso todas as outras residências.
Por exemplo, se uma pessoa adentrasse na casa do vovô GEMINIANO, para fazer qualquer mal, os moradores tinha como ter acesso as outras casas, por uma porta e saiam na última casa da vila, indo por dentro.
Este fato eu constatei quando estive em Laranjeiras no ano de 2003, visitando a casa que vovô GEMINIANO morava, cujo fato foi asseverando pelos antigos moradores.
Continuando, estamos na década de 30, mais precisamente no ano de 1935, corria boatos que VIRGULINO LAMPIÃO e seu bando estava na região, porém meu avô GEMINIANO , quando saía para os vilarejos, ia sempre acompanhado de seus vaqueiros devidamente armados.
Segundo relatou ZUCA NOBRE, nesse mesmo ano ele, juntamente com seu pai o Cel. GEMINIANO e mais três vaqueiros, foram vender uns bois em Morada Nova.
Saíram todos de manhã cedo a cavalo tangendo os animais, esclarecendo meu pai ZUCA NOBRE, que nesse dia chuvia muito, chegando em Morada Nova, já anoitecendo.
Após a venda vieram logo embora e como ainda chuvia muito forte, vovô resolveu pernoitar no sítio de sua comadre TELVINA, viúva do ZÉ VAQUEIRO.
No jantar foi servido, cuscuz com galinha caipira à cabidela, sendo a refeição feita em uma enorme mesa que tinha na área da casa.
Foi durante o jantar que dona TELVINA confidenciou para o Cel. GEMINIANO, que os comentários era de que LAMPIÃO e seu bando, havia saido do Município de Limoeiro do Norte com destino a Morada Nova.
Após esse relato todos ficaram preocupados, principalmente o Cel. GEMINIANO, que chamou seu vaqueiro de confiança no canto e cochichou com ele, não sabendo meu pai dizer o que ele conversaram.
Dona TELVINA, percebendo a preocupação do Cel. GEMINIANO, sugeriu para que meu pai não ficasse ali, porém ele reuniu os vaqueiros e disse que ia ficar, porque estava muito cansado e que ficassem atentos, no entanto dona TELVINA pegou as redes e armou na área da casa.
Segundo meu pai ZUCA NOBRE, na área havia uma mesa grande, que foi removida para armar as redes, dois potes com água e uma bandeja com copos.
Já era bem tarde da noite, quando todos foram dormir, chovia muito com trovão e relâmpagos.
Certa hora a chuva já havia passado, os cachorros começaram a latir e em seguida ouviu -se pisadas, tendo meu pai acordado e segundo ele, viu vários homens entrando na área da casa e indo direto para os potes tirar água.
O local estava um pouco escuro, só com uma lamparina acessa, porém, deu pra perceber pelo lençol, que os homens eram da volante de LAMPIÃO, devido os trajes que usavam, parecido com roupas de vaqueiros.
Relatou, ainda ZUCA NOBRE, que os homens demoraram pouco tempo e não ouvia-se conversa entre eles, calado chegaram , calado saíram, somente os cachorros que não paravam de latir.
Após a saída do bando, meu pai não conseguiu mais dormir, porém não chamou seu pai GEMINIANO, com medo de que o bando ainda estivesse ali.
Quando o dia clareou o galo começou a cantar, tendo os vaqueiros se levantado, porém ainda assustado, relatou o ocorrido para os mesmos, ocasião em que o vaqueiro Ze do bode, homem de confiança do Cel. GEMINIANO, também confirmou seu relato, dizendo que havia visto e era realmente o bando do LAMPIÃO.
O restante dos vaqueiros e o Cel. GEMINIANO não chegaram a acordar e quando ele soube do ocorrido de manhã, fez foi brincar com seu filho ZUCA, dizendo: " menino você estava era sonhando".
No café da manhã servido por dona TELVINA, ela asseverou para o Cel. GEMINIANO, que era a segunda vez que o bando do LAMPIÃO tinha passado em seu sitio, inclusive na primeira vez, levaram um carneiro, haja vista que sentiu falta do animal no dia seguinte.
Concluiu o relato ZUCA NOBRE, que após o café retornaram a Laranjeiras, não sabendo mais notícias do bando do LAMPIÃO.
Somente dez dias após esse fatídico episódio, foi que souberam que o bando do LAMPIÃO, havia sido visto em Limoeiro do Norte e trocado tiros com a polícia local.
Moral da História:
Todo fato aqui narrado, foi contado por meu pai ZUCA NOBRE, no entanto a primeira vez, que ouvi essa interessante história, eu tinha 15 anos, porém ele repetiu várias vezes a mesma história e eu notava o orgulho dele ao contar esse fato do dia em que esteve frente a frente com o bando do LAMPIÃO, embora estivesse deitado na rede com medo.
Meu pai ZUCA NOBRE gostava de contar histórias e quase todas as noite, ele sentava na calçada da casa, quando morávamos no bairro Varjota em Fortaleza e reunia os vizinhos para ouviu suas histórias. Realmente era uma diversão agradável, não tinha televisão para assistir, nem outra diversão a não ser jogar baralho.
Ele ainda mandava eu escrever em um caderno as histórias narrada por ele, uma pena não ter registro oficial dessa história, bem como muitas outras, que se ouvia falar na época.
Eu tinha um caderno escrito a lápis com várias histórias e guardava com maior cuidado, porém, na nossa mudança do bairro Varjota para o bairro cidade 2000 no ano de 1974, esse caderno desapareceu.
CONTO de Edilberto Nobre, baseado em fatos reais.
19.04.2021, revisado