Minha passagem por Osório, o campinho

Na minha passagem pela cidade de Osório na década de 1970, uma das melhores lembranças da época, com certeza, foi o Campinho de Futebol de grama e areia localizado, na época, no cruzamento das Ruas Marechal Deodoro da Fonseca com a Avenida Getúlio Vargas. Era uma pequena quadra de mais ou menos uns 50 metros de largura por 100 metros de comprimento e o campinho ocupava menos da metade deste espaçao. Quando chegamos na cidade de mudança de Canoas, fomos nos adaptando e fazendo amigos e logo já estavamos integrados para podemos ser aceitos para jogar no campinho. O campinho de futebol não é apenas um campinho de grama e areia, é um lugar sagrado para quem o frequenta, para a gurizada, pois quando começa as férias de verão, a gurizada se reúne, sai para o mato atrás de paus de eucalipto para formar as goleiras, sai atrás de sacos de batata para costurar e fazer as redes, sempre sobra para a mãe de algum amigo que é costureira, pega emprestado o Cal branco que os pais utilizam para pintar os morões de cerca dos potreiros, para fazer a marcação do campo. Enxada, ancinho, pás, furadores de buraco, suador, sem camisa, pele queimada, louco de sede, não importa, é o ritual necessário para se poder criar a arena onde serão disputadas as peleias de verão, quer no meio da poeira, da chuva, da lama.O campinho não forma meninos, ele forma guerreiros, ele forma caráter, e pode inclusive ser comparado a formação espartana que os meninos gregos passam para virar homens. Quando você está em uma disputa neste espaço consagrado, você luta, chuta, dá voadeiras nas disputas com carrinhos na canela do adversário, bate o ombro nos jogos de corpo a corpo, salta como um ninja de cabeça na bola. É a maior retrato que se pode fazer de um guri na sua infância. Quem na década de 1970 não foi protragonista de ter participado de uma partida ou um pequeno torneio em um campinho lotado, onde o prêmio geralmente era uma jarra de Kisuco gelada, não teve infância, não foi guri, ou foi criado em apartamento. Tinhamos um grupo muito grande de amigos, o Elton, Saul, Tuta, Paulão, Ricardo, Índio, eu, meus Irmãos, primo Alex, que participavam diariamente das disputas no final do dia, quando o sol dava um refresco e iamos noite a dentro jogando, iluminado pelas luzes dos postes de iluminação pública da avenida getúlio vargas. A partida geralmente começava com dois, um em cada goleira chutando a gol, e a medida que os guris iam chegando, formavamos um time e lá pelas tantas, já tinha tanto menino, que podiamos formar alguns times e montar uma pequena disputa. Foi uma época de ouro na minha vida.

O campinhao aproximava os meninos, dentro dele, não existiam diferenças sociais, todos eram iguais na disputa, esqueciam os problemas que aflingiam as famílias nesta década pela falta de condições de se ter uma vida mais digna, e deixaram marcado para sempre na cabeça dos meninos, hoje homens, a saudade dos velhos amigos e se criaram amizades que perduram até hoje.

Infelizmente hoje, pelo excesso de zelo pelos nossos filhos e mesmo pelas tecnologias que ascenderam, os meninos não se reunem nestes espaços que também já não existem mais e perdem a oportunidade de se integrarem entre si, de desenvolverem amizades duradouras e verdadeiras, e se trancam em seus quartos, isolados pela tecnologia que lhes rouba a infância.

Saudades!