O CEL. GEMINIANO O VAQUEIRO E A BOIADA

A SAGA DA FAMÍLIA NOBRE

Episódio 20

Na década de 50, meu avô,

o Coronel GEMINIANO CORREIA NOBRE, morava no distrito de Laranjeiras, Banabuiu, Ceará, era um fazendeiro muito influente da região.

Devido a difícil seca nessa década, os animais passaram a sofrer com a estiagem, tendo o Cel. GEMINIANO tomado uma decisão, levar seu rebanho bovino para vender em Fortaleza.

Para isso ele montou um comboio composto por nove pessoas, sendo elas , meu pai ZUCA NOBRE, tio BINU NOBRE e mais seis Vaqueiros, entre este DUDE, homem de confiança e encarregado da logística da viagem.

Foram trazidos 120 cabeças de gados, 04 mulas, equipadas com comidas, água, agasalhos, etc.

Segundo relato de meu pai ZUCA NOBRE, o comboio saíu de Laranjeiras cinco horas da manhã, era um dia de quarta feira , seguindo pela estrada na época carroçal.

Passaram pelos municípios de Quixadá, Ibaretama, chorozinho, Pacajus e outros.

A viagem segundo ZUCA NOBRE, foi longa e cansativa, tendo que parar várias vezes, para os animais se alimentar, beber água e descansar.

Cada parada dessa era feito acampamentos, enquanto que o cozinheiro um dos vaqueiros preparava o almoço.

Nas mulas vinha basta comidas, roupas e agasalhos para enfrentar os mosquitos e o frio da noite.

Após 15 dias de viagem, chegaram em Fortaleza, sendo recepcionados por um comprador de gado, que já esperava os animais.

Segundo ZUCA NOBRE, vovô GEMINIANO se reuniu em um galpão com o tal homem e outros compradores, não participando daquela reunião.

Depois veio as ordens do Cel. GEMINIANO, que no dia seguinte todos iam retorna a Quixadá de Trem, ficando em Fortaleza o papai, no caso ZUCA NOBRE, que ia tentar vender os nove cavalos e as quatro Mulas e retornar de trem.

Segundo ZUCA NOBRE, não recorda quanto foi apurado na venda da boiada, porém consegui vender os cavalos e as mulas a três compradores desconhecidos pela quantia de 2.500 cruzeiros.

Era muito dinheiro na época para andar com ele no bolso e segundo ZUCA NOBRE pediu a dona da pensão onde fico hospedado para guardar o dinheiro no cofre.

A proprietária da pensão, localizada nas proximidades do Passeio Público no Centro de Fortaleza, era dona LEILA, uma senhora muito generosa e tinha um tratamento diferenciado por ter papai se identificado pelo sobre nome NOBRE.

Dona LEILA , era de origem portuguesa e pensava ela que ZUCA NOBRE, fosse de família NOBRE tradicional de Portugal, onde tinha amigos e por isso esse tratamento carinhoso.

Segundo o ZUCA NOBRE ela o chamava de meu filho NOBRE e por causa disso não lhe faltava nada e eu achava era bom, dizia papai.

Meu pai permaneceu mais de uma semana em Fortaleza, fazendo compras para levar para Laranjeiras, todavia, dormia e fazia refeições na pensão da dona LEILA, que se tornou sua amiga.

Certa vez , um dia de sábado, ZUCA NOBRE se arrumou todo, vestiu o palitó com calça branca que sempre usava em viagens, botou o chapéu de massa preto na cabeça e resolveu dar umas voltas pelo centro, retornando logo em seguida.

Sentou- se à mesa da pensão e pediu uma cerveja.

Na pensão que também funcionava com bar era encontro de "mulher de programa", segundo papai essa pensão ficava na mesma rua do Passeio Público.

Certa hora chegaram vários homens para beber e segundo dona LEILA eram trabalhadores da Estrada de Ferro, que estava sendo construída.

Em dado o momento eles muitos alterados uns com mulheres e outros sozinhos, começaram a se estranhar, e a brigar no salão da pensão.

Na ocasião ZUCA NOBRE, se escondeu atrás da porta de entrada, para não se envolver na briga e só via cadeiras e garrafas voando e caindo no chão se quebrando e muita gritaria.

Depois que tudo se acalmou, ouviu- se quando dona LEILA passou a gritar :

"Cadê meu filhinho NOBRE, quem viu ele", ocasião em que papai saiu vagarosamente de detrás da porta, segundo ele tranqüilo como se nada estivesse acontecido.

Abotoou o palitó e sentou-se novamente à mesa, acendeu um charuto e pediu outra cerveja.

Dona LEILA muito preocupada correu até a mesa , perguntando se estava tudo bem, tendo papai dito: "Eu vim aqui foi pra beber e não pra brigar."

Moral da História:

Todas as vezes que vinha a Fortaleza fazer compras ZUCA NOBRE se hospedava na pensão da dona LEILA e era tratado como rei, só porque tinha o sobrenome NOBRE, além é claro vez por outra soltava uma gorgeta pra madame LEILA.

Passados aproximadamente uns dez ano deste fato, quando eu tinha 09 anos, vim conhecer Fortaleza com meu pai e recordo que ele chegou a passar perto da pensão e apontou dizendo : "era ali que eu ficava hospedado, quando vinha à Fortaleza".

Nesse dia papai me levou para conhecer o Mar e tive uma emoção indescritível, quando vi aquele "bocado" de água e recordo que passei em frente ao Hospital Santa Casa de Misericórdia, que ainda existe hoje, que fica em frente ao passeio público.

CONTO de Edilberto Nobre, baseado em fatos reais.

29.03.2021