Minha passagem por Osório, o Buraco do Cândido
Quem já morou na cidade de Osório, no Rio Grande do Sul, pelo menos na década de 70 ou 80, ouviu falar do Buraco do Cândido, uma lagoa distante cerca de 10 km da cidade em direção a Tramandaí pelo RS-030, um pouco antes do Parque Histórico Marechal Osório. Andando estes 10 km e saindo à direita da RS-030, percorre-se por uma estrada de chão cerca de 8 km, andando com conhecimento na região, chega-se a uma lagoa que tem o nome de Buraco do Cândido. Não sei bem o significado deste nome, mas deve ser o nome do proprietário das terras onde a lagos está situada. Certa vez, lá pelo ano de 1977, meu Pai e meu tio Amabilino Colissi, descendente de italianos por nascimento, convidaram o Tio Zenon e esposa, meus Irmãos Marlon, Quinho e Tabajara, para irmos pescar nesta lagoa em um sábado, bem cedo. Pegamos todos os aparatos da pescaria, tais como, caniços de taquara do reino, espinheis, boias loucas (uma boia de isopor com uma linha com anzol que fica inerte, amarrada em um junco até que o peixe morda a isca), caixas de isopor com sal, espingardas de chumbo, calibre 12 com dois canos e calibre 16 com dois canos montados. Meu tio Colissi tinha um Jeep Willys, não recordo o ano deste modelo, e tio Zenon um VW TL 1600, no qual colocaram os materiais de pesca e pegamos a estrada. Cerca de uma hora depois chegamos na lagoa. O nome de buraco do Cândido deriva da profundidade que a lagoa tem. Dava pé cerca de 20 metros para dentro, no meio dos juncos, mas logo em seguida, a lagoa tinha um declive tão acentuado que dava medo. Para verificar a profundidade, cortamos duas taquaras de cerca de 8 metros cada, amarramos uma na outra e enfiamos para dentro, logo após os juncos. A taquara entrou toda e ainda faltou muito para alcançar o fundo. Fiquei apavorado com a profundidade da Lagoa.
Para mim e meus Irmãos que no ano anterior chegamos a Osório, foi uma grande aventura esta pescaria. Meu Pai e os Tios e a Tia Nena entraram até onde a profundidade permitia e começaram a pescar. A Tia Nena era uma excelente pescadora. Como toda a lagoa da região, o peixe que mais caia nos anzóis com chumbo era os Carás Testudos e os Carás Manteiga. Meu pai e o tio Colissi, armaram os espinheis em outro canto da lagoa e distribuíram as boias loucas no meio dos juncais, para tentarem pegar alguma Traíra ou mesmo um Jundiá. Eu fiquei ao lado do meu Irmão mais velho, Tabajara, e a pescaria transcorria muito bem, até que de repente, senti um uma coisa raspar na minha perna, que deixou uma marca de arranhão, pulei para o lado na mesma hora e meu irmão mais velho, identificou que fora um pequeno jacaré do papo amarelo, que passou do nosso lado. Sai correndo para fora da lagoa e não entrei mais para pescar, e desta maneira, fui incumbido de ficar limpando os peixes em uma pequena tabua de carne com uma faca muito afiada e uma tesoura. A medida que ia limpando os peixes, os colocava na caixa de isopor intercalados entre uma e outra camada de sal para que não estragassem até nosso retorno à tardinha. Passando o meio dia, a tia Nena, preparou uma quantidade de peixes que eu havia limpo, temperou e preparando um fogo no chão, colocou uma grande frigideira com óleo para aquecer, e foi fritando os peixes para nosso almoço com pães que havíamos levado. Paramos todos e nos deliciamos com o fruto de nosso esforço durante a pescaria pela manhã. Ficamos pescando até o final do dia, quando começamos a recolher os espinheis e as boias loucas, as quais estavam repletas de pequenas e médias traíras e jundiás. A pesca de caniço também rendeu uma quantidade generosa de Carás que encheram os isopores até o gargalo. Recolhemos o restante dos materiais de pesca, colocamos tudo no Jeep e no TL e retornamos para casa, cansados, queimados do sol, mas com uma satisfação enorme de ter podido compartilhar com nossos familiares um dia tão especial. Nesta época de minha vida, não tínhamos vídeo games, computadores e tantas facilidades que hoje a garotada dispões, mas digo com certeza, não trocaria aquela infância por nada que atualmente dispomos para uma vida moderna e tranquila. Foram dias inesquecíveis e cheios de alegria. Saudades!