A VIDA DIFÍCIL DO SERTANEJO NORDESTINO

A SAGA DA FAMÍLIA NOBRE

Episódio n° 05

A VIDA DIFÍCIL DO SERTANEJO NORDESTINO

Na década de 60, meu pai ZUCA NOBRE e meus irmãos Erivaldo Nobre e Evaristo Nobre, trabalhavam na construção do Açude do Banabuiu, distrito de Quixadá, Ce.

Após a obra ser concluída no ano de 1966, ficou difícil a vida da família em virtude de todos ficarem desempregados, passando eles a trabalhar de serviços prestados e venda de madeira para produção de carvão.

Naquela época a vida era muito difícil, na casa não tinha geladeira, o fogão era a lenha e a água para beber tinha que retirar da Lagoa, que ficava distante da casa.

A água era armazenada em potes e para beber tinha que fever e depois colocada nas quartinhas de barro.

Para cozinhar no fogão a lenha a madeira era retirada de um matagal existente há cerca de duas léguas da casa onde morávamos, denominada "Serra do Mundego".

Para subir a serra do mundego, tinha que ir de jumentos com as respectivas cangalhas , para trazer a lenha.

Para tanto existia um ritual, tinha que vestir roupas adequadas, ou seja roupa grossa por causas das picadas dos mosquitos e mutucas, insetos da região .

Usava-se também um chapéu de couro, camisas e calças longas de couro.

Para alimentação, geralmente levava-se um bozó com farinha e rapadura e o canil era feito de cabaça, onde era colocado água para beber.

Os utensílios para o corte da madeira usava -se machado, foice, facão, cada trabalhador com seus respectivos instrumentos.

Todos os finais de semana, tinha que subir a serra, ritual este que era realizado o ano todo.

Certa vez, meu pai , juntamente com meu irmão Evaristo e mais dois ajudantes, foram cortar lenha na Serra, levando meu irmão Raimundinho(Brito) que na época tinha 6 anos de idade, nesse dia eu não pude ir, fiquei em casa com minha mãe e os outros irmãozinhos.

Segundo relato de meu pai, subiram a serra de manhã cedo, levando três jumentos com as respectivas cangalhas, indo Raimundinho na frente em um dos jumentos, que puxava os outros dois animais, contudo as demais pessoas iam a pé, acompanhando os jumentos ladeira a cima.

Depois de mais de uma hora subindo a serra, pararam no local ideal para cortar as árvores para tirar a lenha, onde era feito um acampamento e dava- se início o corte.

Ao meio dia tinha uma parada para refeição, no entanto a comida era farinha com rapadura e após um descanso começava os trabalhos, que tinha término geralmente antes de escurecer, por causa das picadas dos insentos e para não dificultar a descida.

Nesse dia, já perto de ir embora, meu irmão Evaristo cortava as últimas madeiras, quando num descuido, cortou o pé com o machado, bem próximo do calcanhar.

Segundo relato de meu pai ZUCA NOBRE, na ocasião se apavorou, devido o corte ter sido profundo e escorria muito sangue, no entanto, pegou Evaristo pelos braços e colocou em cima do jumento e desceu a serra, enquanto os outros animais traziam a lenha.

A descida foi difícil e para complicar mais ainda deparou com uma matilha de cachorro do mato, que queriam atacar os jumentos , sendo necessário dar uns tiros pra cima com uma espingarda, para intimidá-los.

Após a descida da serra , seguiram pela estrada carroçal com os animais, chegando em casa já escurecendo.

Evaristo, já apresentava moleza no corpo, devido a perda de sangue, todavia para estancar o ferimento, minha mãe colocou pó de café, enquanto ele ia ser levado para a única farmácia existente no distrito, haja vista que não existia hospital.

Na farmácia Evaristo foi atendido pelo enfermeiro ELIEZER amigo de meu pai, que ponteou o ferimento e que fez um curativo, indo ele depois pra casa.

Moral da História:

Por causa do acidente Evaristo não foi mais subir a Serra do Mondego para cortar lenha, tendo assumido dias depois o emprego no DNOCS.

Quanto a meu pai ZUCA NOBRE, meses depois deixou de cortar lenha, assumindo também um emprego na fábrica Cajubras em Pacajus, local onde veio morar com a família.

Atualmente o personagem principal dessa história, EVARISTO NOBRE , estar com 74 anos de idade, aposentado do DNOCS e mora em Fortaleza.

CONTO de Edilberto Nobre baseado em fatos reais.

06.03.2021