Controle de pragas

A primeira coisa que Virgil Walsh percebeu, ao entrar no velho cemitério adstrito ao templo budista, foram as nuvens de mosquitos que voavam alegremente, protegidos do sol da tarde pela sombra das árvores.

- Aqui é sempre assim? - Indagou para seu guia, Senichi Iwamoto.

- Fica pior no verão, Virgil-san - informou Iwamoto.

- É bom saber que não pode ficar pior do que já está - retrucou Walsh, estapeando-se.

Acocorou-se diante de uma uma das lápides, diante das quais havia tanques de pedra e vasos feitos de bambu, cheios de flores murchas; além delas, também continham água parada, naturalmente. Olhou ao redor e viu recipientes semelhantes sobre praticamente todas as sepulturas que conseguia vislumbrar: o cemitério era um criadouro perfeito para as pequenas criaturas sedentas de sangue.

- Não vamos poder fazer nossa pesquisa nessas condições - decidiu, erguendo-se. - Me admira muito que a administração de uma cidade progressista como Tóquio ainda não tenha exterminado com essa praga!

- E como fariam isso, Virgil-san? - Indagou Iwamoto curioso.

- Da mesma forma como os americanos fazem: despejando um pouco de querosene na água! O querosene cria uma película que as larvas dos mosquitos não conseguem atravessar, morrendo sufocadas nesse processo.

Enquanto conversavam, a dupla batia em retirada de volta ao templo.

- Notável, Virgil-san; mas há um pequeno problema com o seu método de lidar com esses jiki-ketsu-gaki - informou Iwamoto.

- Fala dos mosquitos?

- Sim. Trata-se de criaturas vivas, Virgil-san. Consegue imaginar que os monges budistas irão consentir com a morte deliberada delas?

Walsh deteve-se, embatucado; não havia atentado para esse ponto ao analisar a questão. Ademais, manter uma equipe de funcionários despejando querosene em cada tanque e vaso, sete dias por semana, exigiria um investimento por demais dispendioso. Apenas naquele cemitério, deveriam existir milhares de recipientes abertos, coletando a água da chuva que caía com abundância regular sobre Tóquio. Abanou a cabeça.

- Talvez haja outro modo de controlar a praga... os mosquitos têm predadores naturais.

- Se fala de carpas, não há como colocá-las em vasos de flores, Virgil-san - replicou Iwamoto.

- Não carpas... algo menor do que elas, um outro inseto - replicou Walsh.

E apontou para duas libélulas, que voavam em zigue-zague sobre um tanque coberto de nenúfares.

- Se não pudermos usar querosene, talvez possamos convencer a administração da cidade a reproduzir libélulas em cativeiro, e espalhar as larvas delas pelos reservatórios de água dos cemitérios - sugeriu.

- Isso vai ser demorado - redarguiu Iwamoto, enquanto galgavam as escadas do templo.

- Uma outra solução, seria demolir todos esses antigos cemitérios - ponderou Walsh. - Mas creio que os budistas gostariam ainda menos da ideia...

E calou-se, pois um monge vinha vindo em direção a eles.

- [01-03-2021]