Despertar de um sonho

Eu nunca esqueceria aquelas mãos, cheirando a ervas do campo, flores secas, chás doce/amargos que esquentavam meu corpo apesar dos trapos no inverno em Calais. O cheiro das mãos de minha mãe.Os ventos nós invernos entravam por cada fresta de nossa choupana e agitava mais o fogo no meio do único cômodo que dispúnhamos, levantando mais fuligem pela lenha molhada do que chamas, mas era melhor do que nada. E esquentava o chá, que esquentava o corpo.

Era o mais novo de oito filhos, o quarto que vingou, Antoine trabalhava na propriedade do senhor das terras, Jeanette estava prometida ao Sr. Baduan, nosso vizinho, pai de sete filhos, mas que estava sozinho, desde que sua mulher morreu com o caçula preso na barriga no último parto. Ela mal fez treze anos. Michel ajuda o pai nas plantações, e eu, fico preso a minha mãe, que insiste em rezar terços que ela não sabe contar direito. Ela quer que eu vire acólito do mosteiro. Quem sabe vire monge. Ela acredita que não morri por milagre. No meu parto o cordão umbilical veio preso no meu pescoço e eu nasci escuro e frio. Morto. Minha mãe me abraçou desenrolou o cordão do meu pescoço e me pôs numa bacia de água morna e mecheu comigo como se estivesse lavando um pano (ao menos é o que ela conta), minhas cores foram voltando enquanto ela me prometia pra São Miguel arcanjo.

Chorei, e toda casa chorou. Mas meu pai não mudou de ideia, e meu primeiro nome foi o de seu avô. Jean, eu fui agraciado com dois nomes, Jean Michel.

O gosto de sangue e o torvelinho escuro foram me mostrando estrelas e me trazia de volta a realidade molhada e ardida.

Meus cortes estavam sendo lavados com salmoura e vinagre. Limpos. Dolorosamente limpos.

"Cão, não sei se foi uma benção ou uma maldição você ter sobrevivido."

Meu verdugo se cansou de me bater.

Sobrevivi.

"Suas feridas serão limpas e tratadas. Você irá comer. Em três dias o capitão irá falar com você. Acostume com as correntes, elas serão parte de você."

Percebi meu enfeites nós tornozelos, pulsos e pescoço.

Mas ainda estou vivo.

Continuação de: https://www.recantodasletras.com.br/contos-de-aventura/6743781

Pierrot Gluton
Enviado por Pierrot Gluton em 18/02/2021
Reeditado em 18/02/2021
Código do texto: T7187033
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