Filho da esperança
Mar revolto, nuvens escuras cobrem o céu.
Um enorme navio negreiro rasga as águas em meio a tempestade
na imensidão do oceano parece até um barquinho de papel.
Nos porões homens e mulheres vão acorrentados como animais, sem luz, comida e esperança.
Uma mulher gravida sente contração, o momento chegou é agora a criança quer nascer.
Respirando fundo e com uma das mãos segura a barriga, a outra segura a corrente que prende a argola em seu pescoço.
Mulher forte, mulher de fibra o sofrimento de toda uma vida é estampado em sua pele.
As dores das contrações não a incomoda tanto, ela está preocupada de que a criança caia no chão.
Suplicando em um dialeto africano, enquanto segura a barriga com mais força “Espera um pouco, só mais um pouco!”
O navio vai diminuindo a velocidade, a tormenta vai se acalmando e pouco a pouco o navio vai parando.
Dos porões os que sofrem escutam os gritos de comemoração daqueles que se achavam os donos do mundo, após vencerem mais uma vez a natureza revolta.
Homens e mulheres são retirados uns acorrentados aos outros.
Em uma terra desconhecida, muitos temem, aquela mãe agradece e com ajuda de outras mulheres se deita na areia, os algozes debocham ao ver a mulher parindo “mais um sofredor”.
Sem muito esforço a mãe dá, a luz.
A criança chora, a mãe sorri e agradece por ele ter esperado o momento certo.
Puxados pelas correntes homens e mulheres vão sendo levados, a mãe desesperada enrola o filho em pedaços de suas vestes e das outras mulheres.
O desprendendo de si com dor e sofrimento, o coloca em meio a raízes das árvores no berço da terra.
Quando vem ser puxada pelos desumanos abraça firme alguns pedaços de panos rasgados em seus braços.
Junta novamente ao seu grupo caminha em direção ao incerto.
Durante todo o percurso olha para as árvores onde se encontra o filho e com lagrimas nos olhos, levanta a cabeça e súplica: “Por favor, dê uma chance a ele. Por favor, só peço que de uma chance a ele.”
Aquela mãe clama para os céus, ela já não tem mais crenças, nasceu, cresceu e vive no sofrimento, mas pede a vida uma chance para o seu filho.