EU E LORENZO, OS CAÇADORES DE LOBISOMEM

EU E LORENZO, OS CAÇADORES DE LOBISOMEM

Manoel Belarmino

Toda vez que vou à casa da família do menino Lorenzo, no Jacaré-Curituba, ele me diz que numas moitas fechadas de mamonas e outros arbustos ali próximo das plantações tem um bicho lobisomem escondido. De tanto ele me dizer isso, toda vez que vou à sua casa tenho de ir com ele caçar o bicho lobisomem.

Já é a terceira vez que eu e Lorenzo andamos pelas estradas dos lotes caçando Lobisomem. E dessa vez fui eu, Cecília e Lorenzo, o menino caçador de Lobisomem.

Aí eu perguntei:

- Lorenzo, você tem certeza que viu um bicho lobisomem aqui nestas moitas?

E ele respondeu:

- Vi! O lobisomem é grande, preto, cabeludo, cabeçudo, tem um rabo feio e os "zóio vermeio". Vamos caçar um pouquinho mais que a gente pega o bicho.

E lá vamos nós procurando o bicho, olhando prum lado e olhando pro outro, observando as moitas... Nada. Nenhum bicho ali. Nem um rabau aparece ali. Nem saruê, nem raposa, nem furão, nem uma cambambá. Nada. Nenhum bicho ali. Nem uma pegada de lobisomem. Nem o fedor de lobisomem restou naquelas moitas de beira de caminho.

Lorenzo ainda não sabe que os mais velhos juram que o lobisomem existe. E que, segundo a lenda contada e recontada pelos mais velhos, um homem que vira lobisomem pode ser até um vizinho ou morar nas redondezas. Dizem que quando um casal tem sete filhos homens, o mais velho tem de batizar o mais novo, o sétimo. Porque, se isso não acontecer, o filho mais novo, o sétimo, depois dos 18 anos passa a virar lobisomem nas noites de sexta-feira, quando a Lua é crescente ou cheia. Há alguns anos, antes das políticas de apoio ao planejamento familiar e do controle de natalidade, era muito comum as famílias terem sete filhos ou mais e algumas passavam dos quatorze filhos. Naquele tempo havia mais lobisomem. As famílias que tinham quatorze filhos homem corriam o risco de ter até dois lobisomem na família, se não seguissem o ritual da lenda de o filho mais velho batizar o sétimo ou oitavo batizar o décimo quarto. Diz ainda a lenda que, na última hora da noite, antes da madrugada, o lobisomem percorre sete vilas, assustando e assombrando pessoas. Disso, o Lorenzo, o menino caçador de lobisomem, ainda não sabe direito. Mas logo saberá de tudo sobre lobisomem. Lorenzo tem um tino de pesquisador. Pergunta sobre tudo. Quer saber tudo de lobisomem.

Não sei de nada. Não sei se o bicho lobisomem existe mesmo de verdade ou se é lenda. Não sei. Mas um coisa é certa: eu e Lorenzo já somos caçadores de lendas.

- Vamos adiante, Lorenzo! É fazendo que se aprende.

Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 21/01/2021
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