O Rei Corvo - Império

A visão do Rei Corvo diante do Império, depois de atravessar a Floresta Pulsovívida, dentre as calçadas de pedra e cascalho, as casas desenhadas em pedra e, ao fundo, o centro de mármore da capital. Dentre os trabalhadores do amanhecer, as pessoas colocando suas mercadorias na praça do comércio, confeiteiros, padeiros, floriculturas, todos dispostos a começar mais um dia de labuta, enquanto o Rei Corvo passava em suas vezes límpidas de penas negras, mesmo após algumas demonstrações de poder e soberania, mantinham-se limpas.

Porém, a escolta que lhe servia até o reinado, armados de armas de prata e aço, armaduras talhadas com fios dourados e capacetes fechados, em que somente brilhavam as írises dos soldados. Ele seguia sem colocar a mão na bainha de sua espada, tampouco mostrou hostilidade com suas garras e olhos azuis noite, somente seguia seu caminho, em que chamava atenção as pessoas comuns que trocavam olhares com ele, marchando rumo até o castelo imperial.

Subitamente, a calçada asfáltica encontrou suas grevas, ao adentrar em território nobre, todas as casas e construções tomaram formas e estruturas divergentes das pessoas que compunham o reino, ele, manteve seus olhos de forma que o brilho do sol não poderia alcançar o azul bebê da sua alma. Na porta, os salões cheios de brasões e armas, os guardas mantendo suas posições com escudos pesados, as espadas afiadas só com o olhar, e no trono, após um longo corredor, estava o rei, que se notava mais coroa que homem, enquanto o caminho para a saída era fechado por seus guardas reais.

Seus ouvidos queimavam em vermelho claro, ouvindo os sons que ninguém poderia ouvir, o fluxo do inevitável perambulava dentre os salões, o ódio pairava entre suas dragonas, as penas delicadamente se sustentavam em posição agressiva, mas hora nenhuma procurou alcançar a violência, muito menos mostrar seu título de Rei, apenas, deixou com que o Imperador o sentenciava a decapitação, enquanto o carrasco arrastava seu machado pela pedra de amolar, criando fagulhas dentre o chão do castelo.

Notoriamente o palanque em céu aberto já esperava o Rei Corvo pelo destino que o Imperador havia traçado, a floresta ao longe, chorava com as decisões monocráticas de uma supremacia inalcançável, tampouco as pessoas poderiam questionar o porquê do Rei Corvo está sendo sentenciado a morte, somente poderiam assistir os nobres embriagados com o vinho glorificando o Imperador com a morte de um soberano da natureza.

O Rei Corvo ofereceu sua capa a senhora em cima do palco, colocando sua espada nas mãos enrugadas e trabalhadoras, ofereceu também seus joelhos ao chão de madeira, os cabelos negros tampavam suas bochechas, a mecha branca acumulava com os cabelos da franja, as penas ouriçavam na capa, mas nada quis oferecer a violência. Com o barulho do machado ao vento do meio-dia, sentiu o machado de seu algoz bater contra sua garganta, mas não havia sofrimento, tampouco sangue contra a madeira seca, sua cabeça não voara ao público, nem houve gritos de satisfação, o próprio machado não passava por sua garganta.

No tempo que o impacto do ter ricocheteado o golpe de volta ao executor, que cambaleou uma das pernas por não entender por que seu chamado mais afiado não atravessou seu pescoço, o Rei Corvo começou a pensar. Pensava o quanto aquilo era um destino predestinado pelo próprio Imperador, uma sentença injusta com um reino que lhe ofereceu escudo e arma, lutou guerras sendo seu irmão de batalha, que honrou com acordos entre o Império e o Reinado Cerúleo, não entendia qual o sabor do vinho que era o símbolo de amizade entre as pessoas na boca de nobres que enchiam suas barrigas enquanto pessoas trabalhavam para sustentar suas famílias.

Levantou uma das pernas para se apoiar para levantar, enquanto o executor desferia novos golpes com o machado afiadíssimo na sua nuca, pegando o machado, ele demonstrou fúria com seus olhos agora vermelhos como uma cereja no seu dia mais doce, segurando a arma com as duas mãos, cortou o algoz do umbigo ao ombro, finalmente saciando a sede do carvalho pelo espetáculo que deveria produzir, o Imperador ficou pálido ao ver que o seu executor executado, os nobres desesperavam deixando suas taças e garrafas caírem ao chão, os plebeus não se mexeram, paralisados por uma força esmagadora diante deles, mas, o Rei Corvo, com sangue real, com a soberania que uma vez exerceu, não estava atrás de massacre, mas de justiça, ignorava todos aqueles que sorriram e abanaram suas mãos no momento que passava pela cidade.

Ele se desfez do machado, cravando-o no chão de pedra, enquanto vestia novamente sua capa e colocava sua espada na cintura, num pulo, ele fez suas asas tamparem o Sol que brilhava sobre a coroa real, os raios de sol eram direcionados para sua lâmina agora em cima de sua cabeça, preparando para desferir um golpe contra o traidor, nenhum soldado poderia segurar a fúria de seus golpes, todos eram sangrados pelas suas garras ao tentar desviar sua ira contra o Imperador. Por mais que gostava dos dias de paz, ele sempre foi criado para as vidas de guerra. Antes mesmo que pudesse acertar o golpe, as espadas brandidas contra sua armadura se despedaçavam no golpe, os escudos eram quebrados pelas grevas pesadas, sua espada, atravessava o sangue azul.

O Imperador, não respirava, nem conseguiu amaldiçoar seu assassino, pelo sangue que engasgava as palavras.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 16/01/2021
Código do texto: T7161505
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