Conto das terças-feiras – Desfazendo uma história mal contada
Gilberto Carvalho Pereira, Fortaleza, CE, 15 de dezembro de 2020
Há muito tempo que a Amazônia Brasileira vem sendo cobiçada por estrangeiros. Uma das primeiras investidas contra o seu patrimônio foi dos Ingleses, na busca de espécies florestais para estudo e as de valor econômico, para a produção de remédios e produtos outros. Foi com a Hevea brasiliensis, árvore da família das Euphorbiaceae, comumente conhecida como seringueira ou árvore da borracha, que esse interesse cresceu.
A seringueira é uma árvore originária da bacia hidrográfica do Rio Amazonas, onde existia em abundância e com exclusividade, características que geraram o extrativismo, época de muita riqueza para aquela região. A partir de 1827 o Brasil iniciou a exportação de borracha natural, cujo uso como matéria-prima para a indústria se generalizou.
Alguns nordestinos migraram para a região, para atuar como seringueiros, tendo o aumento da exploração da seringueira, contribuído para o crescimento demográfico da região, pela imigração. Em 1830, a população de Manaus era de 3.000 habitantes, passando a 50.000 habitantes em 1880. Uma das expressões da riqueza gerada pela borracha é o suntuoso Teatro Amazonas, construído em 1896. Em 1906, o Brasil exportava mais de 80 mil toneladas de látex para o mundo.
Essa pujança proporcionou o aparecimento da biopirataria, encetada pelos ingleses. Já a partir de 1875, algumas sementes da seringueira foram levadas para Londres, para estudos e propagação, o que aconteceu no Sudeste Asiático, tirando a hegemonia do Brasil, nesse campo.
Entre os Nordestinos que enfrentaram essa jornada na Amazônia, encontrava-se Francisco José, mais conhecido por Chico Zé, de 25 anos de idade, disposto a enfrentar o árduo trabalho como seringueiro pelos minguados trocados que lhe rendiam. Embrenhado floresta adentro, ele conseguia amealhar bons trocados, não gastava quase nada, pois montara acampamento na própria mata, uma tenda de folhas e galhos acima do chão, para não ser atacado por animais. Era aí onde ele passava a noite, quase não dormia, e logo que clareava, saía para fazer a sangria do leite da bendita árvore. O coletor do produto já coagulado aparecia nas quinzenas.
Em uma de suas entradas pela floresta, para escolher árvores a sangrar, encontrou uma moça que parecia perdida. Tentou comunicar-se com ela, que não entendia nada. Era uma botânica inglesa que pesquisava plantas de valor econômico. Distraídos, os dois acabaram se perdendo, o cearense não encontrou mais o caminho de volta para a sua tenda. Passaram muitos dias juntos, comiam do que conseguiam da floresta, ficaram íntimos e a moça, depois de dois anos tivera um filho, um bebê forte e saudável. Só que os pais pegaram malária e morreram, ficando a criança sozinha.
A partir daqui surge a verdadeira história do Tarzan. A criança cresceu na Floresta Amazônica, foi amamentada por uma macaca e cuidada por animais. Sua relação com esses bichos era amistosa e, por ter sobrevivido desde criança na floresta, o garoto adquiriu a faculdade de apreender por meio dos sentidos ou da mente. Suas habilidades físicas eram superiores às de atletas do mundo civilizado.
Uma expedição científica americana, interessada em pesquisar a floresta amazônica, encontrou essa figura extraordinária que acabou sendo levada para os Estados Unidos, como troféu de caça. O escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs, que conheceu esse personagem e sua história, publicou-a em formato de livro, em 1914.
O grande erro de Edgar Rice foi não reconhecer a procedência do garoto, filho de um cearense com uma inglesa e, ainda, afirmar que Tarzan vivera na selva africana, local de criaturas estranhas e de civilizações perdidas, e ser filho de um lorde inglês. Há indicativos de que esse escritor nunca estivera na África.
Nos Estados Unidos, o Tarzan, nome dado pelos americanos, se encantou por uma bela loura de nome Jane, e, juntos, foram viver na Floresta Amazônica, por ele não ter se adaptado à civilização.
Segundo contam integrantes de tribos da Amazônia (dados não confirmados), Tarzan e Jane viveram durante muito tempo na selva brasileira, mas, infectados pela fêmea do mosquito Anopheles, comumente chamado mosquito-prego no Brasil, adquiriram a malária e vieram a falecer poucos anos depois. Suas façanhas correram o mundo: filmes, livros, revistas em quadrinho e em jornais, eternizaram o casal.