O Guerreiro...Parte 30.

Carlos demorou uns segundo para responder...

- Lembra quando tua madre fazia as viagens para a fronteira para fazer as cobranças para a empressa do teu paí e ficava na casa de parentes que moravam no Brasil e a festa que teu pai promovia quando ela retornava.

Os churrascos promovidos pelo teu pai eram legais e inesqueviveis...

E quando retornava ela sempre falava em português e assim manifestava o seu desejo de morar algum dia no Brasil e falava que a alegria do povo brasileiro era contagiante.

A partir de aquelas lembranças comecei a investigar sigilosamente e contatei meu avô para que ele também te procurasse e quando tivesse noticias me informasse...

Quando você chegou a estas terras em pouco tempo já tinha noticias tuas e sabendo do teu paradeiro esperei o melhor momento para contactar contigo.

Fui comunicado que você estava em Capitão Bado e para minha tranquilidade a proteção do meu avô começa a partir de aí.

Julian qualquer coisa que você quiser e só pedir para meu avô...

Me despedi de Carlos e só voltaria a encontrar-lo cinco anos depois em circunstancias totalmente diferentes.

Depois de aquele encontro começamos a tirar madeira do monte e negociar com as serrarias da região.

E especialmente com as serrarias do Brasil que pagavam os melhores preços e as vezes pela necessidade e pelo melhor preço vendiamos para o outro lado.

Tinha que contrabandear e para isso precisava entrar no esquema do velho coronel Pereira Colmám Gaona.

A proteção e os contatos corriam pela sua conta e nunca ferrou nenhum carregamento.

E pensei e novamente constatei que com o dinheiro tudo era possível.

Só que ele ficava com 20% do meu produto, mas mesmo assim tinhamos um bom lucro.

E parte de esses lucros enviávamos para minha mãe e irmã para que elas administrassem e outra constação o dinheiro na mão das mulheres duravam e rendiam mais.

Trocavam o nosso dinheiro por dólares nas casas de cambio que abundavam por aqui em Pedro Juan Caballero no Paraguai.

Como se fosse uma poupança que nos daria um bom dividendo no futuro.

Durante dois anos fomos tocando o negocio da madeira.

E quando vimos que aquilo estava ficando para atrás...Convocámos a familia.

Minha família foi reunida para discutir o rumo de nossas vidas.

Minha mãe foi veemente naquele dia e fiquei surpreso.

Ela foi dizendo quase berrando...

" Não paguei os melhores colégios para ver meus filhos de esta maneira"...

Voltamos imediatamente para Ponta Porã.

Meu irmão caçula concluiria seus estudos e depois veriamos uma faculdade para ele.

Nancy, minha irmã continuaria trabalhando na multinacional e meu pai que era um excelente administrador contável numa firma de um rico fazendeiro e quando chegou a minha vez... E você Julian a pesar da faculdade não concluída...

E ela parou e fazendo uma longa pausa e procurando a palavra certa e talvez para não ferir meus sentimentos disse...Você e um cara culto, instruído e quando melhorar as coisas você voltará para concluir seus estudos!!!

Ouvi a minha mãe falando com tanta firmeza e me convenci que o melhor caminho ou o melhor a fazer era voltar para Ponta Porã e esperar...

Depois de nosso encontro familiar em dezembro de 1977 resolvemos vender os caminhões e as terras que tínhamos e para nossa surpresa foi o próprio Coronel que comprou tudo...

Depois como sempre lançando sua filosofia particularíssima nos falava...

- Vão embora tranquilos porque estás terras são hostis, chucra, perigosa e maravilhosa!!!!

Mas agradeçam aos Deuses...Vocês conseguiram sobreviver!!!!

Levaram consigo uma experiência que jamais alguém pensaria em ter.

E concordei com o Coronel com tudo que estava falando e assim deixamos Capitão Bado outra cidade fronteiriça que desbravamos e estávamos indo embora.

A faixa de fronteira seca que por vias tortas irmanava Capitão Bado no Paraguai e Coronel Sapucaia no Brasil.

Mas o fato mais marcante para mim foi quando salvei a vida de Juan José e era um quadro que nunca esqueceria.

Ele jogado no chão...Ferido a bala e perdendo muita sangue...Eu o socorri e o levei ao hospital.

E ali encontrei o médico totalmente bêbado e a enfermeira totalmente sonolenta, mas quando acordou foi de uma eficiência angelical.

Graças a eficiência da minha parceira e como não podia esperar por nada e por ninguém.

Decidi fazer a cirurgia para tentar salvar a vida do infeliz...Eu era sua única chance.

Meu pai e irmão tentaram recuperar o médico com litros de café e a tentativa não teve sucesso e não podia esperar mais.

Devia agir e seguindo meus instintos...Era uma vida em risco e não podia esperar.

E devia agradecer a Deus e a meus conhecimentos médicos, pois estes fatores me ajudaram a salvar a vida do caboclo.

Consegui retirar a bala, estanquei o sangue, mas como havia perdido muito sangue e arriscando a vida dele fiz uma transfusão e eu próprio fui o doador porque sabia que era um doador universal...

Esperei pela recuperação do meu paciente e quando recuperando a consciência escutei balbuciando o seguinte...

" Doutor no lugar que o Senhor estiver e só chamar que eu estarei a seu lado para o que der e vier" e voltou a fechar os olhos.

Eu sorri para ele e falei...Amigo, eu não sou doutor eu não terminei o curso!!!!

Tive a grande sorte de haver cursado medicina.

Não conclui o curso, mas para salvar sua vida os conhecimentos que adquiri valeram a pena e lhe salvei a vida...

Voltou a abrir a os olhos e olhou para mim sem entender nada e era bom assim!!! Voltou a adormecer.

Antes de apagar de novo perguntou...Qual é a sua graça?

E Eu respondi Julian Adolfo Martínez!!!

Quando me dei conta de mim já estávamos rumo a Ponta Porã e olhei por última vez para a cidade da qual estava levando lembranças boas e ruins da minha passagem por esta cidade perdida no mapa.

Localizada literalmente no fim do mundo e quase esquecida por Deus!!!

Mas filosofando comigo mesmo ou seria "Ele" que me havia colocado ali????...

Os caminhos de Deus são inúmeros e fiquei na dúvida e na divida com "Ele"...

Ricardo Sol
Enviado por Ricardo Sol em 30/11/2020
Reeditado em 06/05/2024
Código do texto: T7124313
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