Foto by Maurélio : Parte da Represa Volta Grande,SC
A PESCARIA
O Dilão sempre foi um grande amigo (bonachão, falastrão, simpático, 1,98 m e cerca de 145 kg de puro humor).
De vez em quando reuníamos a tribo (um punhado de companheiros do clube do bolinha) e acampávamos numa represa situada em um município vizinho.
Quando a caravana partia o Polaco entoava o sarcástico grito: “VIVA A LIBERDADE!”
“Nóis num era fracus, não...”
Tudo programado: barracas, tralhas de pescaria, barco a motor, móveis de camping, gerador, ventiladores, churrasqueira, etc...
Geralmente permanecíamos por três dias acampados na Represa Volta Grande,SC, lugar agradável onde a natureza mostra toda a sua grandiosidade.
Uma cambada que me traz boas recordações: Pé-de-pombo, Ito, Postai, Malão, Pauli, Capeta, Cãnha, Pscheitão, Bodinho, Jaraguá, Schuminha, Gruba, Julinho, Pixinga, Zé, Gordo, Polaco, Dilão e tantos mais...
Claro que, nem sempre todos faziam parte de todas as pescarias.
Perdoem, deixei-me levar por lembranças, lucubrações que não chegam ao final.
Retomando.
Quando o sol ensaiava o seu dormitar, ao final da tarde, acendíamos fogueiras, preparávamos a churrasqueira e deixávamos o papo rolar.
Caipirinha, uma caninha pura (um tanto pro santo), cerveja gelada, petiscos e muita conversa fiada madrugada afora...
Num destes bate-papos o Pauli soberbamente confidenciou:
- Armei meu molinete novo na ponta da ilha, não vai “tê prá ninguém, vou ferrar o maior chinelão” (Acará)
Foi tal e qual um chamado do além, das profundezas do mal...
Traquinagens à vista.
Sorrateiramente, o Cãnha, Pé-de-pombo, Dilão e eu, localizamos a vara armada (molinete), recolhemos a linha, retiramos a isca, e, em seu lugar iscamos o “chinelo-de-dedo” do Pauli ( a “dedeira” era de tamanho 45, tala larga) e lançamos de volta à represa.
A manhã se apresentou cheia de luz, ventos suaves, muitos pássaros a gorjear...nós ainda cambaleantes e “ressaqueados” ansiávamos por um café.
O Polaco e o Postai, cozinheiros de plantão já haviam preparado a mesa, café com leite, ovos fritos com “baicon”, panqueca, chouriço, manteiga, salame, bolinhos e pão.
Quase refeitos dos exageros da noitada, partimos para examinar o resultado da pescaria.
Redes e linhas puxadas...
Mandis, Acarás, Bagres, Traíras, Jundiás, Pacus, Cascudos, Tilápias e Lambaris...
Grandiosa e farta pescaria!
O Pauli, olhando com certo menosprezo e sarcástico afirmava: - “Vou recolher a linha, o meu peixe com certeza será o maior!!!”
Todos ocorreram ao local.
Foi puxando lentamente, seus olhos brilhavam, uma pontinha de suor em sua testa avermelhada...
Havia algo muito grande preso ao anzol... Será?
Recolheu. ... silêncio invernal.
- Quem foi o desgraçado do F.D.P. que me sacaneou ?
Na ponta do anzol, fisgado, o baita chinelão de dedo.
Sombras rondavam o acampamento, ouviam-se trovões, os raios faiscavam o horizonte.
O tempo fechara. Nuvens negras...mau humor.
Não contivemos as gargalhadas...
E FOI ASSIM QUE A BRIGA COMEÇOU.