ESTE ARAGUAIA 09

     Marta foi rápido ao banheiro, e ao voltar sentou-se numa cadeira em mesa isolada, cheguei ao refeitório e fui me servir, ela veio também e nos servimos juntos com ela me perguntado se a carne era de pato de casa ou selvagem, eu não sabia e perguntei-lhe qual a diferença? Ela respondeu carne de casa é mais sadia não? – Respondi, depende, criado em granjas pode até ser, mas aqui, comem tudo o que acham e os selvagens tem uma alimentação balanceada e sem os nossos vícios e remédios e todo tipo de coisas que usamos. Ela concordou e pegou uma asa dizendo: - vou acreditar. Sentamos na mesma mesa e ela não parou de falar, depois saímos para a varanda e a lua no primeiro dia caminhando para cheia estava aparecendo linda e cativante. Despedimos-nos e eu disse que hoje iria fazer serenata para lua e tomar umas biritas.

     Depois da higiene peguei o violão e a viola, o litro de pinga novo, já que o outro tinha acabado e fui me sentar no banco de madeira, bem longe da habitação e perto das redes, menos de cinco minutos Marta veio, sentou-se bem pertinho de mim, eu estava com a viola e tinha riscado o dedo nas cordas que era uma viola barata, mas de som maravilhoso, ela elogiou o som e praticamente deitou-se no meu ombro dizendo: - como é lindo este instrumento, então esta que é viola caipira? – É sim respondi, este é o que nos faz companhia, “os caipiras como eu” nas horas tristes, alegres e de solidão... Ela recostada em mim passou o dedo nas cordas e disse: - me ensina? É tão gostoso! (Pensei com meus botões:)( – acho melhor ensinar o Leo que não me deixa sossegado, do que ensinar esta aí que é capaz de ouvir só piano em casa nem sei como o Leo não apareceu ainda. Pensei nisto acho que de certa forma desejando por mais companhias... O velho Leão estaria com medo de mulher? Lembrei-me de Eloi e sorri se estivesse ali ai de mim. Toquei e cantei uma música que fiz recentemente e se chama “ Bom dia Amor”, quando terminei ela suspirou e disse - linda é sua? Respondi que sim e voltei a pontear a viola.

     Ela levantou o rosto devagar, parece que saboreando aquilo, um perfume discreto e suave entrou pelo meu nariz, não gosto de perfumes, mas aquele era agradável, me deixou meio mole, ela encostou o rosto e seus cabelos bem cuidados roçou minha cabeça, aproximou os lábios queimando do meu rosto e não beijou, só encostou e foi descendo em direção à minha boca, ai, ai o meu amigo de baixo se manifestou no mesmo instante, apertei o safado com a viola, e xinguei no pensamento: )( - seu metido, vai se entregando assim sem mais nem menos? Nem conhece a vamp! – Ela ia me tacar o beiço, eu com reações meio apagadas, se fosse em outros tempos eu já a tinha arrastado para o canto mais escuro sob as árvores e crau.

     Nisto ouvimos um raspar de garganta e vimos Joel e Lena se aproximando, ela fez que nem namorada quando o pai pega no pulo, afastou-se rápido. Joel já veio falando: - bonito o som da viola, a Lena queria ouvir de perto, tem problema? De jeito nenhum, comecei a pontear a viola e daí a pouco os três pescadores que chegaram vieram para o local trazendo um isopor com cervejas já meio altos, das que tomaram na pescaria. – Nilton o careca perguntou se podiam se juntar a nós, - claro respondi e se souber cantar musica caipira melhor ainda, Jorge respondeu - eu sei puxe aí, viu o litro de Rosa Mineira e emendou, posso molhar a palavra primeiro? À vontade respondi é pra tomar mesmo, Lena disse também quero e Marta falou: - se Lena tomar eu também tomo, Lena encheu o copinho e virou encheu de novo e passou para Marta que não se fez de rogada virou de uma vez, eu brinquei riscando na viola e cantei: - cantador quer beber. Aí me deram um copinho, virei à moda dos outros e passei o copo para o Joel.

     Acho que naquela noite os bichos estranharam tanta cantoria, o Nilton era o mais farrista e como tocava o violão, acompanhava todas as musicas que pedíamos, saiu desde musicas modernas, como caipira e as modas antigas de Nelson Gonçalves e eu até me arrisquei a cantar uma música do Vicente Celestino e depois pegando o violão cantei malaguenha, saiu até bem, mais de meia noite e ninguém arredou o pé de lá, Neusa, novinha, mas danadinha de menina da voz linda, Moacir e o pequeno Leo também se juntaram na farra. Leo acabou dormindo no colo de Joel que carinhoso o embalava nas pernas, momentos para não se esquecer nunca mais a imagem.

     Por fim todos acharam que era hora de ir para o ninho, os pescadores e Moacir saíram na frente, às mulheres seguiram em seguida e eu carregando viola e violão e Joel carregando o garoto e o litro de cachaça que estava quase vazio fomos atrás, Joel me falou: - e aí Miro, não vai aproveitar que esta morena esta coçando a perseguida? – Eu disse: - não Joel estou desatualizado e depois ela vai embora amanhã. - Do jeito que ela tá é só você pedir que ela ficará aqui, antes de você chegar ela não estava nem falando com ninguém, levantava dava umas voltas de manhã, almoçava se esticava na rede e a tarde dava mais umas voltas e ia dormir cedo, depois que viu o Mirão, não sai mais do seu pé. Fale com ela pra ficar sô. Eu respondi: - não Joel nunca forço ninguém a nada, cada um que tome suas decisões, neste ponto é cada um por si e Deus por todos. Ele falou e repetiu: - é tá certo, tá certo mesmo.

     Aproveitei para desviar o assunto e perguntei: - Joel, estamos na piracema e este três aí pegaram uma tonelada de peixes, como vão levar? – Ele respondeu: - Miro, estes três são comerciantes em Aruana, não vende nem um peixe, comem tudo em churrascos com os amigos, eles vem quatro vezes por ano às vezes mais... Perguntei e a fiscalização? – Que nada Miro, eles chamam até os micótes para beber e comer nos churrascos deles, o caminho para eles é livre. Eu disse: podia levar meu dourado, qualquer coisa eu falava que quem pescou foi o boto, ele emendou, e não vai levar? Já tá no ponto, tirei a barrigada dele e dos outros e vou colocar num isopor pra você, - mas e a fiscalização? - Não tem problema eu aqui posso dar nota de vendas até dezembro, como sendo peixes pegos antes da piracema, - não sei Joel respondi, vamos ver, mas eu nem vim para pescar, só queria ver mato e rio. Você quem sabe, se deixar aqui vou vender e aqui é trinta e cinco reais o quilo de dourado, pois é proibida a pesca, - então como vai vender? - Eu também sei os caminhos, dourado de mais de oito quilos, dá para eu fazer a compra pra dois meses, eu disse: então pode vender, não vou levar.

     Despedimos-nos, guardei as coisas e fui tomar um banho, voltei ao quarto e me deitei pelado, a temperatura estava agradável, Deixei os pensamentos soltos e talvez por efeito do álcool que tinha tomado, não muito, mas o suficiente para alterar a química, eu me estiquei na cama e comecei a pensar nela, nos últimos dias de felicidade constante e nas muitas vezes que nos amamos, com a loucura de adultos parecendo adolescentes e sem um porque convincente acabou, simplesmente acabou, pensei nos seus lábios médios e que ela fazia ficar ardentes quando entrava no cio, neste instante fui interrompido, pois, bateram delicadamente à porta, pensei e agora o que será? Peguei a toalha de banho que estava sobre a cadeira enrolei na cintura e fui abrir a porta. Abri e ela a linda Marta entrou rápido fechando a porta atrás de si girando a chave, Com uma camisolinha transparente acima dos joelhos uma calcina de cor vermelha com florzinhas cor de rosas e sutiã da cor da calcinha visão de fazer anjo virar demônio. Como uma fera me abraçou e começou a me beijar com tanta fúria que: bem, apaguei a luz e...

     Dormi muito pouco, pra variar; Quando acordei tinha sobre meu quadril uma coxa morena e linda, pensei: )( - esta mulher... Não deu tempo de terminar o pensamento, ela acordou, perguntou as horas eu respondi são seis e dez! Pois, a danada me agarrou de novo e lá fomos nós, seis e quarenta ela falou tenho de correr, ela se levantou vestiu a calcinha vermelha com florzinhas rosa e abriu a porta devagar, depois deu uma olhada para ver se não tinha gente no corredor, fechou de novo voltou e me agarrou me enchendo de beijos e se foi de vez.

     (Há Leão James Bond hem gente, êta nóis, pescada é assim: tem de saber contar mentiras).

     Tive de tomar um banho para tirar a inháca, me vesti e fui para a cozinha, ela tinha acabado de sentar-se, eu desta vez não esperei ela me convidar e me sentei na mesma mesa que ela. Também, não podia ser diferente. Após o café ela se despediu de todos, Moacir já tinha colocado as malas dela na Rilux, quando se despediu de mim, não se esqueceu de me recomendar para ligar pra ela na hora que eu chegasse em Goiânia para ela ir ao aeroporto, prometi que o faria e ela toda sestrosa entrou no carrão ainda recebendo a recomendação do Joel de como passar no riacho sem problemas, ela deu um último olhar para mim e fez um biquinho e levando a mão a boca me soprou um beijo. Joel olhou para mim e disse: - Se deu bem em seu Miro. Apenas ri; O que eu podia fazer mais?

     Os três pescadores se despediram e me convidaram para visitá-los em Aruana, aceitei para outra vez que voltar lá, pois, desta vez não ia dar. Foram embora, não posso dizer que meus amigos, mas companheiros de pescaria. Após o almoço o casal Eduardo e Elaine também se despediram e Elaine me abraçou carinhosamente agradecendo pela noite do violão e me deu um selinho, achei legal, nunca tinha ganhado um selinho antes. Eduardo também se despediu cordialmente, mas fiquei de olho, vai que ele cisma de me dar selinho também, eu heim? To fora.

"HOMEM"

Valdemiro Mendonça

Vais matando o rio ferindo o mar,

Jogando no leito a sujeira fedida,

Vais obrigando ao rio a carregar

Toda tua podridão sempre varrida!

Tuas doenças de um animal louco,

Que vai matando pouco a pouco...

Tudo aquilo sadio e que te da vida.

O rio rola manso sobre as terras,

Para levar a pureza da fertilidade!

Vai contornando todas as serras

E passando por dentro da cidade!

Vai descendo veloz a corredeira

Despenca no salto da cachoeira,

No seu lindo voo para a liberdade.

Porque tu não permites ao rio viver

Sem tirar da margem o seu verde?

Para que assim não o vejas morrer

Ante o teu machado e a tua rede!

Matas o verde macula as águas...

E no fim as suas próprias mágoas,

Não conseguirão matar a tua sede.

O rio num estrondoso mergulho,

Salta a cachoeiras a ribombar!

Grita chora e faz muito barulho,

Que vai se espalhando pelo ar...

O grito é um pedido de socorro,

Não me mates, eu mesmo morro...

Quando me atiro dentro do mar.

Tu ó “homem” herdastes a terra,

Defenda-a, pois, da destruição.

Faça amor não faças a guerra...

O Teu orgulho e a tua ambição,

Vão terminar com a tua morte...

Então porque não mudas a sorte,

Dos humanos que um dia virão?

O mar com a onda que arrebenta,

Da - nos de graça, um belo porvir!

Separa da água a parte fedorenta,

E ela gasosa se evapora, para subir.

E volta cristalina, cheia de pureza,

Um processo milagroso da natureza,

Que nós “homens”, queremos destruir.

Trovador

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 10/09/2020
Código do texto: T7059590
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