CORRE TATÁ, OLHA A COBRA!
Autor – Flavio Alves
“Corre Tatá, olha a cobra!” Era essa frase que aquele garoto de nove anos de idade escutava todos os dias, e já ia aquela figurinha esquálida procurar algum lugar pra se esconder, pra não ter que escutar aquela maldita frase novamente. Seu Erasmo era o nome do meu pai, mas muita gente só o chamava de Erarme, e eu, nem o chamava de Erasmo, nem Erarme, ou de pai. Tatá era como eu o chamava. Havia um menino chato, da mesma idade que eu, que batia na minha porta e dizia. Seu Tatá, tá? Eu respondia não, e ele falava, eu pensei que seu Tatá estava, mas como seu Tatá não está, eu vou embora, tá? Eu ficava indignado com aquela brincadeira chata, e tudo aquilo porque eu não chamava Tatá de pai. Mas voltando a falar da maldita frase, “corre Tatá, olha a cobra!” Na realidade, quem falava essa frase era o amigo de Tatá, chamado Antônio Donzelo, era um homem branco, olhos claros, com 1,70 de altura. Uma vez, nós fomos botar armadilhas de latas de óleo no mangue, para capturar guaiamuns e também caranguejos, esse dia era uma tarde ensolarada de um mês de fevereiro, onde dois dias antes, choveu bastante e trovejou, por isso se via bastante tanajuras voando. Durante a caminhada ao mangue, eu me divertia, derrubando as tanajuras com minha camisa velha, e quando eu retornava para casa, eu levava comigo uma lata de leite glória cheia de tanajuras. Botamos as armadilhas pelo mangue, e sentamos em baixo de pé de azeitona, o qual estava carregado, eu aproveitei o momento, subi na árvore e colhi bastantes frutas. E à noite, eu ia escutar meus tios lendo cordel sob o clarão da lua, comento tanajura assada e chupando azeitonas. E quando nós estávamos descansando, ouvia-se o barulho das latas de óleo se fechando, era nossas armadilhas, e quando íamos recolher os guaiamuns e os caranguejos, eles estavam presos. Foi aí que surgiu aquela maldita cobra nadando sobre as águas de um riacho, indo em direção a um ninho, que estava cheio de ovos. Com muito medo quis sair dali correndo. Foi quando gritei: “corre Tatá, olha a cobra!” Pegamos todos os nossos pertences e retornamos para nossas casas. Foi daí então, que toda vez que Antônio Donzelo me via, gritava “corre Tatá, olha a cobra!”