ESTE ARAGUAIA 07

     

(NO MEU MUNDO)

Acordei na manhã seguinte com a algazarra dos três pescadores que só falavam alto e rindo, se preparando para sair e pescar eu tentei ver às horas, meu celular estava apagado. Vesti-me rindo de como dormira, “Pelado que nem Adão” na verdade talvez tenha ajudado, estava me sentindo bem descansado e animado com o dia que já estava fazendo calor. Fui ao banheiro e esvaziei a bexiga, depois lavei o rosto e bochechei água para tirar o gosto do sono, mania de peão de trecho, só escovar os dentes após a primeira refeição do dia, eu olhei minha cara feia no espelho, não estava tão feia, mas alguns fios de barba brancos misturados com amarelo estavam salientes mesmo assim tomar café primeiro seria uma boa pedida.

     Fui dali direto para a cozinha e não havia ninguém lá, olhei sobre o fogão, o bule de café estava cheio, nisto entrou a menina loura filha do Joel, sem mais “seu” Joel, afinal ele era mais novo do que eu - sente-se seu Miro, vou lhe servir o café para você, ri pra dentro do jeito simples dela falar, “me chama de seu e depois de você”. – Bom dia Neusa, para mim não precisa muita coisa, de manhã geralmente só tomo um cafezinho, ela como se tivesse cometido uma gafe disse: - desculpe nem lhe dei bom dia, respondi: - sem problemas a culpa é minha por levantar tarde, ela riu e trouxe o café e foi colocando guloseimas na mesa, broa de fubá, bolo, mamão, bananas, leite queijo, aí apelei: - pare Neusa, só vou comer um pedacinho de broa, ela falou - se quiser então você pega aqui, olhei um tanto de coisas cobertas por uma toalha branca e respondi que estava certa.

     Acabei comendo três pedaços de broa, que delícia, comi meio mamão raspado com uma colher, tomei café e comi uma banana, um almoço completo pela manhã. Pensei )( - tenho de me cuidar, estão me achando um sessentão bonitão e se eu me descuido engordo e adeus velhote lindão como diz minha amiga Jeane Diogo. Se bem que ela não diz velhote, pelo contrário diz menino lindão, coisa boa esta menina gente. Aliás, todos do Recanto das letras são pessoas maravilhosas e como diz a poetisa Sonia de Fátima, o recanto é o meu divã onde encontrei estes amigos que eu amo e onde posso escrever meus sonhos e poemas. É! Recanto das letras é isto, um local onde podemos fugir da realidade, abraçar a fantasia e viajar nos pensamentos, tosquiando nuvens como se fossem ovelhas, apagar e ascender o brilhos das estrelas, visitar a lua, nos emocionarmos com a arte dos amigos que passam para o papel suas sensibilidades e sonhos. Onde vivemos nossas verdades e encontramos um lenitivo para as nossas dores, colhemos sonhos e plantamos jardins que vão embelezar nossa mente e perfumar nossa alma e coração.

     Voltei ao quarto peguei os apetrechos de barba e escova de dente e me enfiei no banheiro, por quase meia hora, fiz tudo certinho e calcei meu par de botas katerpillar presente ainda dos meus tempos de peão e que estava nova e gostosa, saí para o pátio, os três pescadores já tinham partido, cumprimentei os presentes e Joel disse: - seu Miro, pedi a ele me chamar só de Miro e esquecer o seu, ele riu e concordou, Miro vamos pescar? Respondi que sim e Marta disse: - vou também, Joel rebateu: - até que enfim, pensei que ia embora sem pescar, ela respondeu: - agora tem companhia, a indireta era para o belo homem louro de olhos azuis e charmoso, ou seja, modestamente “eu”, mas me fingi de mouco e fui pegar minhas traias de pesca que deixara na varanda, ela também pegou uma carretilha e me perguntou se eu tinha muitos anzóis, claro, todos que precisar, perguntou se eu tinha isca artificial respondi e abri a caixa de pesca, pode escolher, ela era entendida, pois pegou a isca certa e disse que ia pegar um tucunaré gigante, ri e Joel disse: - ria não, ela é danada de boa pra pescar eu pensei: deve ser boa pra bem mais do que pescar... “velhote atrevido”! .

No barco estávamos em cinco, Joel seu filho Moacir Leo o garoto que aprontara um fuzuê para ser levado também e conseguiu graças ao meu pedido ao Joel, Marta e eu. Coube sentar-me junto a Marta, não se importava de encostar-se a mim, aliás, parece que às vezes ela forçava esta situação, foi divertido pescamos numa ilhota de pedras muito charmosa e Marta me fez carregá-la até às pedras para não molhar os pés, ainda bem que era magrinha, senão o velho caipira tinha ficado mal, na ilhota ela ficou o tempo todo perto de mim, sentamo-nos em uma elevação de pedra mais alta como um banco tosco de pedra e numa vez que o Joel se aproximou de nós e ela estava distraída com o anzol, ele me deu uma cotovelada e esticou o beiço para o lado dela, minha vontade era rir, mas tive de segurar a barra. Posso estar desatualizado em relação às maravilhosas, mas não esqueci quando uma mulher está jogando charme para cima de um homem, procurei não pensar nisto, não estava muito a fim de meter-me numa aventura com nenhuma mulher, mesmo sendo um pedaço de mau caminho como aquela fêmea que parecia estar no cio.

Quase que para desmentir minhas certezas, ela descansou o braço em cima da minha perna e comentou: - isto aqui já foi muito melhor de peixe, ano passado eu peguei um tucunaré grande nesta ilha e agora nem um beliscão. Falei a guisa de resposta: devo ser eu com meu azar, nunca pesco nada, lá em casa quando venho pescar já acham que só vou pra farra, ela não deixou por menos e chasqueou: - vai ver que pensam na musica, que pescar que nada, vou beijar na boca, riu como gosto e também ri, afinal era para isto que eu estava ali, recuperar meu juízo e minha liberdade de pensamentos livres nos sonhos para fugir da realidade. Não pescamos muito, Moacir é quem salvou o passeio pegando um pacu de mais de três quilos, nós pescamos uns piaus médios e eu fisguei uma arraia pequena, Joel não me deixou tirá-la do anzol, e lidou com o peixe dizendo que se eu tomasse uma ferroada do bicho, ele teria de me levar para o hospital, voltamos na hora do almoço. Os três amigos já tinham almoçado e se desculparam, pois, iam sair de novo e se retiraram, ficamos em quatro no refeitório, já que Joel e os filhos almoçavam na cozinha. Tinha me servido nas panelas em cima do fogão de lenha sentei-me numa das muitas mesas do galpão de refeições.

Logo a seguir Marta serviu-se e perguntou se podia se sentar comigo, claro respondi, por favor, é um prazer, ia bancar o cavalheiro para puxar a cadeira para ela, e a ouvi dizer descansando o prato sobre a mesa: - não se incomode aqui é lugar de pescar, cada um se vira. Sentei-me de novo, e eu caipira que sou, não como educadamente, eu devoro a comida, Tive de me comportar e entre uma garfada e outra eu mais respondia às suas perguntas do que fazia. Fiquei sabendo que ela morava em Goiânia e se ofereceu se voltasse na próxima semana com a filha e o noivo de me trazer um carregador para o celular, agradeci, pois, não funcionava, já que não tinha sinal e depois eu voltaria na terça feira para Belo Horizonte, ela disse: - vai não, se eu voltar não terá ninguém com quem eu conversar aqui, aqueles pescadores ali, fez um sinal com a parte de baixo da boca torcendo graciosamente o bem feito nariz para indicar os três amigos que aprontavam a trais de pesca na varanda e falavam alto contando as brincadeiras das pescarias, são uns grossos, aquele careca veio me cantar dei-lhe uma má resposta ele não se aproximou mais, eu pensei: *Menos mal, que ela não quer ser cantada não estou mais para aventuras e com tanta atenção eu já estava acreditando que ela estava a fim de algum Love, até tinha pensado antes, que na hora que ela se apresentou, eu estava só de short sem camisa e se ela estava interessada é por que os vinte e oito quilos que emagreci tinham me deixado mais para bem do que mal.

Terminamos de almoçar e ainda ficamos conversando um pouco mais até decidirmos nos levantar, ela saiu do restaurante comigo e na varanda continuou conversando e de vez em quando segurava meu braço quando contava alguma coisa meio engraçada, aquilo me estava encucando, perguntou por que eu estava ali sozinho e eu disse: -

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 05/09/2020
Reeditado em 14/12/2021
Código do texto: T7055381
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