217 - O Mosquiteiro
Dormiram todos menos o tio, imune à malária, dizia. Antes de toda a gente se ensardinhar na única cama com mosquiteiro que havia, alguém perguntou o que era a doença e o homem explicou que um tal J. W. Meigen, em 1818, conseguiu identificar o vector do mal que dava pelo bonito nome de Anopheles e era um mosquito fêmea. Se os picasse metia-lhes no sangue o assassino, um protozoário responsável por febres, diarreias, dores de cabeça e náuseas. O resto foi muito bom de viver: de um lado a tia em camisa de dormir, seios fartos, papelotes e touca e do outro a prima, já espigadota, curiosa para saber tudo dele. Das partes principais aos anexos. Sem se comprometer está bem de ver. E ficaram muito tempo a tomar balanço, a escutar os zumbidos do lado de lá do tule. Quando lhe percebeu o bafo mais próximo, virou a cabeça e colocou entre os dois um braço maroto e travão. Exploraram-se devagarinho e ficaram a saber tudo o que desejaram sem terem visto, rigorosamente, nada. Sob o mosquiteiro havia um mundo sem mosquitos. De um lado uma fartura macia, a seda da roupa, o suor… Do outro, a cheirar ao sabonete do banho, uma quase mulher ávida de pele.