Festa de São Cristóvão
O mês de julho é considerado um pequeno mês de férias, atualmente. Portanto, há algum tempo, o mês de julho era o mês de férias integrais, ou seja, eram os trinta dias do ano.
Muito frio. Muita geada. Assim caminhava o mês, pois o próximo mês, o mês de agosto, já dava sinal de calor, pois a primavera se aproximava.
Carlos, um jovem muito estudioso. No colégio era o primeiro aluno. Sempre gostou da Língua Portuguesa e fazia ótimas redações. Na Matemática, ele era o primeiro a resolver todos os problemas e muitas equações. Em Ciências, sempre focou para a parte de Química, pois sempre dizia que estudaria para ser um profissional desta matéria e se tornaria um professor universitário. Não gostava muito de Biologia, mas tinha muita facilidade em Física. Cedo, muito cedo, aprendeu a tocar violão e era o número um do grupo de jovens da paróquia. Tinha bons amigos e sempre foi um conselheiro para quaisquer tipos de problemas.
No último domingo do mês de julho, na paróquia, era comemorada a festa de São Cristóvão. O Santo é considerado o padroeiro de todos os motoristas, principalmente os caminhoneiros e eles sentem muito orgulho desta festa. Eles se organizam, formam comissões e arquitetam uma grande festa em homenagem ao padroeiro deles. Carlos está ao lado da comissão, mas como participante, pois o pai é caminhoneiro e um dos principais organizadores de toda a festa.
Muito feliz estava ele, pois irá participar do enfeite da imagem do Santo e seu projeto de ornamentação foi aprovado pela comissão e acordado pelo padre.
A semana mal passou e Carlos pouco parava em casa. Estava sempre na Igreja, andando junto com o pai e preparando tudo para o lindo dia. Repassava as músicas que seriam cantadas na procissão e na missa, revisava as leituras, projetava a alvorada (buzinas de caminhão, com fogos, banda de música percorrendo as ruas e avenidas da cidade), shows após a missa, fogueira, pipocas, amendoins e outros. Assim, a semana foi passando e Carlos estava sempre feliz. Ao lado do pai, participava de tudo. Até foi a uma cidade vizinha para contratar o sanfoneiro, pois foi planejado um forró.
João Sabiá, um senhor mais idoso, ministro da eucaristia paroquial, era a pessoa certa, um consultor em matéria de fogos de artifícios. Tinha muita experiência. Foi trabalhador em fábrica de fogos e se aposentou lá. Veio morar na cidade e logo fez muitas amizades. Muito carismático, foi convidado a ser ministro e logo se engajou com a sociedade.
Chegou o grande dia das festividades. Carlos acordou bem cedo. Vestiu-se a calça jeans, uma jaqueta de couro, uma camisa e calçou um tênis. Fazia muito frio na madrugada e o obrigou a colocar uma luva nas mãos. Lá se foi com o pai. A comissão já estava reunida na praça da Igreja Matriz. A banda de música já estava posicionada acima do caminhão. O padre chegou apressado e deu ordens para o início da alvorada. João Sabiá iniciava a soltura dos fogos. Eram muitas bombas e o estouro, o som dos sinos repicarem, o som da banda de música tocando deram um grande ânimo à cidade. A procissão saiu percorrendo às ruas da cidade de um canto a outro. Muitas buzinas, pessoas olhando pelas janelas, pessoas se levantando e indo em direção à calçada. Pessoas indo até a praça da Matriz, enfim, uma grande festa para aquela manhã fria do mês de julho.
Carlos e seu pai ficaram perto da Igreja, pois eles estavam encarregados de vigiarem o restante dos fogos de artifícios que seriam utilizados no regresso da procissão.
Como grande apreciador das aulas de Física, Carlos logo lembrou dos ensinamentos da professora sobre a propulsão dos foguetes. Lembrou das teorias de um engenheiro alemão Wernher Magnus Maximilian von Braun, o criador e grande teórico da Física. A curiosidade de Carlos era tanta que chegou a pegar dois fogos e verificar como eles eram construídos. Desmanchou-os e viu uma porção de papelotes com pólvoras e lembrou que os estudos da Física estavam certos. Coloco-os no devido lugar e ficou esperando o retorno do pai. Fazia frio e a fogueira, um pouco mais à frente, estava acesa. Resolveu ir até lá e ficou por algum tempo.
A curiosidade de Carlos o atormentava a cada instante. Ganhou um saquinho de pipocas, um copo de refrigerante e um saquinho de amendoins torrado. Comeu rapidamente e bebeu o refrigerante. Trocou algumas palavras com os que estavam perto da fogueira e seguiu novamente para onde se encontravam os fogos. Parou por um momento e pensou:
- O João solta estes fogos com a maior facilidade.
- Ele pega o isqueiro, acende o pavio, coloca o foguete na forma vertical e em poucos segundos o foguete sai em direção ao alto.
- Pelas leis da Física, o foguete tem de ter mais força gravitacional para se descolar. Os mestres da Física explicaram tudo isso. Pensando bem...
Rapidamente Carlos se levantou. Olhou para um lado e viu que não tinha ninguém por perto. Saiu bem apressado e foi até a barraca onde serviam as comidas. Olhou para o ocupante e disse:
- Rafael, por favor, empresta-me o isqueiro por algum momento. Já eu lhe devolvo.
Com toda a esperteza, Rafael o entregou e mencionou bem perto do ouvido dele:
- Não vá fazer nada de errado com este isqueiro. Ele é de uma boa lembrança. Ele foi presente de meu avô. Está certo?
- Com certeza, Sr. Rafael.
Andando mais rápido ainda, quase correndo, Carlos chegou ao local onde estavam os fogos. Observou os que ali estavam e pensou:
- Caso eu pegue um foguete, a aceleração gravitacional será perfeita para levá-lo o mais alto possível. Ele explodirá juntamente com os outros fogos. Ninguém perceberá e eu contarei ao professor a minha experiência. Será ótima.
Aguardando um pouco mais, Carlos não continha a felicidade de tentar provar a teoria dos Mestres da Física.
Pegou um dos fogos e já ia ascendendo o pavio. Pensou um pouco mais e pensou que se pegasse mais um a teoria estaria perfeita. Portanto, não conseguindo conter a curiosidade, resolveu pegar cinco foguetes. Com um barbante que tinha no bolso, ele os amarrou bem e formou um círculo com cinco fogos. Fez novas amarrações nos pavios e fez um possante foguete. Olhou para os lados e vendo que não havia ninguém ali por perto, ele acendeu o pavio e ficou esperando. O fogo queimou o pavio e nada dele sentir a pressão dos foguetes rumo ao alto. Passaram-se alguns segundos e os fogos não saiam. Sem perceber, Carlos se distraiu com uma fala a seu lado:
- Está tudo bem, amor?
A voz era de sua namorada que o procurava.
Tirando a atenção dos fogos, ele os deixou por algum instante. Do ângulo reto dos foguetes, transformou-se em ângulo de trinta e cinco graus. Ele os soltou por uma fração de segundo e os cinco foguetes saíram em alta velocidade. Ouviu-se um longo estrondo do outro lado da rua. Muitos olharam e somente viram duas pessoas correndo em direção à igreja. Eram Carlos e a namorada. Correram tanto que chegaram bem cansados em casa. No portão, Carlos encontrou com o pai e assim falou:
- Pai, se eu fosse o senhor, não iria à praça agora. Está havendo uma tentativa de assalto na loja nova, que seria inaugurada amanhã.
- Foi uma verdadeira bomba que explodiu nas portas e vitrinas da loja. Nós viemos correndo e aconselho a não ir.
Até hoje o fato ficou como tentativa de assalto à loja. O prejuízo foi grande e Carlos jamais quis participar da comissão de organização da Festa de São Cristóvão.