A PROVA

Rastejava-se na escuridão, não sabia como fora parar ali, a pele ardia com tanta fricção com a terra, respirava com dificuldade, sentia calor e sede e na lembrança apenas o clarão e o estrondo. Intuía a chance de sobreviver como quase nula, ignorava aonde ia e onde estava, apenas o tato como guia .. nem cheiro sentia, o nariz doía absurdamente e sangrava, sentira o sabor desagradável de sangue.Sentia medo,teria sido enterrado vivo?Estaria ainda vivo ? Tudo fazia para não exasperar-se ao ponto de perder o controle de si. Enlouquecera ? Aquilo seria alucinação ? Contudo, o caminho prosseguia e o esforço, sim, o esforço não se fazia no plano, talvez subisse ou estaria exaurindo as energias ? Implorou mentalmente a Deus auxílio, era a primeira vez em quinze anos, desde a morte do filho, desde quando perdera a fé. De repente ouviu, algo vinha no seu encalço, respirou fundo e viu-se embebido em água, prendeu a respiração, foi arrastado, quanto tempo suportaria sem respirar? Dava graças a Deus por ter deixado de fumar, então viu uma luz se aproximar:Seria miragem? Foi expelido para fora, respirou a largos haustos. Já em terra firme, na superfície, arrastou-se para uma elevação e desmaiou.

Acordou com fricção de uma esponja embebida em água perfumada,a-

plicada suavemente pela irmã de Caius. Ao tentar agradecer, nada pôde

dizer, emudecera. Lívia olhou para o irmão e disse-lhe, "Pobre homem,

vamos hospedá-lo em Pompeia, a Saturnalia nos aguarda". Ao perceber

onde estava , o ilustre doutor de Cambridge também soube estar em

23 de agosto de 79, desmaiou novamente. Seu desaparecimento per-

maneceu um mistério para seus contemporâneos de 2050, quando a moda era vestir-se à romana...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 07/06/2020
Reeditado em 18/06/2020
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