LEMBRANÇAS DE MINHA INFÂNCIA (um conto real)

Lembro-me de minha infância, no Conjunto Saquassu, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Brincadeiras não faltavam, aliás, além da diversidade, eram deveras emocionantes.

Pic tá, pera uva maçã ou salada mista, pic esconde, pau na lata, bola de gude, peteca, futebol, vôlei, sem falar nos engenhosos carrinhos de rolimã e outros que fazíamos de latas de leite em pó e de óleo. Tudo aquilo era incrível! Esquecíamos o tempo e os problemas advindos de nossas “conturbadas” vidas.

A situação financeira não era lá muito boa, inclusive a criação rígida e, às vezes, mesclada de violência física, silenciada pelo medo.

Dois amigos inseparáveis formavam comigo o trio “R”, Renato e Ronaldo. Juntos, explorávamos uma imensa e desabitada área geográfica à procura de ferro e outros metais para vendermos.

Éramos os donos do pedaço, os senhores de nossos destinos, os intocáveis.

Certo dia, porém, após exaustivas horas de caminhada, sem nada encontrarmos, nos deparamos com uma grande mina de um tipo de ferro que julgamos valioso. Nossos olhos brilharam de tanta alegria!

- Estamos ricos! – Afirmei eufórico.

- Encontramos uma mina de pedra preciosa! – disse, em pulos, Renato.

- Nos tornaremos conhecidos no mundo inteiro! – Bradou Ronaldo.

Passados aqueles momentos de euforia, pensamos em uma forma de retirarmos nosso tesouro.

Sem obtermos êxito, pois não tínhamos se quer uma picareta ou outra ferramenta que facilitasse a extração do minério, decidimos, após algum tempo de reflexão, irmos pra casa e retornarmos com os devidos aparatos.

No caminho, soubemos que a tal mina preciosa não passava de meras borras sem valor. Que decepção!

Anos mais tarde, ao nos lembrarmos daquele fato, riríamos copiosamente.

Inúmeras emoções vivi, mas teve uma, em especial, que jamais esqueci.

Eu tinha o costume de sonhar acordado e fantasiar tudo o que fazia.

Detentor de uma imaginação fértil, poderia ser quem eu quisesse, bastava apenas desejar e construir o personagem e o cenário.

Sonhava que podia saltar longas distâncias e alçar altos voos.

Algumas situações acreditei já ter vivenciado, como se fossem reprises.

Tudo era um grande mistério que só desvendei aos 23 anos de idade, no dia 13 de janeiro de 1994, ocasião em que escrevi minha primeira poesia.

Compreendi que aquele espírito livre e sonhador era o escritor em gestação que acabara de nascer.