Rumo ao litoral

Rumo ao litoral.

Em minha memória, lembro-me de estar caminhando por uma estrada litorânea, parando de praia em praia, sentindo o barulho das ondas, e das gaivotas, e o inigualável clima litorâneo. Foram os grandes momentos que vivi, cujo cenário sempre acompanha meus sonhos de felicidade.

A aventura começa no topo da serra, com um olhar panorâmico sobre a imensidão do mar, margeado pela exuberante mata atlântica. É tão belo. E de tirar o fôlego. Pura expressão de Deus!

Os amigos.

Chegando na praia de Tabatinga, litoral norte, fomos direto para a casa do Tio René, uma casinha simples, entre um canto da praia, e um riacho que desaguava no mar, onde havia grandes rochedos, que também serviam de pesqueiros, em seu entorno uma mata serrada. Ele, o Tio René, tinha como utensílio de maior valor uma canoa, com a qual saía antes do sol aparecer, e voltava, perto da hora do almoço, com peixes fresquinhos, com os quais alimentava a família, eram mais de meia dúzia de pessoas, ele, mulher e filhos. Contava histórias de pescadores, muitas vezes, envolvendo Iemanjá, e baleias de tamanho descomunais. Ele era um homem risonho e pequeno, aparentando sessenta anos de muita labuta, as marcas eram visíveis em seu rosto. Fartei-me de seus peixes em várias outras ocasiões, e de suas conversas simples e indescritíveis. Podia até ser conversa de pescador, mas ele as contava com tamanha naturalidade, que era difícil não acreditar. Muitas vezes, o cenário era em volta de uma fogueira, onde se juntavam algumas pessoas amigas, para ouvir essas histórias que naquele clima ganhavam um sabor especial. Sem mencionar o céu apinhado de estrelas, e a lua que quase dava para tocar com as mãos. Aprendi muito com ele, em especial a simplicidade e humildade.

O acaso

Despedi-me dele, e de todos, e continuei a caminhada. Alguns quilômetros adiante, estava em Ubatuba, uma cidade litorânea, linda, e que também tinha boas praias, onde conheci uma garota, muito inteligente e mochileira também. Muito bonita. E corajosa. Não tinha medo de nada. Enfrentava o mar como um peixe. Mergulhava como um golfinho, boa de conversa. Passamos bons momentos juntos. Fizemos amizade com várias pessoas, todos muito simpáticos, principalmente por causa das cervejas, acompanhados de peixe frito e lula a dorê, na mesa improvisada ao redor do quiosque. Ela foi embora, e eu continuei a minha jornada.

Surpresa e um prêmio

Antes do anoitecer estava na balsa, a caminho de Ilha Bela, com o sol se pondo, parecia uma gigantesca moeda de ouro desaparecendo no mar, lá na linha do horizonte. Ilhabela, Ilha com suas praias fazendo jus ao nome, já na travessia conheci uma garota, que também era turista. Juntos procuramos o melhor camping para armar acampamento. Ela, que tinha programado ir para uma pousada, havia mudado de ideia, e aceitou dividir comigo a minha barraca. Fizemos muitos amigos, jogamos vôlei, frescobol na praia nem parecíamos adultos. Comemos, camarão e cação à milanesa. Ela era loira de estatura pequena e tinha os olhos verdes, seu nome eu não conto. Risos.

Nos banhamos de mar na praia do Curral, na praia da Feiticeira e depois fomos conhecer a praia de Castelhanos, do outro lado da ilha, praia quase deserta, de frente para o mar aberto. Alto mar. Um paraíso escondido. Depois voltamos para a praia central, onde se encontravam ancorados, barcos e veleiros. Enamorei-me de um, fiquei boque aberto com a beleza daquela veleiro, todo branco, de olhos fixos nele, nem percebi um homem que se aproximava, vestindo bermuda, e um boné na cabeça. Era o dono da embarcação, de sorriso largo, e muito simpático. Logo, nos tornamos amigos, surpreendentemente nos convidou para velejar. É lógico que aceitamos no ato! Um prêmio do acaso. Ele era meio despojado, e partiu dele o inesperado. Já navegando, disse com um sorriso nos lábios: "Assuma o controle do barco" Meio perplexo e nervoso peguei o timão, de ouvido nas suas explicações; mantenha a Buja cheia (a vela central) e navegue naquela direção e não se preocupe. Pronto, você está indo muito bem. E lá fui eu.... Capitão de um lindo veleiro por um bom tempo. Foi incrível. O céu e o mar estavam calmos, e o veleiro singrava ao sopro de um vento não muito forte. Quando voltamos ao ancoradouro, eu ainda agitado, com a adrenalina muito alta, agradeci meio ofegante. Ele riu!

Eu e Bruna voltamos para a barraca, tomamos uma cerveja em completo êxtase. Depois ela pegou sua mochila, nos despedimos. Foi a última vez que a vi ali na ilha.

Como diz a sabedoria popular; “amor da baixada não sobe a serra”.

O tempo passou, amores, praias alegria.

Subindo a serra parei várias vezes para tomar água nas bicas que encontrei pela estrada. E hoje, vou parar por aqui, amanhã continuo...se eu sobreviver!

jaeder wiler
Enviado por jaeder wiler em 19/05/2020
Reeditado em 23/05/2020
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