A montanha da dor e do reconhecimento.
A trilha era longa, Júlio sabia que mesmo que seus calos já tivessem estourados pela terceira vez não podia desistir. Olhou para baixo e viu o abismo que se formava em seus pés, estava sobre as nuvens. A trilha estreita o obrigava a manter o equilíbrio, um passo em vão e o vazio o engoliria. Concentrado caminhou mais alguns metros até que sentiu agulhas atravessando seu pé direito, necessitava parar, buscou algumas rochas que pareciam fortes e rezou para que suportassem seu peso.
Ofegante e desidratado colocou sua mochila no chão, sentiu um alívio imediato ao se desfazer dos 30 quilos de equipamentos, sentou e respirou fundo, depois de alguns segundos de alívio a dor em seus pés começaram a se fazer presente novamente, com muito cuidado tirou uma das botas de escalada, viu uma mancha vermelha na meia suja e úmida, devagar a retirou gemendo de dor ao sentir que sua pele se descolava, uma grande ferida com partes amareladas se revelou, esticou os pés por um momento para que respirasse e se entregou.
Depois de alguns momentos contemplando a solidão, tirou do bolso uma pequena caixa de veludo cor de vinho, uma lagrima indesejada caiu, limpou mantendo o olhar perdido, lembranças e esperanças vinham em sua mente até que uma presença a seu lado chamou sua atenção, era algo forte, fazia seu corpo tremer, virou devagar para o lado e sobre uma pedra que estava bem na ponta do penhasco uma ave enorme, não sabia definir sua espécie, mas parecia uma águia branca, tinha o tamanho de uma pessoa pose elegante e intimidadora, o encarava sem piscar.
Discretamente guardou a caixinha em seu bolso sem tirar os olhos da ave que continuou lá, sentiu como se ela o estive julgando, por um momento viu seus pecados, não pode deixar de pensar que aquilo era um aviso, uma última oportunidade dada. A ave imponente abriu suas asas, Júlio não podia acreditar no tamanho daquele animal que saiu voando livre pelo céu.
O encanto daquela experiência foi quebrado quando um brilho forte do sol refletindo em um metal fez Júlio perceber que a ave tinha deixado cair um pequeno rolo de papel, estava lacrado com um arame dourado. De joelhos foi até a borda enfrentando a vertigem, pegou o papel e abriu com cuidado, lagrimas vieram desimpedidas, se levantou com dificuldade e com os braços abertos e espirito livre gritou.
— Obrigado!!!
Seu caminho continuou…