Ah!Um dia ainda o encontro

Todos sabem que fui policial, Comissário de Polícia, está no meu currículo, inserido nesta página literária.Certo dia fui chamado pelo Delegado, isto eram mais ou menos 16h30min, disse-me ele para pegar mais dois homens e ir a uma localidade chamada Ponte Queimada, dizendo ainda que antes da ponte havia uma estrada rural meio dificil de andar, mas que sabendo conduzir poderia chegar tranquilo ao destino. Mas e o destinho? Era em uma casinha quinze quilômetros adiante depois de desviar antes da ponte. E a missão? Efetuar a intimação de um homem que deveria apresentar se ao Juiz dentro de dois dias.O perfil do homem não era dos melhores, valente, nervoso, quase sempre armado e na casa onde estava havia mais algumas pessoas, dentre estas, mulheres e crianças. Em diligências policiais, mulheres são sempre uma preocupação, mesmo não sejam o objeto da busca ou prisão, crianças, nem se fala, todo o cuidado é pouco com nossas crianças.

Vou levar comigo dois caras calmos e que saibam manter- se com domínio da situação. Escolhi então o Laercio e o Claudio.

Seguimos, embora sendo verão, não daria para chegar lá antes das 18h. E foi o que ocorreu.Dirigi o mais rápido que consegui naquela viatura velha que a cada metro parecia que se desmancharia nos próximos minutos. Chegamos próximos da ponte queimada e logo vimos a entrada, uma estrada que cortava a mata cerrada. Continuamos andando, com exceção de alguns buracos alagados o restante da estrada era bom.Casas não havia, só mato. Dali a pouco chegamos a um declive acentuado onde era melhor não correr muito com aquele carro velho. Já ansiosos localizamos um ranchinho,no terreno em volta, galinhas, porcos e cinco ou seis crianças brincando. Chamei um deles e perguntei pelo nome do homem procurado.

-O tio tá lá dentro bebendo cachaça.

Vá chamá-lo! Ordenei-lhe.

O menino saiu correndo e gritando pelo tio dizendo

-Têm uns home aqui lhe procurando.

Demorou um pouco e notei que as crianças haviam saído do terreiro. Gritei pelo nome e nada, dali instantes alguém veio e abriu uma fresta da porta e perguntou o que era. Identifiquei-me e disse que estava intimando fulano de tal por ordem judicial, mas vi que de encosto na perna havia alguma coisa parecida com uma espingarda. Fiz aqueles sinais convencionados aos colegas e eles se espalharam. Comecei então a conversar com ele, dizendo que era apenas uma intimação judicial solicitada a nós, nada tínhamos com aquilo a não ser entregá-la e ir embora. Fulano não está, saiu cedo hoje.Disse o da porta.

-Então vou deixar com o senhor, mas precisa assinar para o Juiz saber que cumpri a missão.

Enquanto falava fui me aproximando calmamente e fiquei a uns dois passos da porta, momento em que se confirmou que aquele objeto comprido era mesmo uma espingarda,que moveu-se sutilmente pela mão do homem.Não tendo mais o que fazer, para não atirar onde havia mulheres e criança saltei rapidamente para frente, quadrei o corpo e meti o ombro na porta. Pronto, derrubei o homem e a espingarda e dominei a situação, ou não dominei, pois já estava dominada, Laercio estava na porta dos fundos,arma em punho e Claudio na janela com as duas mãos no revólver.

O homem ficou caído e vendo a sua fragilidade, dei-lhe a mão para levantar. E a espingarda? Era uma arma artesanal que muitos conheciam como Taquari, utilizada no campo para para caçar pequenas aves. Mas é um tiro que mata e qual tiro que não mata, aquele que não lhe acerta em lugar mortal. Assim todo cuidado é pouco. Bom, resolvido o assunto família, onde está o tal homem, ninguém sabia aaté que um menino disse lá num canto

-O tio montou no cavalo tordilho antes do senhor chegar e sumiu no mato.

Não havia preparação perseguir uma pessoa naquele horário, num matagal e sem preparos para isso. No final o Comissário pagou o mico. Ah, um dia eu o encontro disse ainda o Comissário antes de dar boa noite e sumir com o sol quase se pondo.

drmoura
Enviado por drmoura em 13/05/2020
Código do texto: T6946415
Classificação de conteúdo: seguro