O Comboio

O COMBOIO

Conto

Um Comboio seguia pelas regiões montanhosas, passando por uma longínqua e deserta estrada. Próximo a um rio ele parou, para que seus tripulantes pudessem comer alguma coisa, banhar-se e lavarem suas roupas; enfim, para um descanso.

Dois irmãos, Tom e Fabrício dormiram sossegados dentro de uma velha manilha, nas proximidades do rio.

Enquanto isso, o comandante do Comboio não percebendo a falta deles, deu ordens para que seguissem viagem.

Tom, o mais velho tinha dezoito anos, era moreno e forte. E Fabrício, o mais novo tinha treze anos, era claro de cabelos castanhos.

O tempo passou.

E já quase ao cair da tarde, Tom despertou do sono, e não viu o Comboio por ali. Ele ficou muito preocupado. Apavorado acordou seu irmão Fabrício que ainda dormia.

Os rapazes correram até onde o comboio estava estacionado e nada... Olharam pelo grande estirão da longínqua estrada a perder de vista... E nem sinal havia mais do Comboio que partira e já estava longe dali.

De um lado da estrada ficava o rio, e de outro lado iniciava-se uma grande floresta.

Tom disse:

- Oh! Fabrício, nós estamos perdidos! E não podemos permanecer aqui junto ao rio, ao lado desta estrada distante do povoado e deserta. Vamos nos abrigar naquela floresta, do outro lado da estrada, que fica logo ali.

É melhor passarmos à noite na floresta e amanhã, caminharemos por ela, quem sabe, nossa chance de salvação seja maior; se seguirmos pela estrada logo nós morreremos de fome.

E assim foi...

Era já ao anoitecer quando os dois jovens entraram na floresta. Procuraram alguns galhos secos para queimar. E junto ao tronco de uma grande árvore, fizeram uma pequena fogueira, prepararam suas camas de folhas secas e palhas que encontraram ali. Pediram a proteção de Deus e adormeceram.

Os pássaros noturnos piavam, e os animais urravam, roncavam e berravam pelas matas afora.

Tom e Fabrício ouviam tudo e estremeciam de medo.

- Estou com medo! Disse Fabrício.

- Eu também! Respondeu Tom. O perigo nos cerca de todos os lados.

Aquilo tudo, causava grande pavor, pois nunca viveram tais situações.

Cansado, Tom logo adormeceu. De madrugada sonhou que um anjo desceu do céu, e apontando em direção ao pôr-do-sol, disse:

- Sigam sempre nesta direção!

Os rapazes seguiram pela selva... Quem sabe, por ali, encontrassem alguém que pudesse ajudá-los.

Perdidos, agora na imensa selva, a procura de socorro, alimentava-se de mel, frutos silvestres, talos de folha de certos vegetais, raízes que encontravam, e de peixinhos que apanhavam nos rios onde iam banhar-se.

Como Deus havia indicado, os dois seguiam procurando a posição do sol, em direção ao pôr-do-sol. Era difícil, para eles enxergarem o sol, pois estavam debaixo de grandes árvores. Quando encontravam árvores secas ou a mata ficava mais rala, os meninos aproveitavam para ver a direção em que seguia o sol.

A noite chegou...

Tom e Fabrício prepararam suas camas, acederam a fogueira e adormeceram.

No dia seguinte, Fabrício acordou mais cedo e estava assando uns peixinhos na brasa para o alimento do café da manhã. De repente, ouviu ao longe, bem distante dali, o cantar de um galo... Mas ele estava tão distante que Fabrício mal conseguiu ouvi-lo.

O menino chamou seu irmão que ainda dormia, dizendo:

- Tom acorde! Há sinais de moradores aí por perto. Eu ouvi, ao longe, um galo cantar!

Não perderam tempo. Caminharam cerca de mais algumas horas e à tarde. . .

Olharam por trás das folhagens e por entre galhos entrelaçados e avistaram lá longe, uma clareira.

Foram se aproximando um pouco mais, e viram então uma casa... Que surpresa!

Ansiosos os jovens chegaram até o portão.

Tom gritou:

- Ô de casa! Tem alguém aí?

A porta se abriu e apareceu uma senhora de certa idade. Era dona Matilde.

Surpreendida a senhora exclamou:

- Venham, meus filhos! Entrem para cá...

Vou preparar água para vocês tomarem um bom banho. Vocês devem estar cansados.

Tom e Fabrício não acreditavam no que estavam vendo. Para eles aquilo era um verdadeiro milagre.

Depois de tomarem um gostoso banho de água morna, com sabonete, xampu e toalhas limpas...

Dona Matilde chamou-os para o jantar.

- Agora, meus filhos venham. O jantar está pronto.

- Que comida gostosa! Disse Fabrício. Há quanto tempo não sabíamos o que era jantar.

Comeram a se fartar naquela noite.

Após o jantar, conversaram bastante.

- Já preparei a cama para vocês. Venham dormir! Chamou-os, dona Matilde.

A cama estava mesmo aconchegante. Que gostoso... Os lençóis branquinhos e os colchões macios e confortáveis.

Os jovens então sossegados dormiram um sono restaurador, aquela noite.

Lá fora, os pássaros anunciam um novo amanhecer...

Dona Matilde preparou o café da manhã e chamou-os para que viessem tomar o café.

E assim foi...

Em lágrimas a mulher dizia:

- Meus filhos, vocês foram como um presente de Deus para mim. Bem que eu gostaria de hospedá-los aqui... Que vocês ficassem morando comigo, como filhos da casa. Mas não poderei arcar com os gastos. Sou uma pobre viúva aposentada e sobrevivo de minha aposentadoria, e da venda de alguns frutos do campo que entrego no povoado. Faz pouco tempo que meu marido me deixou. Ele morreu e eu fiquei sozinha... Meus filhos casaram todos e foram morar em outras cidades, muito longe daqui.

Sigam por este caminho. Lá adiante tem um vale com uma pequena cidade que chamamos de povoado, onde vocês poderão encontrar serviço e casa para morar... Ali, no Vale dos Sonhos!

Suas palavras eram interrompidas pelo choro e pelas lágrimas que desciam de seus olhos. Enquanto falava, gesticulava com uma mão, e com a outra secava com um pequeno lenço branco de seda, as lágrimas que molhavam seu rosto em pranto.

Ambos, agora seguros e mais dispostos seguem pelo caminho que dona Matilde indicara.

Tranquilos e confiantes num futuro bem próximo, encontraram uma placa que dizia assim: “Seja bem-vindo ao Vale dos Sonhos”.

Continuaram andando e entraram numa rua; caminharam mais alguns metros, e logo perto dali encontraram uma bonita praça onde resolveram descansar um pouco. A praça era formada por um belo jardim de flores coloridas, com borboletas douradas e pássaros que gorjeavam. Tudo era alegre no Vale dos Sonhos.

Enquanto permaneciam ali sentados observando a beleza do lugar, aproximou-se deles um senhor...

- Meu nome é Luca...

Vocês procuram por alguém? Precisam de ajuda? E em que posso ajudá-los?

- Oh, sim! Respondeu Tom.

Estamos procurando serviço e uma pensão onde possamos morar. Eu e o meu irmão.

- Sigam por esta rua. Disse seu Luca.

Passando dois quarteirões, tem um sobrado de cor bege com uma placa, onde se lê: “Pensão da Dona Glória”.

Os irmãos fizeram como o homem havia indicado.

Finalmente chegam à pensão.

Tom tocou a campainha e, uma moça morena de olhos verdes, cabelos pretos e longos, veio atendê-los.

Aquela moça era a filha da dona da pensão.

- O que vocês desejam? Perguntou ela com um sorriso.

- Precisamos falar com a dona da pensão. Respondeu Tom, meio encabulado.

- Por favor, entrem e aguardem; a mamãe virá atendê-los.

- Boa tarde! Os Cumprimentou dona Glória.

- O que vocês desejam?

- Olá! Respondeu Tom.

- Eu preciso de um serviço e de uma pensão onde possamos morar, eu e meu irmão.

- Tenho uma vaga em nossa empresa. Se você quiser aceitar, entrar como sócio você não precisa entrar com o capital, mas somente com a mão-de-obra; e receberá rendimentos e o lucro que será entre os sócios. Combinado?

- Combinado! Disse Tom.

Agora, Tom estava empregado e morando com seu irmão na pensão de dona Glória.

Os dias passaram...

Certa noite, dona Glória e seu marido senhor Peter, chamaram Tom para uma conversa.

- Faz tempo que nossa filha, a Aline vem gostando de você Tom. Acho que vocês poderiam casar. Nós ficaríamos felizes com o casamento de vocês. Falou seu Peter.

- É verdade. E o Fabrício poderá ir morar com vocês. Não é uma boa idéia! Afirmou dona Glória.

O tempo passou.

Fabrício agora estudava a noite e durante o dia elaborava suas crônicas para o jornal do Vale dos Sonhos, com o qual tinha contrato.

O casamento estava marcado para o fim do ano.

Assim, Tom e Aline casaram-se e vivem felizes no Vale dos Sonhos, juntamente com seu irmão Fabrício que foi morar com eles.

O tempo passa, e se aproxima outro natal.

O natal é chegado.

A cidade se prepara para comemorar o nascimento do Menino Jesus.

Naquela noite, os moradores de Vale dos Sonhos, recebem a notícia que um Comboio está se aproximando do Vale.

Tom e seu irmão vão ao encontro do Comboio que acaba de chegar.

Que surpresa! Eles reencontram seus pais... Que alegria poder vê-los e abraçá-los novamente.

Aline não consegue esconder suas lágrimas. Agora, juntamente com Tom e Fabrício ela embarca no velho Comboio, que ao lado de seus pais, estão retornando à velha casa, para junto da querida Família.

Sob o pálido luar e o tilintar dos velhos sinos que repicam na Catedral, lentamente, o Comboio vai pouco a pouco se afastando e se distanciando do Vale, até não mais se ouvirem as últimas badaladas que ecoam pelo Vale dos Sonhos.

Luiz R. Rosa

FIM

Digitação: Francisca Araújo

Critica e sugestões: Rita de Cássia M. Sousa

Conto escrito por Luiz R. Rosa

trovaliz
Enviado por trovaliz em 14/04/2020
Código do texto: T6917456
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