AMADOR

Óculos sujo, cabelos ao vento, uma mão segurando o guidão da sua veloz bicicleta enquanto que a outra se estende e se abre ao ar, como que quisesse tocá-lo. Um corpo cheio de vida que transborda em loucura sã. Este é Amador, o jovem sonhador.

Amador era forte, simpático, determinado, cheio de si, de amores e sabores importados, mas parecia lhe faltar algo... Nessa falta existia sua fraqueza, implícita no excesso de Amador. Certa vez, o jovem sonhador fez uma prova de concurso publico. O salário era muito atraente e o contrato vitalício. Amador se pôs a fazer a prova com todo desejo, que foi regado de orações que clamavam por aprovação. Durante o processo, ele percebeu o potencial do seu desejo, mas também a sua falta de preparo que perturbava sua consciência. No entanto, fez o seu melhor e aguardou com ansiedade e confiança o resultado.

Passado um mês, eis a lista final: "Amador Leite Rocha - Reprovado". Nesse momento, Amador se deparou com a falta, aquela que antes lhe era implícita, mas agora pesava em seus ombros e o curvava ao chão. Faltava-lhe conhecimento de mundo, ou melhor, conhecimento do mundo além do seu, aquele mundo onde tudo era bom e belo, onde sua juventude representava sua virilidade e onipotência frente os melindres da vida. Nesse novo mundo que se apresentou a Amador depois de uma rápida leitura, existia a frieza da técnica, a malícia do trapaceio e anulação em prol de "algo maior".

Boné na cabeça para não bagunçar o penteado de bom menino. Duas mãos no guidão o seguravam firme para se manter mais seguro. Corpo cheio de vida que não transborda, mas se espreme sem expressão e se mantem dentro da pálida normalidade. Consciente e esperto, eis o novo e maduro Amador.

Lucas Nascimento da Silva
Enviado por Lucas Nascimento da Silva em 08/04/2020
Código do texto: T6910069
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