UMA AVENTURA COM O LOBISOMEM
E a aventura continua...
O dia amanheceu chuvoso, o cenário estava pardacento e Pedrinho se levantou da cama, sentou-se no canto do quarto, e pôs a chorar. Aquele era um dia muito triste para ele: seu amigo Zé Tião havia falecido, o velho sábio, que era muito prestativo com todo mundo. O garoto suspirava sem entender direito o que havia acontecido, não sabia ao certo qual o motivo da morte do amigo. Resolveu ir até o terraço e perguntar a sua mãe. Entrou de mansinho e foi logo falando:
- Mamãe, por que Zé Tião morreu? Ele era tão bom e sorridente!
A mãe olhou firmemente para o filho, afastou algumas mechas de cabelo que caiam pelo seu rosto, talvez para observá-lo melhor, e tentou explicar-lhe o que havia acontecido.
- Pedro da Silva, a morte é o último capítulo da vida, como o desfecho de um livro. O velho Zé Tião já cumpriu a sua missão, ele já vivenciou todas as aventuras da vida dele.
- Mas, mãe, o Zé Tião não merecia terminar assim! Mãe, eu quero vê-lo!
- Meu filho, o velho Zé já foi embora. O único filho dele levou o corpo do pai para ser enterrado na floresta. Lá ele descansará em Paz.
Pedrinho baixou a cabeça e continuou sem entender nada. Ele já ia saindo quando sua mãe puxou conversa de novo:
- Filho, o pai da Salomé vai participar de uma pescaria hoje, quando o sol adormecer. Você gostaria de ir com ele? Pelo menos você irá se distrair um pouco e deixará esse ambiente tedioso.
O garoto pensou um pouco, abriu um sorriso ameno e respondeu:
Sim, mamãe! Eu gosto de pescaria em dias de chuva.
Pedrinho foi se recolher na casa da árvore, enquanto seu tio não vinha buscá-lo para tal pescaria...
Já era noite quando Pedrinho, seu tio e um amigo dele chegaram à margem do rio, para o início da pescaria. Porém chovia bastante e eles procuraram um local para se abrigar, já que não dava para pescar naquele momento. Pedrinho se afastou um pouco, foi passear para desparecer as ideias, foi buscar na natureza a calma que precisava para aliviar a sensação de perda do amigo, e quem sabe, encontraria uma boa aventura. De repente, a chuva passou, a lua cheia resplandeceu no horizonte, a neblina encobriu todo local e o cenário ficou parecendo um filme de terror. Pedrinho começou a tremer, não sabia se era de medo ou de frio, suas pernas não paravam de balançar. Subitamente, um grito perdido na escuridão, e logo depois, um uivo estridente tornava o ambiente mais sombrio ainda. Pedrinho fixou seu olhar em algum ponto da imensidão, ainda com os pensamentos emaranhados pelo mórbido acontecimento. E assim, projetou-se diante dos seus negros olhos, a visão assustadora do Lobisomem em carne e osso (que é um ser lendário, com origem na mitologia grega, segundo as quais, um homem pode se transformar em lobo em noites de lua cheia). Pedrinho sabia que o Lobisomem era um dos mais populares monstros fictícios e muito conhecido no folclore brasileiro. O garoto tomou fôlego e correu sem nem olhar para trás, porém não adiantou sua correria; o tal monstro em apenas um único pulo, posicionou-se à frente do menino, com suas garras enormes à mostra e uma baba gosmenta escorrendo pele canto da sua imensa boca. O garoto ficou inerte só aguardando o tenebroso lendário partir para cima dele e arrancar-lhe à pele toda. Pedrinho ainda chegou a sentir o bafo de urubu daquela terrível criatura e viu os seus olhos enormes e vermelhos querendo devorá-lo. Mas, um acontecimento inesperado mudou o cenário dessa aventura. De repente, um barulho forte, e o Lobisomem caiu desmaiado no chão, ficou lá imóvel parecendo morto. Pedrinho por entre os galhos e troncos avistou o velho Zé Tião que, com um tronco grosso desmaiou o tal do lendário mostro. O amigo Zé olhou para o garoto e com toda tranquilidade do mundo falou:
- Menino esperto, você deve procurar o caminho que o leve de volta ao seu tio e procure se afastar da mata fechada! Não se preocupe, quando amanhecer o Lobisomem será homem de novo e voltará para o lugar de onde veio. Eu agora faço parte da natureza. Vá em Paz, meu amiguinho!
- Amigo Tião, eu já sinto a sua falta, mas agora sei que você está no lugar das suas origens. Obrigada e nunca se esqueça de mim! Disse-lhe Pedrinho.
Como em um passe de mágica Pedrinho estava à margem do rio molhando seu pés. O silêncio foi quebrado pelo vozeirão do tio que dizia:
- Pedrinho, você perdeu toda pescaria, pois dormiu à maior parte do tempo. Agora, vamos arrumar os trecos e voltarmos para casa.
Já era quase manhã quando Pedrinho chegou a sua velha casa, ele se dirigiu diretamente ao quintal, foi buscar o livro que estava escondido atrás da mesma moita. Pegou o exemplar e leu em voz alta o título: A LENDA DO LOBISOMEM. O garoto fechou o livro, colocou-o na estante e foi dormir. Ele estava muito feliz, pois seu amigo Zé Tião, agora, era um protetor das matas.
Aqui termina mais uma aventura de Pedrinho. Até a próxima pessoal!
Elisabete Leite