A PESTE

Quando me formei, fui trabalhar na África por um ano, por conta da universidade e convênios, fui trabalhar na localidade de Luangue, no norte da Guiné-Bissau, era uma região muito pobre, governada por uma tribo, os Bocais, que tinha duas família que dominavam a comunidade, os Malam e os Bacem, quando o filho do rei morria a outra família assumia, por duas gerações, assim sucessivamente. Tinha uma comitiva formada pelos mais velhos que tinham poder de voto, eram os anciãos, geralmente só homens, mais aqui acolá tinha uma mulher no grupo, principalmente feiticeiras e curandeiros. A área era grande, cerca de 100.000 ha, ia do rio Araritum até o oceano. Era bem delineada, ao lado tinha duas montanhas, a leste e ao oeste. Sua principal fonte de riqueza era a agricultura, feijão, mandioca, algodão e milho. Também viviam da pesca e caça. Era um povo extremamente trabalhador e místico, avesso a novas tecnologias, coisa que complicou muito minha pequena estadia na região. Lá não havia banheiro, e evacuar era quase um ritual, principalmente os homens, não se podia de forma alguma observar um habitante homem defecando. Era muito penalizado a pessoa que fosse observar algum homem da tribo fazendo o dois, podendo ser banido, perder um membro ou até a morte, dependendo da força do observado. Por esses tempos, o chefe da tribo, Balalau Cadum morreu de uma hora para outra, seu filho assumiu o poder e no outro dia também morreu, a outra família assumio o poder e o rei também morreu, o seu filho também, voltando o reinado para a família Malam, de Balalau. Teve uma reunião dos anciãos para saber o motivo daquela pandemia que se abatera sobre a tribo, eu particularmente achava que era alguma doença, e já comecei a me preocupar com minha saúde, sem sair muito da tenda, bebendo água fervida e lavando bem as comidas, mais a anciã feiticeira, Nabu Advan disse que aquilo era o espírito do Balalau que estava com raiva dos inimigos e tinha vindo buscar os seus desafetos, e assim ficou determinada as causas das mortes na tribo. Quando chamaram os médicos para fazer um diagnóstico das causas, os homens falaram que estavam com dores de cabeça e tomavam aspirinas para o tratamento da dor, Ruaninha Len, moça recém casada, inteligente e desconfiada, falou pra mim que aquilo era mentira, e que ia atrás dos homens que fossem fazer o dois, para ver o que estava acontecendo, e quando foi notou que o homem tava com diarreia, muita diarreia, e com vergonha não contava, ela viu outro e esse também estava, foi ao médico e falou que os homens estavam com diarreia e grande, que remédio para dores de cabeça ia deixar a tribo toda sem homem. Ficou constatado que era epidemia de cólera, passou a ser aplicado soro e o tratamento adequado, fizeram fossas e banheiros e a tribo apesar das perdas, continuou com muitos homens para continuar o trabalho e hierarquia da tribo. Ainda bem que não peguei a peste. Fui embora depois de um mês, mais muito atento para essas doencas oportunistas.

A PESTE

FRED COELHO 2020

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 18/03/2020
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