Matilda: que dor

Eu sei que aquele lugar é proibido pra mim, mas quem aí nunca se sentiu tentado em entrar num lugar proibido? Além disso, tenho o dever de zelar pela casa dos meus humanos, não que seja paga pra isso, mas é que nós, cães, temos este instinto fraterno, diferentemente dos gatos que, cá pra nós, não estão nem aí, desde que tenham um lugar pra se aconchegar, comidinha na hora e caixinha de areia limpinha (gente cheia das frescuras).

Pois ontem de madrugada fui fazer minha ronda e vi aquele bichinho lá no lugar proibido. Era bem pequeno e, como já havia descoberto uma passagem secreta, tratei de correr com o intruso. Sabem que ele era bem pequeno e até bonitinho, mas eu não podia vacilar, então tratei de abocanhar a criatura...

Gente do céu, que dor, que era aquilo na minha boca, no meu focinho? Teria abocanhado um pé de pimenta malagueta e não um bicho? Que dor, que dor...tentei de todo jeito tirar aquilo, com minhas patas, mas parecia que a dor cada vez aumentava mais. Corri pra dentro de casa, mas ainda era cedo e meus humanos não me ouviram. Confesso, fiz xixi no chão de tanta dor. Os gatos? Sei lá onde estavam.

Quando minha humana acordou e desceu as escadas, viu que estava tudo babado e eu ali me debatendo. Ao invés de me acudir, ela subiu novamente e eu ouvi ela chamando o humano-mor: “levanta que aconteceu alguma coisa com a Matilda...”. Quando se aproximaram de mim, eles ficaram apavorados, pois eu estava cheia de espinhos no focinho.

Dedução, a valente aqui foi defender sua família, de um porco espinho!

Minha humana tratou de me acalmar (como se fosse possível) e foram ligar pra tia Margarida, minha veterinária, e eu ali, já cansada de tanto espernear. Então, minha humana foi dar comidinha para os bichanos, que comeram bem felizes. Pior, subiu pra fazer café pra ela e o humano-mor, gente, e eu aqui, como fico?

O tempo passou, vez que outra, meus humanos vinham me acariciar e dizer que o socorro estava vindo (eu só olhava pra eles, dizer o que). Até que chegou, não a tia Margarida, que ficou lá na clínica fazendo cirurgia em outros bichinhos, mas uma tia nova, que se chama Aglae. Meu humano me colocou sobre a mesa e eu tratei de nem me mexer, só queria que me tirassem aquela dor. Parece que um mosquito me picou duas vezes, tentei ficar acordada, porque queria saber como a dor sairia, mas as últimas palavras que lembro ter ouvido, foram da minha humana...”Acho que agora ela apagou”.

Lembro do meu humano me chamando “e aí Tilda, tudo bem?” consegui abanar levemente meu rabo pra ele. Depois acordei, sai caminhando meio cambaleando e fui melhorando aos poucos. Hoje posso dizer que estou bem melhor, ainda sinto dor, mas já consigo comer.

Fiquei sabendo, de ouvir dos humanos, que o tal porco espinho anda por aqui porque gosta de comer goiaba, então, por medida de precaução, minha família está deixando eu dormir dentro de casa, pelo menos enquanto tiver goiaba no pé. Acho que estão me chamando de burrinha. Vai ver que eu vou me meter com porco espinho de novo!

Mas estou gostando dos cuidados especiais. Como diz o ditado: “a males que vem pra bem”.

Ah, quem mora em área rural, cuidem de seus cachorrinhos, tá?! Porco espinho é pequeno e bonitinho, mas sua arma de defesa é perigosa e dolorida pra caramba. Olhem as fotos do meu estado calamitoso, pra vocês terem uma idéia.

#matildadeixaadica

Tânia França
Enviado por Tânia França em 05/03/2020
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