BOITATÁ E OS PROTETORES DAS MATAS

E a aventura continua...

Era uma linda noite de outono, estação onde as folhas das árvores ficavam amareladas e caiam em sinal de renovação, mas naquela noite o vento soprava mais quente parecia até que ainda era verão. O luar resplandecia prateado por entre as folhas das palmeiras, que bailavam no ar e as estrelas brilhavam tanto, como se elas quisessem contar algum segredo. Logo, a dama da noite resplandeceu no céu, e foi iluminando todos os caminhos com seu brilho magnificente que parecia até um véu prateado, e assim deixava o cenário novelesco...

Os inseparáveis primos Pedrinho e Salomé corriam pelo caminho de pedra em direção a um pequeno riacho, eles estavam passando um final de semana na casa dos tios. Um local lindo, em uma casinha simples dentro da Fazenda Olho D’água; onde o tio de Pedrinho, irmão da sua mãe, era o cuidador de cavalos. Pedrinho e Salomé ficaram parados por alguns minutos, em frente ao riacho, e depois eles pularam para um bom banho noturno...

A Fazenda era um lugar belíssimo e o que não faltava por lá, para os primos aventureiros, era muita diversão. Os primos, normalmente, se divertiam bastante, e viviam cavalgando pela relva sem rumo certo, tomavam banho de bica, se melavam na lama, corriam atrás das cabras leiteiras, para tomar um pouco de leite direto nas tetas... Porém, naquela noite os primos pressentiram um clima diferente, principalmente Pedrinho, eles não ficaram muito tempo se refrescando no banho, pois Pedrinho chegou a prever que algo iria acontecer:

- Salomé, eu estou sentindo um clima pesado, o tempo escureceu de repente, acho que alguma coisa vai acontecer! Exclamou Pedrinho.

Salomé fez uma cara de espanto e falou:

- Pedrinho, deixe de besteira, o que pode acontecer nesse lugar tão pacato. Queria eu que algo acontecesse por aqui, para sairmos dessa mesmice. Você sabe que não vivemos sem uma boa aventura. Quem sabe se um lendário qualquer não vai aparecer em nosso caminho!

Pedrinho olhou para sua prima e continuou falando:

- Pois, olhe para o céu e veja como as estrelas estão em um pisca-pisca constante, e a lua fica acenando para a gente, ela até se escondeu por trás das nuvens. Deixe aflorar sua sensibilidade e sinta o Universo, ele está diferente! Alguma coisa vai acontecer prima Salomé, eu tenho certeza. Vou apanhar o livro que deixei guardado dentro da mala, só assim a gente poderá se prevenir do que vem pela frente.

- Não vejo nada, Pedrinho, deixe de imaginar coisas! Pode ser um temporal que está se formando! Vamos para casa que é melhor. Disse-lhe Salomé.

Os dois seguiram pelo caminho de volta, bem de mansinho... De repente, eles viram algo brilhando por entre as folhas das palmeiras. O objeto reluzia com grande intensidade que parecia até uma bola de fogo. Pedrinho ficou perplexo, completamente mudo, somente aguardando o inesperado convidado. O fogo foi crescendo de intensidade, e se aproximando deles. O fogaréu aumentava sem parar, enquanto os dois primos não paravam de tremer. Logo, Pedrinho olhou para Salomé sem entender nada do que estava acontecendo, e falou baixinho:

- Prima Salomé, eu estou temeroso! Acho que estamos sonhando! Se não for sonho, o lendário do Boitatá veio nos visitar. Resta saber o real motivo dessa visita.

Salomé olhou firmemente para Pedrinho e respondeu-lhe:

- Pedrinho, eu estou com medo! Vamos tentar se comunicar com ele!

Uma grande cobra verde, de cabeça de fogo e vários olhos incandescentes por dentro, que se agrupavam e parecia até uma tocha olímpica, surgiu do nada e se posicionou na frente deles. Logo, o suspense foi quebrado, e ela começou a falar em uma língua estranha e ficou cuspindo fogo para todo lado... Os primos que ainda continuavam com calafrios, de tanto medo, permaneceram quedados.

O visitante parou de cuspir fogo e começou a falar normalmente:

- Desculpa se assustei vocês, é que estou precisando da ajuda. E o danado do Curupira falou para mim que vocês são amigos da natureza, que vivem preservando e protegendo a Flora e a Fauna. Preciso voltar urgentemente para à floresta, mas por algum motivo não me sinto bem, estou confuso e não sei o caminho de volta. Eu moro no coração da mata e protejo as matas contra incêndios. Disse-lhes o lendário do Boitatá.

- Cobra lendária, vamos ajudá-lo! Você vai precisar se esconder, enquanto vamos providenciar um mapa para localizar o melhor caminho a ser seguido. Procure descansar, você precisa se recuperar para voltar a ser um exímio protetor das matas. Já conhecemos muitos outros lendários e passamos por grandes aventuras com eles. Seja bem-vindo! Disse-lhe Pedrinho em nome dele e da prima Salomé.

- Sim Pedrinho, vamos ajudar O lendário Boitatá! Exclamou Salomé.

Assim, os três foram caminhando para o celeiro, local onde o Boitatá ficaria escondido para descansar... Os primos foram buscar o mapa e mantimentos necessários para devolver, sem intercorrências, o lendário para sua mata de origem...

Pouco tempo depois, Pedrinho e Salomé foram acordar o Boitatá para seguirem viagem... Os três seguiram confiantes e adentraram na mata fechada. Enquanto Pedrinho procurava localizar o coração da floresta no mapa, Salomé ia amarrando, nos galhos dos arbustos, fitinhas coloridas, para que eles pudessem encontrar o caminho de volta para casa. De repente, O lendário Boitatá parou, e começou a falar:

- Meus amigos, eu já sei onde estou! Vocês foram precisos e me ajudaram muito. O que eu realmente necessitava era de um bom descanso. Quero agradecer-lhes pela hospitalidade. Eu jamais me esquecerei de vocês! Agora já sei o significado da palavra amigo. O Curupira não mentiu em nada. Vocês não são lendários do folclore, mas são os verdadeiros protetores das matas. A natureza agradece pela vossa proteção e preservação. Vocês são grandes aventureiros!

Pedrinho olhou com admiração para o lendário Boitatá, e respondeu-lhe:

- Siga em Paz, lendário protetor das matas! Você agora é nosso amigo e sempre será, quando precisar é só chamar.

O lendário reluzente seguiu seu caminho sozinho e desapareceu misteriosamente. Os primos permaneceram em silêncio, por um bom tempo, olhando para o infinito, um ponto qualquer na imensidão do universo, e depois saíram correndo de volta para casa... O final de semana passou rápido...

Já em casa, o garoto Pedrinho tirou o livro da mala e leu o título: Boitatá e os Protetores das Matas. O garoto fechou o livro, colocou-o na estante e foi descansar na casa da árvore. Pedrinho estava muito feliz porque, finalmente, havia descoberto o real motivo das suas aventuras: a Valorização da Cultura, a Preservação da Natureza, o Significado das Lendas e seus diferentes olhares dentro do Folclore.

O tempo passou depressa, Pedrinho e Salomé cresceram, conseguiram terminar os estudos e cada um seguiu o seu destino, porém eles jamais se esqueceram das lendas, dos personagens e momentos inesquecíveis das suas aventuras.

Viva o Folclore!

Elisabete Leite

(Último Conto do livro "A Magia Das Lendas Em Diferentes Olhares"

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 07/02/2020
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