1127-O TESOURO PERDIDO

-O TESOURO PERDIDO

Noite sem lua, escura, o céu ensombreado por pesadas nuvens de tempestade que se armava. A flotilha de espanhola de vinte e duas naus, comandada por Diego de Alcaraza no galeão Nuestra Señora de lãs Maravillas navegava no Mar do Caribe, nas proximidades das Ilhas Bahamas.

O imediato do galeão estava apreensivo, não menos do que o capitão.

— Senhor, o vento está nos empurrando para a região de baixios. Nossas naves estão muito pesadas, e se alguma delas encalhar, não terá como se safar.

Sim, as naves carregavam cargas pesadas, pois estavam abarrotadas de ouro e prata extraídos das ricas minas da América Central.

— Sim, estamos correndo sério perigo. Nosso galeão também não escapara, caso nos aproximemos demais da costa.

— Não seria conveniente advertir as demais naus, a fim de que evitem esses traiçoeiros baixios?

— Sim, señor Alvarado, bem lembrado. Dispare um tiro de advertência.

Ordens foram dadas com rapidez e um tiro de canhão foi disparado do galeão.

O sinal, entretanto, foi mal entendido. Capitães de algumas naus entenderam que o galeão estava sendo atacado por piratas e começaram a atirar na direção de onde viera o tiro. Algumas naus foram atingidas, e revidaram, numa confusão total, pois atiravam a esmo, sem saber onde estaria o navio pirata.

O temporal desabou, aumentando ainda mais a confusão. Navios atiravam contra navios e como estavam próximos, numa formação de proteção, algumas naus foram atingidas e afundadas pelos balaços dos canhões, num autentico “fogo amigo”.

O galeão era o navio mais pesado, pois sua carga era extraordinária. Transportava aproximadamente 40 toneladas de ouro, esmeraldas de mais de 100 quilates e uma preciosidade de valor incalculável: uma imagem de Nossa Senhora, de mais de um metro e sessenta centímetros de altura (tamanho quase real), totalmente de ouro!

E era o que mais corria perigo, pois o vendaval o arrastava impiedosamente para os baixios. Ouviu-se um estalo formidável, um clarão que cegou a todos no galeão e o mastro veio abaixo, atingido por um raio.

Outro troar, desta vez a estibordo. Ainda iluminados pelo clarão das velas incendiadas, os tripulantes do galeão viram quando uma nau abalroou a Nossa Señora de lãs Maravillas.

— Estamos perdidos! —gritou Alvarado, o imediato do galeão. — Vamos afundar!

— Ainda não! — gritou o Capitão. — Vamos nos safar desta.

As ordens, dadas aos gritos, eram pouco ou mal entendidas, pois as vozes eram sufocadas pela chuva torrencial e pelo barulho da tempestade. Trovões e raios caiam por toda a parte atingindo outras naus.

O galeão abalroado, com rombo impressionante a bombordo, afundava rapidamente.

— Vamos para as águas mais rasas! — gritou o capitão.

— Mas, capitão... — gritou Alvarado, antes de retransmitir as ordens aos tripulantes.

— ... o galeão vai encalhar!

— Sim. Mas pelo menos afundaremos em águas rasas!

— Não salvaremos o Nuestra Señora!

— Mas ficará mais fácil para recuperarmos a carga... mais tarde... quando sairmos daqui!

A tempestade açulava o vendaval, que varria o convés, atirava marujos ao mar e empurrava a nave para os pântanos costeiros.

Um estalo, um CRASH estrondoso. O galeão partira-se em dois.

— Capitão...! Capitão...! — foram as últimas palavras do imediato, que estava na proa, parte que afundou naquele momento.

Por uma dessas coisas que só acontecem uma vez em um milhão, o vento mudou de direção por algum tempo o suficiente para arrastar a popa para longe, para o oceano.

E na popa estava a maior parte da carga bilionária. Lá se foi. Mar adentro, para alto mar, para o oceano.

Apenas seis naus permaneceram em condições de navegar e voltaram para La Habana, porto de onde haviam partido.

Levaram as notícias da tragédia.

Outros navios foram até o local dos naufrágios. Da proa do galeão foi retirada parte do tesouro, como também de diversas naus que ficaram encalhadas nos baixios.

Mas a popa com um tesouro inestimável, e a preciosa imagem de Nossa Senhora, nunca foi encontrada.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 20 de setembro de 2019

Conto # 1127 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 07/02/2020
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