CARA A CARA COM O CURUPIRA

E a aventura continua...

Pedrinho estava muito feliz, pois ele se preparava para passar o final de semana no Sítio Porta Larga, onde seu tio Antônio, pai da prima Salomé, trabalhava como cuidador de cavalos. O garoto estava ansioso queria ficar em contato direto com a natureza, e quem sabe, vivenciar uma emocionante aventura em terras alagoanas. A viagem, aliás, estava marcada para o início daquela tarde. Sendo inverno, Pedrinho temia pelo atraso do tio, que vinha buscá-lo. O tempo estava pardacento e raios argênteos riscavam o céu, mas o que interessava mesmo ao garoto era rever sua prima Salomé, para juntos, curtirem um final de semana diferente...

À tarde, chegaram o Senhor Antônio e José, outro ajudante do sítio, eles vieram comprar remédios para os cavalos e passaram rápido para apanhar Pedrinho. O Garoto cuidava dos últimos preparativos quando ouviu sua mãe gritar:

- Pedro da Silva, venha logo, pois seu tio já está atrasado! Venha rapidinho, senão vai ficar!

Pedrinho ouvindo os berros da sua mãe saiu em disparada ao encontro deles. Antes, passou pelo quintal e apanhou, atrás da moita, um livro que estava lá. Nem deu tempo de olhar o título, colocou-o dentro da mala, e correu até a sala.

- Mamãe, eu estou aqui! Para que tanto grito! Exclamou o menino.

- Pedro da Silva, deixe de lero-lero e cumprimente os visitantes! Pegue sua mala e coloque no caminhão e cuidado por lá.

- Sim mamãe, mas não é conversa mole! Respondeu-lhe o menino.

Pedrinho cumprimentou o tio e José e depois, eles seguiram viagem... O garoto já impaciente com o passar das horas, que parecia se esticar, ficava de minuto em minuto perguntando ao tio se já estava perto do sítio, e o tio lhe respondia, sempre a mesma coisa, bem devagar: “Falta pouco, meu rapaz, para chegar”. Assim, com conversa vai e conversa vem, o menino adormeceu.

Já era noite quando eles chegaram ao Sítio Porta Larga. A propriedade era enorme, tinha muitos animais e o verde da natureza predominava por lá. Chovia intensamente, mas o que Pedrinho queria mesmo era abraçar sua prima Salomé, a sua companheira assídua das aventuras, e contar-lhe as novidades. De repente, Salomé apareceu do nada e puxou Pedrinho pelo braço e foi logo falando:

- Meu primo Pedrinho, eu estou muito feliz pela sua presença por aqui, não vejo a hora de nos aventurarmos por aí! Venha, você deve estar muito cansado da viagem.

- Olá, prima Salomé! Estou bastante exausto mesmo, e nesse momento só quero me deitar, uma rede quentinha e um cobertor para me aquecer. Respondeu-lhe Pedrinho.

Os dois foram caminhando, em passos largos, para a pequena casa que ficava por trás da casa grande. A casinha era simples, muito aconchegante e cercada pela relva verdejante, lá era o local onde Salomé e seu pai moravam. Já acomodados, em redes coloridas, Pedrinho conta o que o esperto do Saci aprontou em seu quintal, e que também o deixou só de cueca e desapareceu no redemoinho. Salomé não parava de sorrir e Pedrinho repetia sem parar: “Vai haver revanche”. Assim, eles adormeceram!

O sol nem havia resplandecido no horizonte e os primos já estavam tirando leite da Vaca Mimosa e saboreando-o ainda espumante. Salomé chamou Pedrinho para um passeio pelos arredores, um reconhecimento do local. O cheiro inebriante da terra molhada predominava. Os dois saíram caminhando bem de mansinho e aproveitando a beleza do cenário. De repente, eles ficaram cara a cara com o Curupira, um personagem lendário do folclore brasileiro. Sabe-se (que de acordo com a lenda, contada principalmente no interior do Brasil, o Curupira habita as matas brasileiras e é de estatura baixa, possui cabelos avermelhados, da cor de fogo, e seus pés são voltados para trás). Pedrinho observou que o Curupira estava com o semblante tristonho. Ele arriscou o diálogo com o ser lendário:

- Curupira o que você faz em nossa aventura? Eu e a prima Salomé não somos caçadores e nem lenhadores, ao contrário, amamos e protegemos a Flora e a Fauna. Portanto, não merecemos as suas imagens ilusórias e nem temos medo dos seus assovios agudos. Pode nos explicar o verdadeiro motivo da sua aparição?

- Pois é Curupira, eu e meu primo Pedrinho somos do bem! Nós te respeitamos e agradecemos por você proteger as árvores, plantas e animais das florestas, e não destruímos as matas de forma predatória! Acrescentou Salomé.

- Preciso de ajuda! Estou com um espinho cravado em meu pé direito, que dói bastante e que também dificulta minha locomoção, como posso fazer para despistar os perseguidores, com esse espinho machucando minha carne, como posso correr sentindo tanta dor. Disse-lhes o Curupira.

Pedrinho ficou pensativo, como ele podia ter certeza que o Curupira estava falando a verdade. O garoto arriscou falar com o lendário do folclore, mais uma vez:

- Curupira, você pode querer nos encantar e nos levar contigo e somente devolver a gente após sete anos. Como posso ter certeza que você está sendo verdadeiro?!

O Curupira olhou para Pedrinho e respondeu-lhe:

- Garoto esperto, se você me ajudar, eu te ajudo no que você quiser! Quer negociar?

Pedrinho pensou consigo mesmo: “Agora é a hora da revanche, vou dar o troco no astuto do Saci”. E disse ao Curupira:

- Curupira, eu e Salomé ajudamos você, tiramos o espinho do seu pé e em troca você me ajuda a tirar o gorro do Saci, sem o gorro ele não vai aprontar comigo e, eu preciso ter uma conversinha com ele.

Pedrinho encarou o Curupira e viu que ele estava com a sua cabeleira vermelha toda em pé. O lendário olhou para Pedrinho e falou:

Eita menino, você quer acertar as contas com o Saci! Eu te ajudo, mas não serei responsável pelo que venha acontecer! Exclamou o Curupira.

Pedrinho e Salomé se aproximaram da figura lendária e viram que ele tinha um espinho grosso cravado no pé direito. Salomé se abaixou e segurou carinhosamente o pé do Curupira, e tirou um grampo de aço do seu cabelo, e com ele foi puxando devagar o espinho, enquanto isso Pedrinho ia colocando água para lavar o machucado e elixir, uma mistura de planta, que servia como cicatrizante. Pouco tempo depois, o espinho saiu e os primos se abraçaram para comemorar. Curupira satisfeito pôs-se a pular. Pedrinho olhou para o lendário e falou:

- Curupira, agora é a sua vez de me ajudar!

- Vocês fiquem sentados embaixo dessa mangueira, que eu volto já... já! Disse-lhes o Curupira.

Não deu tempo nem de Pedrinho e Salomé saborearem todas as mangas que estavam caídas pelo chão. Quando Pedrinho fechou e abriu os olhos, o tal do Curupira já estava cara a cara com ele. E falou baixinho:

- Está aqui o gorro do danadinho do Saci! Ele já está chegando por aí!

A poeira levantou e um redemoinho se formou, logo depois o Saci apareceu, personificado em gente. O lendário gritou:

- Quero o meu gorro! Quem pegou meu gorro?

Pedrinho encarou o Saci e disse-lhe:

- Foi eu quem pegou o seu gorro! Agora vamos acertar nossas contas! Só devolvo o seu gorro, se você me pedir desculpas.

- Menino travesso, já te deixei de cueca, mas preciso de meu gorro. Menino esperto, eu te peço desculpas!

- Obrigada Saci por me pedir desculpas. Aqui está seu gorro e um punhado de tabaco para seu pito. Disse-lhe Pedrinho.

O Saci pegou o Tabaco e seu gorro e desapareceu do nada. Pedrinho olhou para o Curupira que estava descansando na sombra da mangueira, se deliciando com uma manga, e agradeceu-lhe pela ajuda. O menino puxou pelo braço da prima Salomé e eles voltaram correndo para casa. O garoto estava satisfeito da vida, pois deu uma lição no Saci e teve cara a cara com o Curupira. A noite vestiu-se de luz e foi descansar e o dia amanheceu feliz. Pedrinho acordou e retirou o livro que estava guardado dentro da mala e leu o título: “UMA AVENTURA COM O CURUPIRA”, ele guardou o livro novamente e foi tomar leite da Vaca Mimosa. O final de semana passou rápido e ele aproveitou o máximo com sua prima Salomé...

De volta a sua casa Pedrinho guardou o livro na estante e foi refletir na casa da árvore.

Assim, termina mais uma aventura do garoto Pedrinho. Até a próxima pessoal!

Elisabete Leite – 17\07\2019

Pesquisas:

https://noamazonaseassim.com/a-lenda-do-curupira/

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Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 31/01/2020
Reeditado em 31/01/2020
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