Matilda: uma nova chance

Vocês aí, pensem numa “cãssoa” (um canino se achando pessoa) feliz. Sou euzinha, Matilda. Sabem onde estou?! Na casa da praia. Como vim parar aqui?! De carro, é claro, ou seja, o coração da minha humana-mor amoleceu. Aliás, não é a primeira vez que ela permite minha vinda depois do incidente que quase me fez prisioneira da casa de Viamão.

Dia desses (nós, caninos, não sabemos relacionar o tempo), apareceu um ”povareu” lá em casa, até as cãssoa Kika e Amy foram também. Foi numa época que minha humana resolveu plantar uma árvore na sala. Não entendi muito, mas achei bonitinho, porque á noite ela ficava brilhando. De repente, começou todo mundo a ir embora, era um tal de arrumar coisas nos carros, e eu ali, acompanhando tudo. Até meus humanos começaram a por coisas no carro, só que naquele “dela”, então comecei a murchar minhas orelhas... mas pra minha surpresa fui colocada no carro do mano Lucas com minhas amigas Kika e Amy. Bah, foi muito legal, nós três no mesmo carro... melhor ainda quando chegamos na casa da mana Liziane e encontramos o grandalhão do Gulls. Bota cãossoa bom nisso. O que tem de grande tem de gentil. Tudo só diversão, naqueles dias de correrias dos humanos.

Eis que de repente meus humanos me colocam no carro deles e dali partimos, só nós três. Perguntem como viajei? Suspirando de tristeza, é claro. Sem entender nada. Nem liguei que vim com a guia bem curta lá atrás do carro (parece que chamam porta malas), pois não queria nem me mexer muito mesmo. Todo aquele movimento de pessoas e minhas amigas caninas, a família reunida, toda alegria, ficaram para trás. Chegamos na casa da praia e eu ainda suspirava, com minhas orelhas baixas. Nem meu rabo queria se mexer, tratei de ir dormir, afinal ouvi os humanos dizerem que “o travesseiro é um bom conselheiro”, apesar de nem saber o que é isso, só sei que serve pra dormir.

Pra minha surpresa, antes da minha humana mandar eu dormir de novo, chega um carro com uns humanos e junto com eles uma canina, a Belinha, que não quis fazer amizade comigo. Sabem como é, cãssoa de apartamento, cheia de fru-fru... Quando já estava começando a me acostumar com minha solidão, ouço o barulho de um carro conhecido, enfio meu focinho no portão e meu rabo começa a girar - são eles sim, são eles - meu irmão humano Lucas e sua turma, ebaa, a festa vai continuar por aqui. Durmo com a Kika e a Amy, bem feliz.

Juro que não entendo os humanos, assim como estão juntos, entram nos carros e “zupt” desaparecem. E nós três também, entramos no carro e voltamos pra casa. Eu já pensando que a situação com minha humana estivesse resolvida. Me achando a cãssoa da hora, que jamais ficaria em casa quando eles saíssem. SQN, meus humanos saíram e me deixaram aos cuidados do senhor Júlio, o pedreiro, de novo. Fiquei lá com os três felinos. Ainda bem que a gatinha Filó me fez companhia no soninho da tarde. Deitamos em baixo das árvores e puxamos aquele ronco.

Mais uma vez vi movimentos estranhos na casa e nos meus humanos. Começaram a puxar os móveis, tirar as coisas do lugar, cobrir tudo. Deitei com os gatos, Deim e Faísca na cozinha, tentamos entender o que estava acontecendo, mas sabem como são os gatos, de muito pouca fala, acabaram não me dizendo coisa com coisa.

Então só me resta acompanhar os movimentos dos humanos mais de perto. Opa, vi o humano-mor arrumando a caminhonete desta vez, ou seja, o nosso carro, meu e dele; hum, aquela lata laranja é a da minha ração e esta indo pra dentro do carro; minha cama que a tia Lúcia me deu, também? Minha humana mandou ir dormir, será que consigo? Pela manhã, meu humano põe a coleira em mim, bem, dai deu né gente, não tinha mais dúvidas, -#matildapartiujunto- restava saber em qual espaço da caminhonete eu iria. Esperança maior = banco da frente; esperança menor = banco de trás. Fico ali, no controle, não perco um passo sequer dos meus humanos. Vejo que a parte da frente da caminhonete está ficando cheia com as tralhas “deles” e me pergunto: e euzinha aqui, onde vou? Quando por fim meu humano me ajuda a subir na parte bem de trás , mas pensem de trás...

Minha cabeça deu um nó, por um instante não sabia mais o que seria da minha quase doce vida. Como ficaria ali, sozinha? Não enxergava meus humanos, nem ouvia a voz deles! Porém, lembrei que nós, caninos, temos muita coragem e também confiamos muito nos nossos humanos. Se me puseram pra viajar ali é porque seria seguro. Além disso, lembrei que não estava com minha barra muito limpa pra exigir lugar especial no carro. Tratei de ficar quieta e – seja o que deus quiser.

Sabem que gostei do lugar que ocupei! Apesar de ter ouvido meu humano dizer que acabei viajando numa tal classe econômica. Tô nem ai, o que quero é estar com eles. Quem sabe um dia minha situação melhore e volte pra primeira classe. Esperança sempre!

Matilda

Tânia França
Enviado por Tânia França em 28/01/2020
Reeditado em 28/01/2020
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