UM SACI EM MEU QUINTAL
E a aventura continua...
Era uma manhã de inverno fria e penetrante, um resto de neblina se escondia por trás dos montes, porém nesse dia não chovia muito, era apenas o orvalho, uma chuva miúda, que aguava as folhagens das plantas no quintal da casa de Pedrinho... Sendo férias escolares, o garoto quase sempre acordava um pouco mais tarde, mas naquele dia tudo foi bem diferente. O menino foi despertado pelos berros da sua mãe que não parava de gritar:
- Pedro da Silva, venha aqui, por favor! Eu preciso de algumas explicações sua, com urgência.
- Oxente mamãe! Por que está gritando tanto, logo cedo? Vice, a senhora é o maior despertador do século.
- Filho, não é tão cedo assim, já passa das seis horas e, o sol ainda não resplandeceu no horizonte, porque é inverno. Portanto, deixe de conversa fiada e me explique qual o motivo dessa bagunça toda, em meu quintal?
- Eita mãe, eu não estou entendendo nada! De qual bagunça a senhora está se referindo?
- Pedro da Silva, eu deixei os milhos da canjica já debulhados dentro do tacho e encontrei-os espalhados pelo quintal, também deixei as roupas lavadas e penduradas no varal e achei-as amontoadas no chão. Fale depressa, menino! Que os seus argumentos me convençam, pois eu estou pronta para ouvi-lo.
- Mamãe, eu não sei nadinha de nada, porém vou averiguar direitinho. Eu acredito que tenha sido um temporal de inverno, que arrasta tudo pela frente.
A mãe de Pedrinho saiu resmungando: “Esse menino pensa que sou besta; um temporal de inverno”. “Sei não viu!” Quando a mãe do garoto já estava na cozinha, Pedrinho aproveitou para procurar as evidências daquele mistério matinal. Ele foi até àquela moita, que ficava no quintal, a mesma das outras aventuras, e retirou de lá um livro que estava escondido. Na verdade, ele estava morrendo de medo de olhar o titulo da obra, mas criou coragem e leu em voz alta: “As Novas Aventuras do Saci-Pererê”. O garoto ficou inerte, com medo até de pensar, mas ele sabia que vinha uma nova aventura por aí... Pedrinho deixou o livro no mesmo local e saiu à procura do personagem principal da sua aventura, pois ele se sentia o coadjuvante naquele momento. Ele precisava elucidar e pôr um fim no mistério. Para Pedrinho o papel principal era de quem praticou aquela bagunça toda, o astuto do Saci; a figura mitológica do folclore brasileiro estava aprontando em seu quintal.
De repente, Pedrinho sentiu uma ventania surgir do nada e um redemoinho formou-se e, levantou bastante poeira para todo lado. Assim, surgiu em sua frente um Saci personificado, de carne e osso. Sabe-se que: (o Saci também conhecido como Saci-Pererê, e de tantas outras denominações, é um personagem bastante conhecido do folclore brasileiro). Pedrinho observou que o esperto lendário estava sem seu gorrinho vermelho, que era uma das principais peças de seu vestuário. Então, Pedrinho resolveu puxar conversa:
- Saci, o que você está fazendo em meu quintal? Bagunçou tudo por aqui e, deixou sua marca registrada, um montão de travessuras.
- Eu quero o meu gorro mágico! Exclamou o Saci.
- E eu sei lá de seu gorro, criatura do outro mundo! Você é uma Lenda. Mas, vamos negociar? Eu te ajudo a encontrar o seu gorro e em troca você me ajuda a organizar o terreiro. Quero deixar tudo limpinho para mamãe parar de gritar.
- Menino esperto, eu te ajudo se além de você encontrar meu gorro mágico, também você compre para mim um punhado de fumo (tabaco da melhor qualidade) para meu pito (uma espécie de cachimbo). Só assim, negociarei com você. Disse-lhe o matreiro do Saci-Pererê.
- Concordo com as suas exigências! Você é bem mais esperto do que eu pensava! Exclamou Pedrinho.
Os dois saíram para procurar o tal do gorro que tinha poderes sobrenaturais. Padrinho teve a ideia de procurar na roupa suja que estava na bacia; ele foi separando peça por peça, e finalmente encontrou o gorrinho vermelho misturado nas saias rodadas da sua mãe e falou para o astuto Saci:
- Olha aqui, o gorro que você mesmo escondeu!
- O Saci, lendário matreiro, pegou o seu gorro mágico e deu uma risada bem rasgada, e logo depois falou:
- Hahaha... hahaha... Eu mesmo escondi! Claro, que fui eu! Agora, só falta o fumo para o meu pito, o principal propósito para minha aparição por aqui.
Pedrinho deixou o Saci rindo sem parar e saltitando como uma perna só; saiu correndo para apanhar um punhado de fumo no casebre do velho Zé Tião, um estimado amigo da família. Ele trouxe o fumo e entregou ao lendário e disse-lhe que faltava o Saci cumprir a parte dele no acordo, que era deixar o quintal todo arrumado. Então, o tal Saci fez uma mágica com seu gorro e deixou o quintal como novo, tudo em seu devido lugar: os grãos de milho dentro do tacho, as roupas limpinhas e estendidas no varal. A aventura estava quase terminando e o caso tinha sido elucidado. Mas, o lendário Saci não partiu sem antes aprontar, ele deixou Pedrinho somente de cueca, fazendo o seu calção desaparecer no ar. O maroto Saci ficou gargalhando e dizendo: “Saci não leva desaforo para casa!” e como um passe de mágica ele desapareceu.
O menino Pedrinho vestiu outro calção, apanhou o livro que estava atrás da moita e colocou-o na estante... Sua mãe ficou radiante de felicidade quando viu o quintal todo limpo e arrumado, mas desta vez falou bem baixinho:
- Pedro da Silva, quando você quer, faz tudo direitinho!
Pedrinho estava irado pelo que havia acontecido, que nem prestou atenção no que sua mãe falava. Saiu soltando faíscas para todo lado, foi se recolher na casa da árvore, pensar no troco que vai dar ao Saci.
Aqui termina mais uma aventura do garoto Pedrinho. Até a próxima pessoal!
Elisabete Leite