O FEITIÇO DE IARA

Mais uma vez aventura...

Pedrinho amanheceu eufórico, pois logo mais iria viajar para rever seus parentes, sua mala já estava arrumada, mas o que ele queria mesmo era chegar ao local de destino, tão esperado, e aproveitar momentos de puro lazer...

Todo ano era a mesma coisa, o dia 12 de outubro era comemorado no sítio da Dona Estela, avó das crianças, porém são tantas expectativas que sempre parecia ser a primeira vez para o garoto Pedrinho! Dona Estela procurava fazer uma festinha inesquecível, para todos os seus netinhos, em comemoração ao dia das crianças. Um evento lindo e colorido, com muitas brincadeiras, guloseimas, aventuras e fortes emoções. E Pedrinho tinha certeza que aquele ano não seria diferente, pois para ele será um dia bastante especial, sempre em companhia dos seus quatro espertos primos e sua prima Salomé, aquela de tantas aventuras, que com toda certeza, todos estariam presentes... O sítio da Dona Estela ficava em Belém de São Francisco, no Estado de Pernambuco, num lugar encantador, onde o verde predominava e, o melhor de tudo, era que ficava localizado às margens do Rio São Francisco.

Pedrinho levou um susto danado quando Salomé entrou em seu quarto. Era difícil de acreditar, pois diante dele estava a sua divertida prima vestida de Iara, com uma fantasia de sereia (metade mulher e metade peixe), uma peruca com longos cabelos negros; ela parecia até a própria personagem do folclore brasileiro... Pedrinho pressentindo que tudo poderia acontecer quando se encontrava com Salomé, ele foi logo dizendo:

- Bom dia, prima Salomé! Eu não vou vestir fantasia nenhuma, não quero ser enfeitiçado pela Iara e não irei participar dessa sua aventura, o que eu quero mesmo, é chegar ao sítio da vovó e aproveitar nossa merecida festinha. Pois, eu ainda sou criança!

- Bom dia, primo Pedrinho! Mas, eu não falei nada! Como você sabe primo, lá no sítio da vovó Estela tem um lindo rio, e eu aproveitei para usar minha fantasia do carnaval do ano passado, para banhar-me fantasiada de sereia nas águas do rio. Oxente menino, foi somente isso! O carro que irá levar a gente até o sítio já está estacionado em frente da sua casa. Disse-lhe Salomé.

Salomé pegou a mala de Pedrinho, puxou o primo pelo braço e saíram correndo em busca de novas aventuras...

Já era quase meio-dia quando eles chegaram ao sítio da avó Estela. Pedrinho e Salomé correram logo ao encontro dos seus primos: Leo, Juca, João e Theo que já estavam no quintal esperando por eles. Todos se cumprimentaram e foram brincar de esconde-esconde próximo às margens do Velho Chico. Muitos gritos, correria, quedas, machucados e grande animação... De repente, Pedrinho percebeu que estava sozinho, olhou para um lado e para o outro e nem uma viva alma, permaneceu cabisbaixo sem entender nada, foi quando começou a ouvir uma música suave, tão suave que parecia até uma magia; ele começou a ficar tonto, foi quando viu dentro do rio e em cima de uma pedra, uma linda índia de cabelos longos e pretos, de corpo muito bonito que era metade peixe e metade mulher. Pedrinho tomou fôlego, tentando desviar os seus pensamentos, mas parecia enfeitiçado pela figura daquela índia, pois que a música o atraia para dentro do rio, a beleza da índia era irresistível, e ele só queria chegar perto dela. Logo, Pedrinho sentiu longos cabelos envolvendo seu corpo e a música não saía de seus ouvidos, na verdade inebriava os seus sentidos. Mas o garoto era esperto e procurava a todo custo se desvencilhar daquela situação. Tentou se comunicar com aquele ser lendário. E gritava com toda sua força:

- Iara, me deixe em paz! Você é uma lenda da Região Amazônica, e aqui é Pernambuco! Então, vamos negociar, pois eu já conheci muitos outros seres lendários da Mitologia e do Folclore, e amanhã é dia da criança e eu quero festejar com meus familiares. Não quero morrer agora!

Porém, quanto mais Pedrinho se debatia mais ele afundava nas águas daquele rio misterioso. O garoto já estava se sentindo cansado e vencido, quase sem forças, fez uma última tentativa, e falou com seus pensamentos: “Iara, se você me deixar viver, eu te prometo que trarei várias guloseimas e também flores para enfeitar seu lindo cabelo, no dia da festa da criança.” Como em passe de mágica, Pedrinho começou a se sentir livre e escutou uma voz chamando por ele: - Pedrinho, nade para a margem do rio! Venha aqui, por favor! Era a voz da prima Salomé que gritava sem parar, pois ela achava que seu primo estava se afogando... Salomé chamou sua Avó Estela para ajudar Pedrinho. Logo depois, sua avó o trouxe para o sítio ainda desnorteado. A senhora já conhecendo as crendices daquela região mandou chamar um antigo morador, Zé Pajé, para olhar seu neto que permanecia imobilizado. O senhor deu um chá de ervas para Pedrinho, que dormiu até o outro dia, e acordou de bem com a vida e sorrindo para o mundo... Assim, Pedrinho, Salomé e os primos foram tomar banho de chuva no terreiro; eles estavam ansiosos para a festinha de logo mais à tardinha. Quando o sol foi se escondendo por trás dos montes e os crepúsculos avermelhados começaram a embelezar o céu, daquele sábado primaveral de 12 de outubro, os festejos começaram. Em frente ao velho casarão todos brincavam animados: de amarelinha, corrida de saco, O mestre mandou, cabra-cega, quebra-pote, ovo na colher, dança das cadeiras, academia, passa-anel, e entre tantas outras brincadeiras populares... Pedrinho aproveitou que todos estavam entretidos conversando, colocou muitos doces dentro de um cesto, fez um arranjo de flores silvestre e foi até o rio entregar o presente para a lendária da Iara. Ele aproximou-se devagar da beira do rio, entrou na água até a sua cintura, deixou o cesto e o arranjo no rio e voltou para casa da avó, sem nem olhar para trás. A festa em homenagem ao dia das crianças durou a noite quase toda. Quando todos já estavam mortos de cansados, foram se recolher e até o luar foi dormir.

O dia amanheceu radiante no sítio da avó de Pedrinho, Dona Estela organizou rapidinho os pertences dos seus netos, pois que era hora das crianças voltarem para casa... Já em casa, Pedrinho foi direto até o quintal, apanhou o livro que estava atrás daquela moita aventureira, leu o título em voz baixa: “O FEITIÇO DE IARA”. Deu meia volta, fechou o livro, colocou-o na estante e foi sonhar com a índia Iara na casa da árvore.

Assim, termina mais uma aventura com Pedrinho! Até a próxima pessoal!

Elisabete Leite

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 12/01/2020
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