UM PIQUENIQUE NA CIDADE NATAL

Era uma manhã primaveril, o sol despertava radiante, e mostrava seus raios exuberantes de um brilho nunca visto antes... José acordou bem cedinho e foi terminar de arrumar seus pertences, pois o garoto iria passar o final de semana na casa dos seus avós, na cidadezinha interiorana que o viu nascer. O menino comeu o seu desjejum matinal e foi conversar com sua mãe que já o esperava, para passar-lhe as últimas instruções. José iria viajar sozinho de trem até à estação onde os avós moravam. Ele entrou na sala de estar e quebrou o silêncio:

- Bom dia, mamãe Eugênia! Eu estou muito feliz, pois logo mais estarei na minha cidade natal. Não precisa passar um sermão, pois eu já tenho 10 anos e sei cuidar de mim.

A mãe de José olhou firmemente para ele e falou:

- Bom dia, meu querido filho! Só eu sei o quanto você é valioso para nós. Seu pai está na lida e eu preciso cuidar dos animais diariamente. Portanto, escute o que tenho para dizer-lhe: você irá viajar sozinho, tome muito cuidado na viagem e aproveite para interagir com seus avós maternos, pois eles zelarão por você em nossa ausência.

O garoto deu um beijo no rosto da mãe e saiu correndo para apanhar a única condução que o levaria até à estação de trem...

José olhava todo cenário pela janela do trem, seus olhos percorriam do verdejante campo até os altos montes, as brancas nuvens viajavam ao léu e destacavam-se no azul do céu; por lá o aroma era de poeira e mato. De repente, o menino avista a pequena cidade onde nascera. Seus olhinhos brilhantes se encheram de lágrimas, pois ele tinha saudade dos seus avós. Logo, ele viu o avô encostado à velha pilastra da estação municipal. Pela janela ele acenou e salpicou um beijo para o velho Januário, que retribuiu com um largo sorriso. O trem deu um apito longo e estacionou bem em frente ao avô do garoto, que correu ao seu encontro. O menino José abraçou o avô e foi logo perguntando pela sua avó:

- Que saudade, vovô Januário! Sinto muita falta de vocês, que às vezes chego a chorar de tanta emoção. Vovozinho, como vai à vovó Versulina?

O avô acariciou o rosto de José e respondeu-lhe em seguida:

- Sabe José, Versulina ficou fazendo uma deliciosa torta de morango para você e uma galinha de capoeira guisada, que somente ela consegue deixar com um gosto todo especial, para a gente almoçar. Vamos para casa, meu netinho?

Os dois foram caminhando de mãos dadas, e logo começou a cair uma garoa fina, refrescando assim, os rostos suados do avô e do neto, que mudaram o roteiro, apressaram os passos e seguiram pela estrada de barro, para encurtar o caminho até o sítio... Meia hora depois eles chegaram ao local de destino, o velho sítio da família Solimões, que ficava um pouquinho afastado da cidade... Após os abraços carinhosos da avó, um almoço reforçado e uma sobremesa deliciosa; era hora de José fazer um reconhecimento pelas redondezas e matar a saudade da sua cidade natal. O cenário estava magnífico: havia diferentes espécies de pássaros a gorjear, o clima estava ameno e ele teria toda tarde para se divertir e se emocionar. Logo, ele resolveu subir na parte mais alta daquela simples propriedade para apreciar àquela cidade que tanto amava, de todos os ângulos; só de cima ele conseguiria contemplar a exuberante arquitetura colonial da praça do coreto, onde tantos concertos musicais passaram por lá. A emoção era tanta que José nem se deu conta do adiantar das horas, já era quase noite, o sol foi se despedindo e dando passagem a um magnificente luar. Nesse clima formidável, o dócil José, deitou-se na relva verdejante e ficou observando as estrelas que brincavam de esconde-esconde por toda extensão do céu. De repente, ele escutou um grito forte, olhou para todos os lados, pois procurava descobrir a direção do pedido de socorro. E assim, foi seguindo a cadência do som, e logo avistou um buraco do outro lado da cerca, provavelmente em outra propriedade. Afastou, com muito cuidado, os arames farpados, adentrando em um local desconhecido, que ele não sabia da procedência. Aproximou-se devagar e observou que no fundo do buraco estava uma pessoa desmaiada. Ele não pensou duas vezes, e por puro instinto pulou para socorrer quem precisava; imediatamente a lua contribuiu e o auxiliou, iluminando todo ambiente. Somente assim, foi que José identificou uma jovem garota. Aproximou-se dela e procurou comunicar-se com a mesma:

- Menina acorde, por favor! Você está machucada? Precisamos sair daqui!

A garota perplexa despertou do desmaio, pôs-se a chorar e começou a bombardear José com diferentes perguntas:

- Como eu pude cair aqui? Quem é você? Por que veio me ajudar? Quero sair daqui e ir embora, agora!

José sentou-se mais perto da menina e foi respondendo a enxurrada de perguntas dela:

- Vou procurar responder uma pergunta de cada vez mocinha! Sou José, ouvi uma pessoa gritando, corri para ajudar e te encontrei caiada aqui dentro. Agora é a sua vez de responder as minhas indagações! Quem é você? Como você veio parar dentro desse buraco? E graças a Deus que a senhorita não está machucada.

- Eu sou Maria Alice, estava caminhando distraída quando avistei um ninho de João-de-barro, e tentei subir na árvore para olhar de perto, porém não sei como, cai nesse buraco.

José escalou o buraco e ajudou a menina Alice a sair daquele local. Ela muito agradecida o convidou para um piquenique no rio, no outro dia após o almoço. Eles se despediram, e cada um foi para sua casa... José jantou e ficou deitado na rede escutando os causos engraçados que o seu avô contava; o garoto sorria e chorava ao mesmo tempo. A lua se deitou, o sol resplandeceu e um novo dia amanheceu...

Era uma bela tarde, apropriada para um piquenique no rio, Maria Alice e José se encontraram no local combinado, às margens de um lindo riacho. O clima estava muito agradável e contribuía para aquele tão esperado momento. A menina Alice ficou encarregada de encontrar um local adequado para eles ficarem. Assim que o encontrou, estendeu uma toalha de mesa quadriculada no chão e lá colocou a cesta com as frutas, sucos e lanches saudáveis. Os dois ficaram conversando sem parar, falavam sobre as escolas deles, a família de cada um, os avós queridos, a cidade onde nasceram, e tantas outras coisas. José estava radiante de felicidade, aquele momento era único para ele, ter a chance de voltar à cidade natal e conquistar uma nova amiga, era tudo que ele mais queria na vida. Chegou a hora do lanche. Alice retirou da cesta dois sanduíches de frango e uma pequena jarra com suco de laranja. Os dois se sentaram sobre a toalha e começaram a comer. A garota falou para José que morava com os pais em um vilarejo próximo dali. Enquanto, José explicava para a sua nova amiga que no outro dia já voltaria para casa, pois ele estava passando um final de semana com os avós. O silêncio permaneceu entre eles. Então, José resolveu quebrar o gelo:

- Alice, vamos tomar banho de rio? Devemos aproveitar cada minuto juntos. Amanhã será um novo dia, e eu te prometo que voltarei nas férias.

A menina olhou fixamente para José e respondeu-lhe com um lindo sorriso estampado no rosto.

- Sim, vamos aproveitar cada segundo! Venha me pegar se tiver coragem e disposição para correr!

Os dois caiaram nas águas límpidas daquele ribeirão e brincaram de pega-congela até o anoitecer. Quando a noite desceu, eles limparam todo local, recolheram os pertences, se despediram e cada um tomou uma direção diferente...

Logo cedinho, o garoto já estava esperando o momento de voltar para casa. Sua avó Versulina colocou um lanche nutritivo na mochila dele, e seu avô Januário foi deixar José na estação de trem. O trem partiu e o coração do garoto estava apertado, pela janela da locomotiva ele olhava a sua cidadezinha natal se distanciando dele cada vez mais. De repente, quando o trem fez uma leve curva o menino avistou Maria Alice em cima do telhado da cada dela acenando para ele. José retribuiu, enviando-lhe um beijo. Somente restava o som do apito da locomotiva que carregava, em seus vagões vazios, as doces lembranças de José e a saudade da sua terra natal... Piui! Piui! Piuiii!...

O tempo passou depressa e José sempre voltava à cidade natal para rever os avós e sua amiga Maria Alice.

Assim, foi UM PIQUENIQUE NA CIDADE NATAL... Até a próxima historinha!

Elisabete Leite

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 03/01/2020
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