A aventura que rasga-me a alma
Novamente sozinha na estrada. Passo por lugares já antes vistos, mas novos, sempre novos. Perco-me entre as horas de música, leitura de Paulo Freire e paisagens. De dia, o sol traz potência ao verde fugaz da mata. As nuvens em seu bailar, trazem formatos e sombras. De noite, a frescura selvagem do deleite da estrada sem prédios e luzes das cidades. A lua cheia estrala em sua prateada e apaixonante razão. O céu negro, com o tapete de estrelas em sua ardência, longe da poluição. Me derreto. Contemplo. Na mente, lembranças dos amores, dos beijos quentes, dos abraços, dos meus carinhos incansáveis, dos corpos arrepiados, do doce do lamber das línguas, dos copos cheios de cerveja gelada, das risadas altas e do riso frouxo. A ansiedade da chegada e da possibilidade de deitar-me novamente nos braços dos que amo. O desejo da conversa física, de toque na pele, mãos entrelaçadas, pernas enroscadas e olhos que se engolem. Olhos gulosos que prestam atenção em tudo; que se perdem nos relevos das montanhas e pedras. A alegria de tanta felicidade. A ambivalência que chega ao sentir o desepero de saber que precisarei ficar cara a cara com atiradores que lançaram facas em minha direção. Continuo, como sempre, pois sou como a haste fina, que verga com toda brisa mas que não se corta com nenhuma espada. Viro e reviro. Vou além, me recolho no esplendor das nebulosas, porque meu conto mais bonito é sobre como a vida é a aventura que rasga-me a alma.