A caminho da reserva

O que era mais fácil: combater ou alimentar os índios ?

- Nem uma coisa nem outra - assegurou-me cinicamente um fazendeiro mórmon barbudo com quem cruzei perto do rio Cheyenne. - O melhor mesmo é trancar os malditos peles-vermelhas nas reservas e deixar que morram de fome!

Mas a fome pode tornar as pessoas raivosas. Mesmo índios acostumados a passar privações.

- Então chamamos o exército e passamos fogo nos canalhas - assegurou-me ele, batendo na coronha do Colt que trazia na cintura.

De um jeito ou de outro, em Dakota do Sul o "problema índio" parecia resolvido naquele gélido inverno de 1890. E então por que ele estava indo para a cidade com suas três mulheres, cinco filhos, e todos os seus pertences numa carroça?

- Então não soube? - Questionou. - Esses facínoras estão dançando feito loucos, desde o outono! Você sabe o que isso significa, não sabe? De onde você é, camarada?

Nova Iorque.

- Ah, logo vi que não era daqui. É uma dança de guerra, cidadão! Ninguém está seguro. O melhor que o exército faz é acabar com essa agitação de uma vez por todas! Se eu fosse você, daria meia volta. Por esse caminho, vai sair exatamente na reserva do rio Cheyenne.

Encarei a estrada que ia para o norte, tornada quase negra pela mistura de neve com lama. Era exatamente para lá que eu estava indo.

- Que o anjo Moroni o acompanhe! E cuidado para não voltar sem o escalpo!

"Não há nada lá para temer", pensei comigo mesmo.

Ergui o Stetson em saudação e prossegui no meu caminho, enquanto a carroça puxada por uma junta de bois marrons desaparecia rangendo no horizonte.

- [08-12-2019]