Dólar ou CDC?
Escrevo um ótimo conto chamado Eu sou o inimigo. Pra variar a internet ou a rede elétrica boicotam minha parca criatividade. Trotsky, o gato preto que eu tenho o carma de manter vivo, arrisca e risca outro disco bom que ainda não ouvi. Xinga-lo só reforçaria o estereótipo.
De manhã, chego manso em uma organizada rival e peço informações geográficas. Estava caminhando sob o sol mais de duas horas seguidas.
Sem risco de morte, prossigo e mato um Corote no caminho evitando dar mal exemplo aos escolares. Até pra ficar louco é preciso disciplina. Ligo o computador e a tela azul que se apresenta me tira qualquer espectativa de travessões para o diálogo.
" Haaaaaaaaaank, tem um rato na cozinha da minha casa, faça alguma coisa!"
Minha ex grita no WhatsApp. Pelo tom e o volume da voz é provável que o roedor tenha fugido de lá à procura de uma vida mais tranquila. Bem, é como um convite pra tomar um café. Por que não uma visita à ela?
" Hank, não vai trabalhar não? Tá falando com quem no celular?"
Lee me puxa a orelha com sua voz maravilhosa. Penso três vezes e acho mais seguro não responder. Abro o novo álbum do Sepultura que chegou pelo correio e admiro a capa. Procuro um par de fones para nenhum espírito inferior atrapalhar a audição.
Por razões pessoais ainda acho que A-lex é o melhor da bandinha de rock pesado. Enfim, Wu-Tang Clan sempre ajuda a treinar o inglês, troco a música e deixo o som rolar na boom box.
" Hank, põe uma música mais calminha por favor, November Rain do Guns and Roses ia me deixar feliz... "
" Poxa Lee, até amor tem limite, vou ao banco pagar a pensão pro meu menino, o rádio é seu."
"Grosso..." ela diz entrelinhas e me fuzila com o olhar. Me faço de desentedido e procuro a chave da porta de casa. Sem paciência para tecnologia, tiro o Uno 97 da garagem e, após três tentativas, o velho guerreiro liga e reclama com o motor da gasolina tupiniquim batizada com água.