Suave noite
A noite daquele sábado, era o mês de junho, estava suave, e cheia de vida. Inspiradora. Germano Bristo – o GB – segue solitário por uma rua, uma ruela. Está meio deserta.
O silêncio o acompanha. Daqui e dali alguns ruídos, vozes, buzinas, música. É uma área do (baixo) meretrício.
Prostituição é atividade antiga. Certamente começou quando o homem passou a racionar, ser um “ser pensante”.
Se diz que foi a primeira profissão do mundo. Hoje, em meio a tantos avanços, principalmente na área tecnológica, a profissão permanece firme – e forte, gerando baixos e altos ganhos.
GB sente um vazio, a alma está apática, falta-lhe algo – isso é corriqueiro, é comum na gente. Mas segue em frente, conversa consigo mesmo. Aproveita para apreciar o brilho da lua, tímida, solitária – ela está sempre solitária – escondida entre nuvens.
Para não deixar-se dominar pela secura d’alma, direciona o pensamento para coisas já idas, lembranças agradáveis. Nossa mente guarda informações prazerosas – e amargas, para sempre. Não podemos deletá-las. Nem umas, nem outras.
Sente-se confortável recordando acontecimentos de sua vida. Vêm-lhe alguns dissabores, frustrações. Logo procura eliminar esses pensamentos. Não faz bem remoer negatividades. Não, não.
Essas lembranças, as agradáveis, lhes servem de "muleta" emocional, dão-lhe proteção, o coloca na zona de conforto, temporariamente.
Avista um bar, lhe dá vontade de sentar à mesa, beber alguma coisa. Quando estamos sós buscamos alguma coisa para nos entreter, nos distrair.
Senta-se – e uma antiga música está tocando. Ela o faz recordar o tempo da juventude. Uns 45 anos atrás, por aí, fase da juventude. O ambiente não tem muita gente. Alguém se aproxima, é uma mulher. Ela o cumprimenta: ----- Boa noite, cavalheiro. Desculpe-me, por favor, entrar assim na sua intimidade, sem o conhecer.
Um pouco surpreso, GB a encarou. Logo descontraiu. A mulher tinha um sorriso cativante, cabelos negros, morena clara. Elegante, usava um vestido marrom.
–---- Não tem nada, fique à vontade. Meu nome é Germano, sobrenome Bristo. Conhecidos e parentes meus me chamam “GB”. Se quiser sentar...
–--- Bem, sou Madalena. Gosto deste nome. É bíblico, santo. Venho aqui, a este local mundano, a zona do meretrício, vez por outra. Tenho meu trabalho, sou empregada doméstica. Bem, Germano – melhor, GB – é uma satisfação te conhecer. Posso tratar você de “tu”?
–---- Sim, para mim é até melhor esse tratamento. Fico mais à vontade...
Continuou: –--- Madalena, teu nome é bonito. Coube bem em ti. És bonita. É um nome santo. Madalena é a primeira pessoa a ver Jesus ressurgido, ressuscitado. Uma mulher, pelo que sei foi uma pecadora, mais ou menos isso... Porém teve o perdão dele, Jesus. Excelente ser perdoado, as pessoas rejuvenescem ao pedir perdão. Ser perdoado é também muito benéfico.
–----- É, uma pessoa marginalizada, parece-me que era meretriz, ou adúltera. GB, parece ironia, eu, como àquela Madalena, tenho uma vida assim, digamos, irregular, bandida. Frequento este local para ter uma renda extra. Irei abandoná-la, quero fazer isso, creio em Deus.
Germano chamou a garçonete, pediu a ela uma cerveja, dois copos. –---- Queres tomar uma cerveja, Madalena?
------ Sim, aceitou ela o pedido.
Ficaram juntos naquela noite.