Reflexo no espelho.

Eles me disseram que para salvar, a alma aprisionada de mimha amada, eu devia trazer até o seus pés, -esses protegidos com a pele de animais, que muito bem poderiam ser seus a ancestrais, em outra vida- todas as riquezas de meu povo. Como eu, o mais forte guerreiro de mimha tribo, poderia aceitar tais ordens, sem nem lutar??? A magia do homem branco, era mais poderosa que a do nosso poderoso pajé. Temo que nem mesmo Tupã, possa lutar contra o seu Deus morto e renascido no terceiro dia. Um povo que assassinou o seu próprio Deus, não pode ser de confiança.

Cruéis eles eram!!!!

Monstros!!!

Assassinos!!!

Um homem de grandes vestes, que eles diziam ser, a palavra de seu Deus nessa terra, negava nosso poderoso Tupã. Será que o homem branco, poderia matar até nosso criador? Na dúvida, era melhor seguir suas exigências, assim teria minha amada, devolta em meus braços.

Pelas encostas ingrimes, de profundos vales, eu, caminhei. Vagando, por longas planícies, lembro-me, que nunca trouxe, meu amor, até esse local sagrado. Ao final de 10 entardeceres de caminhada, chegamos a uma grande cachoeira. O barulho da queda da água, assustava, meus acompanhantes. Expliquei, para eles, que esse era Tupã, demonstrado sua ira! por atentarmos, em local sagrado. Enquanto, meus acompanhantes, alegravam-se em ver as pedras que brilhavam nas paredes, da caverna, que ficava abaixo da cachoeira, resolvi ir até as águas, buscar sabedoria, de meus ancestrais.

O dia, começou a ficar escuro, como a noite. Um clarão, tomou os céus. Um estrondo, vindo por entre as nuvens, abafou, o barulho da queda da água. Seria, essa a resposta que eu tanto esperava? Nem a magia, do homem branco, poderia deter, a força de um guerreiro tupiniquim, conquistadores dos Tapuas! Mais um clarão, surgiu dos céus, porém, dessa vez, ele me ajudou a enxergar, o homem branco, que apontava, em minha direção, a arma que cuspia fogo. Com toda a minha destreza, peguei, a primeira pedra, que enxerguei, no leito do rio e acertei sua cabeça. Um outro estrondo! Mas esse não vinha dos céus, senti minha perna esquentar, um filete de sangue, saia de minha coxa. O segundo homem branco, estava a correr até o outro para prestar socorro. Com a força, de todos os guerreiros ancestrais, de minha tribo, corri até meu agressor. Rolamos, pelas pedras, até acertar as águas do rio. Esse era muito mais forte que seu acompanhante, porém, eu, alcancei uma pedra, e, o acertei entre os olhos. O homem cambaleava, cegamente, a minha procura. Não poderia, deixá-lo vivo. Poderia esse achar, o caminho de volta, e avisar nossos invasores. Não seria uma morte nobre, mas, o que me restará, fora afogalo, nas águas sagradas do nosso rio. Refletindo, agora no caminho, de volta para minha tribo, fora uma ótima morte, para um ser, que matou seu próprio Deus. Morto, nas águas sagradas, do grande Tupã. Até eu me honria, de uma morte assim.

A dor, era dilacerante, em minha coxa. Não havia, tempo para meu descanso. Minha amada companheira, ainda estaria, com sua alma presa, naquele maldito artefato mágico! A raiva tomou conta, de meu coração! nenhuma dor, iria se opor, a minha vingança. Com a velocidade de Tupã, roubaria o artefato, de nossos invasores, e, com a força dos espíritos ancestrais, quebraria, tal maldição lançada, e destruiria meus inimigos. Com a perna machucada, levou o dobro do tempo que havia percorrido até a cachoeira, para chegar até a sua aldeia. Esperou ate que anoitecesse, pois como estava em desvantagem, com seus inimigos, a escuridão seria sua aliada. Nascera e crescera naquela terra, os invasores, estavam a poucos dias ali, ainda não estavam adaptados, ao local. Dois homens, com longos cabelos e pelos que cobriam seus rostos, guardavam a oca, que estava seu líder. O local era reservado para o descanso de sua família e de seus principais guerreiros. O líder era um homem muito alto, de pele clara, que carregava consigo, um desenho que mostrava os caminhos do mundo, assim ele mesmo dizia. Ao lado de uma das tabas, havia um arco, esse criado para os jovens, que ainda estavam apreendendo. Seria esse o suficiente? Não havia mais tempo, para indecisões, deveria ele atacar, enquanto estavam todos distraídos. Com a mira certeira, que me tornou líder de minha tribo, acertei o primeiro na altura do peito. O segundo homem branco, se preparava para gritar, corri o mais rápido que eu consegui com a perna já dormente, envolvendo o intruso pelo pescoço, com meus braço, transformei-o em uma presa, como uma cobra, ataca, imobiliza e sufoca sua vítima. O estralar do pescoço, fora o único som, que adentrou a noite. Pisando cuidadosamente, para não ser ouvido, entrei na oca, que antes era meu leito de descanso, agora tomada pelo odor da morte. Manchas de sangue cobriam o solo arenoso que rodeava o salão, ate o local reservado para o descanso das famílias. Em um canto jazia, já desfalecido, o corpo do nosso pajé, com as mãos e pés dilacerados do seu corpo, os olhos foram arrancados e colocados dentro de sua boca. Como podia ser tão cruel, o homem branco? Segui direto, para o leito de descanso meu e de minha companheira. Meus olhos, não puderam assimilar, a imagem que estava a minha frente...

O cheiro de fumaça, ainda impregna minhas narinas. O fedor da carne putrefata, toma o ar. A aldeia que era de uma beleza, inigualável, agora jazia em chamas. Continuo a caminhar pelos cantos, e a observar meus feitos. A raiva, ainda não passou totalmente, porem sinto-me vingado. Os sons de gritos, que mais pareciam de fera selvagens, do que homens, havia sessado, há algum tempo. A nossa opy estava aos pedaços, ardendo em chamas. O homem branco, velho, o último ainda vivo, estava bem na minha frente, murmurando palavras, de socorro, para seu Deus morto. Não usei, com ele, dos mesmos métodos, que com seus iguais. Ainda estava vivo, pois dele, fiquei sabendo, o que havia acontecido, enquanto, eu estava longe. O velho homem branco, que havia realizado um antigo ritual, de sua gente, chamado de casamento, havia juntado minha companheira, e seu líder. Aos olhos do seu Deus, ela renascida pelas águas cristalinas, passaram a ser, uma só pessoa. Isso explicava, por que, havia encontrado os dois, em meu antigo leito. O homem esse, que sempre, estava portando, uma vestimenta, tão dura quanto as pedras, se encontrava do mesmo jeito que nossa gente vivia. Tudo se iniciara e acabara muito rápido. Os poucos que despertaram, antes que o fogo, os atingissem, foram retirados da terra, com minhas mãos. O homem, de vestes negras, serviria de memória para seu povo, o mandaria embora de nossas terras, para lembrá-los de nunca mais pisar aqui! Mas claro! Antes homenagearei ao seu Deus morto, cravando suas mãos, no galho que retirei de uma das arvores, lembrando assim a imagem que ele levava no pescoço.

Demetrius de Oliveira
Enviado por Demetrius de Oliveira em 09/11/2019
Código do texto: T6790647
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