Coragem para Pensar

CORAGEM PARA PENSAR

Autor: Jhony M. W.

Um certo dia desses em que até mesmo os ponteiros do relógio parecem esquecer de pulsar, e mesmo o mais rápido movimento tende a ser vagarosamente passado em câmera lenta frente aos olhos, onde o sol no horizonte decai em um percurso quase que empurrado muito lentamente, então foi em um dia desses mais especificamente no fim da tarde início do anoitecer, na qual o crepúsculo é o estalar para a saída dos morcegos, que um asteroide avistei percorrer o céu, sua velocidade logo quebrou meu momento sublime de contemplar as pausas daquele longo entardecer.

O asteroide logo que avistei me hipnotizou, o pequeno cigarro de palha que segurava entre os dedos, chamuscou meu indicador da mão direita, a velha cadeira de balanço que estava sentado parou de ranger feito porta velha, meus olhos como num estalo pulsavam para identificar onde cairia aquele asteroide que percorria em frente a planície de minha casa, tanto desenhava sua queda, mesmo que sendo ainda incerta ao meu olhar.

A queda foi próximo de um lago, chamado Tucuruí, lago de pequena vastidão, mas grande em beleza, ó como é belo o lago, mesmo em minhas lembranças mais remotas, parece que o lago nunca “envelheceu”, então garrei meu chapéu de mato, minha pequena bolsa com alguns itens essenciais como água, fosforo, velas, lanterna, um velho canivete, e fui caminhando até o local onde caíra o asteroide.

Ao me aproximar do local exato, percebi que o buraco que provocara com a queda foi suficiente para que coubesse uma caixa da água de aproximadamente uns mil litros, de diâmetro suficiente para que eu mesmo pudesse entrar ali. O lago estava a cerca de uns dez metros de distância, com a luz de uma lua quase cheia, e um céu entre coberto por nuvens, dava um clima de mistério. A relva baixa da planície tinha um silencio de sepultura, nem mesmo o ruído dos morcegos se ouvia.

Minha curiosidade que até então havia ali me levado, continuava acessa, e foi neste momento que me aproximei do asteroide em pedaços mas com uma parcela significativa ali naquele buraco, ainda quente, o vapor que sai dele, devido ao frio moderado da noite, acalentava os olhos, minha lanterna, e minhas velas que prontamente ascendi ao redor do asteroide, clareavam com uma luz amarelada, a noite quase sem ventos facilitou para que as velas permanecessem acessas.

Repentinamente quando ali parado e agachado frente ao asteroide, o mesmo se abriu bruscamente, em uma velocidade até diria lenta, e um pequeno ouriço sai como que semelhante um ovo quando é (parido) pela galinha, um ouriço com orelhas pontudas, cara fechada, olhos verdes, de uma pelagem quase que semelhante ao de um castor, com um nariz desproporcional, olhava fixamente para mim, e quando já pensava em jogar minha mala que entre as mãos ainda segura no (animal), o mesmo fala o meu nome, extasiado, achei que estava delirando naquela noite, e como se surdo fosse me aprontei para lançar a mochila nele, e o mesmo tornou a falar, os humano são seres esquisitos, curiosos por virtude, medrosos por instinto.

Aquela fala disparou meu coração, e alargou meus olhos e então fiquei um tanto ofegante soando frio, um ouriço falante isso só pode ser coisa de que fiquei louco. O até então considerado por mim animal, disse “pare de pensar veleidades bobas, sou o que vocês chamam de extraterrestre, vim de outro planeta, muito distante daqui, vim visitar você, mas não sabia que era tão mal educado com os “estrangeiros”, ora seja um bom rapaz me ajude a pegar meus pertences e vamos até sua casa”.

Muitas dúvidas corriam em meu pensamento enquanto via aquele desproporcional animal de nada mais que uns trinta centímetros de comprimento, por uns oito centímetros de largura, com um nariz desproporcional a seu semblante, logo ele pegou um pequeno relógio de pulso, e o colocou na sua (pata), tomemos o caminhando lentamente até a minha casa, peguei meus pertences que também havia soltado ao ouvir o ouriço falar.

Quando começamos caminhar perguntei a ele, como deveria o chamar já que para ele eu parecia um ser conhecido, ou algo assim, ele então me disse que seu nome era, coragem, ou ação do coração como queira, ele me disse isso em tom brando. Meu intelecto não acreditava ou não queria crer que tal figura emblemática surgira no meio de uma vasta planície e de dentro de um asteroide, no ínterim de um anoitecer, e que falava com tal convicção e andava como humano, sobre suas pequenas patas.

Durante a caminhada extasiado fiquei apenas a observar aquele ouriço com nome, nome até então chamativo, quando próximos de minha casa, e com o céu limpo pelo vento que soprava do oriente, o ouriço chamado coragem, disse “olhe lá rapaz, lá onde brilha o cruzeiro do sul assim chamado por vocês, bem próximo da estrela de Magalhães é onde fica meu habitat”. Olhei com certa incerteza, e exclamei realizei geografia como graduação não sei se sabe o que é isso que digo, entretanto desconheço a leitura dos astros celestes.

O ouriço me olhou fortemente e apenas fez o que pareceu para mim uma cara de sarcasmo, honestamente achei aquilo um absurdo um ouriço (desdenhando) de meu conhecimento, ele que certamente dorme numa toupeira no meio de arbustos certamente. Mas deixei isso de lado, entrando em minha casa, com um ser extraterrestre, só posso estar ficando louco, era o que corria em meu pensamento, creio que isso amanhã passe, e será apenas uma lembrança frugal.

Eu estava com tanto sono, que disse ao ouriço a casa é sua, pois fui dormir, se estiver ainda ai amanhã tem alpiste no armário, (bom não sei o que um ouriço come, ainda mais de outro planeta, alpiste deve ser algo universal desde passarinho até humano come essa coisa), gaguejei antes de apagar, era o que me lembro.

Logo ao amanhecer, no que senti o insípido calor em meu rosto, de uma fresta da cortina que deixava alguns raios de sol escapar, prontamente acordei, sentei na cama pois para mim até aquele momento o que havia acontecido não passava de uma miragem em minha imaginação. Assim que fui ao banheiro, lavei bem o rosto, escovei os dentes, vesti meu costumeiro calção de “domingo”, fui a cozinha, coloquei dois pães na torradeira, um chá morno com a água que brevemente já havia aquecido enquanto manuseava a torradeira, e duas colherinhas de açúcar, peguei um livro de filosofia solto em minha pequena mesa, para ler enquanto deleitava meu café da manhã.

Quando comecei a deglutir a torrada, me assustei, e pensei ora mas não leio filosofia a um certo tempo, desde o período da faculdade se bem me recordo, o que este livro faz aqui, repentinamente entre o recuperar de meu susto e o outro que tive, o ouriço que até então era uma miragem (mais fácil de acreditar e assimilar), me disse “bom dia jovem rapaz”, meu chá estava mais quente que meu coração neste momento. Sem pestanejar, disse bom dia coragem, o ouriço perguntara “dormiste bem?” Respondi com certo teor de sarcasmo (deu para o gasto).

Sem deixar tempo para vela, perguntei o que achou de minha casa, o ouriço exclamou “é até confortável, simples, organizada, limpa, meticulosamente ornamentada, é dá para o gasto”. Quando ouvi isso, pensei que ele estivesse me zoando por tabela, o que de fato realmente o fazia, e continuou a fazer.

Ambos a mesa, comecei a perguntar, o que ele viera fazer neste planeta? porque veio me visitar, quando a sete bilhões de humanos? uns bem extraordinários por sinal! o que queria comigo? eu um jovem amargurado em minha casa perdida entre está vasta planície. Após minhas perguntas, ele cuidadosamente sentou se sobre o açucareiro em cima da mesa, e começou a assobiar, eu que nada entendi, rispidamente perguntei, você é surdo?

O ouriço voltou se para mim, e com seu olhar firme, começou a falar “não caro jovem, não sou surdo pelo contrário ouço tão bem, que sinto o ofegar de seus pulmões, e até o barulho de seus pensamentos, apenas suas perguntas são vans e sem nada a acrescentar ao meu objetivo”. Intrigado novamente inquiri o ouriço, que objetivo tens? Mais uns segundos de silêncio, e então o sussurrar de sua voz, “minha missão é colocar dentro de sua massa cinzenta, que você a use, ou como vocês dizem pense, pois lá de meu planeta por um telescópio amplamente sofisticado que construí, te observei por vinte ciclos de meu planeta, o qual mapeie sua vida”.

Após ouvir aquelas colocações, peguei minha xícara de chá que estava sobre a mesa, já mais morno que nunca, e fui caminhando até a varanda que dava acesso a bela paisagem da planície, onde houvera visto o então asteroide. O ouriço veio atrás de mim, o raspar de suas patas sobre o piso de madeira era nitidamente como o som do caminhar em pedregulhos. O ouriço se posicionou próximo da cadeira de balanço que me sentara, e tornou a falar.

“Observe, jovem rapaz, para bem cumprir meu objetivo, você fará um esforço para além do imaginável, de certa maneira a simplicidade de buscar a sua virtude interior, almejando cada momento de seu dia, extrair de seu interior o melhor que você tem, parecerá algo impossível, até você se adaptar ao ritmo de fazer o que faz com qualidade, e isso ira requerer de você que pense com atenção, exigindo de seus parcos sentidos, a absorção de cada instante do mundo ao seu redor, será como uma câmera lenta em continua ação”.

Ao terminar de propor seu objetivo comigo, ele se voltou para olhar o sol que naquele momento brilhava vertiginosamente, e retomou “observe este astro de quinta grandeza, que um dia entrara em colapso e morrera, ele se esforça para dar o seu melhor todos os dias, mesmo sabendo que isso custara sua existência, e você um humano, jovem vive amargurado nesta planície, sua casca é jovem seu interior um cometa parado”. Ao ouvir o que o ouriço me dizia, um choque, assim é o mais perto que posso descrever, um choque cintilou em meu pensamento, lagrimas vieram átona.

O ouriço pouco deu atenção a minha emoção, e perguntou “até quando irá chorar?” Percebi naquele momento, que toda aquela profusão de acontecimentos, eram um sinal de que para morrer basta esconder as potencialidades internas. Já era próximo das onze horas da manhã, quando eu e o ouriço caminhemos até o lago Tucuruí que ele havia “aterrissado”, lá nos sentamos eu com uma vara de pescar e ele com seu misticismo encantador, sentado em uma rocha, apenas olhava na minha direção e para o céu azul.

Passados alguns minutos e nenhum peixe pescado, falei ao coragem, vamos para casa, ainda não me disse o que gosta de comer ou melhor o que você come? O ouriço levantou se da rocha, e disse “eu como uma grande variedade alimentos, inclusive esses de seu planeta”, chegando em casa, abri uma lata de ervilha, cozinhei um miojo, e fiz de salada um rabanete, pela quantia que o ouriço comeu creio que ficou satisfeito com o almoço das quase quatorze horas da tarde. Ambos sentamos em frente a varanda novamente, e ele falou mansamente “esta noite irei partir”. Já, perguntei ao ouriço, e ele com a cabeça fez um gesto de sim, perguntei por que tão cedo, tentei o (seduzir) que ele seria famoso, eu seria rico e o mundo teria uma prova dos seres de outros planetas.

O ouriço com seu sarcasmos novamente exclamou, “é ainda você não está usando seu pensamento, talvez ele crie teias de aranha, ainda mais tanto tempo em desuso”. Olhei para ele e entendi o que dizia subliminarmente, e naquele momento apenas me veio a frase (volte sempre), se eu não estiver aqui deixarei alpiste na mesa para você, ele olhou para baixo e murmurou, “alpiste é para pássaros meu jovem”.

Tanto eu como o ouriço vimos aos poucos o percurso que o sol ia percorrendo para se pôr no horizonte, e ele contava que o sol deste sistema solar apesar de seu parco tamanho é bem agradável a percepção, concordei com ele pela convicta expressão que afirmara. O sol fez um leve declínio e o anoitecer em sua bela transição deu a sua aparição por completa, o ouriço me olhou e com um jeito de quem se despede estendeu seu pequeno braço para um aperto de mãos.

Apertei a mão dele, e disse até breve coragem, e assim o ouriço foi caminhando só pela planície que já era escura, apenas iluminada por algumas estrelas, e uma lua quase cheia, entre nuvens, e repentinamente um forte raio caiu na planície, atingindo o ouriço em cheio, sem gritos, e sem barulhos a mais, tudo ficou em silêncio, corri até onde caiu o raio e lá apenas estava o relógio do ouriço/coragem, intacto, com uma inscrição em sua pulseira, “ouse pensar jovem”, peguei o relógio, olhei para o céu e caminhei até minha casa.

Chegando em casa, corri até meu quarto, arrumei uma boa mochila e sai, deste então a perambular pelo mundo, incentivando as pessoas a pensarem, buscando em cada momento expor meu melhor principalmente nas minhas ações cotidianas, buscando ser um exemplo para cada ser humano que tiver contato. A deixei um bom tanto de alpiste em cima da mesa, em minha velha casa, se um dia o ouriço/coragem voltar, e junto um pequeno bilhete, escrito “volto logo, estou buscando ajudar a humanidade a pensar melhor”. Abraços Jhony M. W.