Gaijin - Parte XI - O Corajoso Dragão Vermelho Descansa em Paz
Atravessamos o buraco e chegamos em uma caverna iluminada onde encontramos outros monstros tão perigosos como o yokai-tigre.
Nikolai usou um machado feito de estalactites para abrir caminho e deparamos com outro túnel cheio de aranhas gigantes, onis e até mesmo uma mulher-aranha, provavelmente a mãe daquelas aranhas.
Seguimos em frente e encontramos mais dois esqueletos no caminho. Assim que chegamos ao fim do longo túnel, deparamos com uma fenda onde Vareen usou seus poderes para criar uma abertura e após todos nós passarmos pela fenda, ele fechou-a.
Atravessamos um corredor de magma escaldante e ficamos horrorizados com o que vimos.
Um oni gigante tinha um enorme buraco no peito e o seu coração havia sido arrancado.
Essa cena foi tão forte que até mesmo o corajoso Dragão Vermelho se apavorou.
Se eu dissesse que não estaria com medo, era uma grande mentira.
Não tínhamos mais tempo pra lamentos e temores e chegamos logo a outra caverna encontrando mais monstros mortos.
Nikolai usou o leque para abrir caminho e chegamos a outro corredor onde encontramos os corpos de dois onis e um yokai.
Depois encontramos outro tipo de monstros, conhecidos por shinigamis, que nos guiaram para outra fenda na antecâmara que Vareen abriu usando seus poderes.
E ali encontramos um rosto bem familiar.
Era aquela Dama do Inferno que comandou o ataque ao castelo Yoake Shiro, mas pra nossa surpresa, ela apenas nos mostrou o caminho para o yokai-tigre e fugiu.
Então sentimos um forte tremor de terra.
E ouvimos um rugido bem alto.
Era o yokai-tigre.
E estava prestes a nos atacar.
Era chegada a hora da batalha final.
* * *
Nikolai tomou a iniciativa arriscando-se a usar seu olho vermelho enquanto Vareen concatenou o plano do espelho dando-me a responsabilidade de rebater quaisquer ataques mágicos do monstro.
O tamanho do yokai-tigre intimidava até mesmo os mais corajosos.
Era um gigante de mais de cinquenta metros de altura e seria difícil de ser derrubado em um único ataque, portanto seria uma batalha de paciência e de resistência.
Vareen usou um projetil de terra para desestabilizar o monstro atingindo-o bem no olho. Caleb tentou fazer o mesmo, mas sua magia não funcionou.
Ao longe, avistamos uma espécie de tropa de guerreiros-esqueleto e zumbis.
E também uma figura familiar.
Era Roberto Lazarento.
Que veio não só para nos ajudar, mas também para tentar redimir-se do erro que cometeu.
* * *
A luta seguia dramática quando o Dragão Vermelho atacou o monstro sem resultado e ainda proporcionou a oportunidade para nos contra-atacar.
O demônio mandou sua rajada e o espelho rebateu atingindo alguns esqueletos que pegaram fogo e explodiram.
Nikolai atacou com o leque e alguns esqueletos saíram voando.
Caleb, por sua vez, atacou o monstro com estalactites fazendo quebrar seus dentes e destruir praticamente a boca dele, impedindo-o de soltar magias.
Depois o paladino usou a bênção em Vareen e enquanto isso ocorria, nenhum de nós percebeu que o Dragão Vermelho havia partido pra cima do yokai com a espada empunhada em um ataque suicida, ou kamikaze, como chamam os locais.
William então pediu a Vareen que desse cobertura ao Dragão Vermelho e a mim permanecer na defensiva com o espelho caso o monstro nos atacasse.
Mas nem foi necessário.
O demônio tinha errado seu ataque em Caleb e acabou com suas patas presas no chão inutilizado e vulnerável a quaisquer ataques.
Era nossa chance de vencer.
E Caleb e Vareen entenderam o recado já sabendo o que fazer.
* * *
O paladino e o clérigo atacaram o yokai com força total combinando estalactites e eletricidade, causando um grande dano e abrindo possibilidades para o Dragão Vermelho dar o golpe fatal.
Vareen usou seus poderes para ajuda-lo e o samurai atacou o demônio, contudo este ainda teve forças para agarrá-lo e o sufocou quase até a morte.
Ainda assim, Yake usou toda a força restante para dar um golpe forte na cabeça do monstro que o lançou ao chão.
O daimyo estava gravemente ferido e agradeceu a Caleb por ter tido o maior duelo de sua vida lamentando não ter formado um laço de amizade com ele.
E morreu em seus braços.
Pela primeira vez na vida, vi Caleb chorar a morte de alguém que até então era inimigo jurado dele.
No entanto, os dois tinham algo em comum.
O apreço pela arte da guerra.
Vi Motoyama consolar Caleb dizendo que morrer em combate é uma honra para eles e que por mais triste que possa parecer, isso abrirá caminho para a paz tão esperada em Rokushima Taiyoo.
Mas não tínhamos mais tempo pra chorar pela morte do Dragão Vermelho.
Era chegado o momento de cumprir nossa missão.
* * *
Vareen então usou seus poderes para criar uma barreira forte o suficiente para selá-lo por toda a eternidade.
O yokai-tigre estava praticamente morto devido ao golpe de Yake quando isso aconteceu.
Vi Nikolai e William discutindo asperamente com Roberto Lazarento cobrando explicações sobre o porquê de seus esqueletos virarem-se contra nós e ele nos explicou que seus esqueletos haviam perdido o controle devido a presença do demônio-tigre.
Depois disso, William negociou com Yuji, o filho mais velho de Yake que havia se tornado o novo Shinpi, a nossa liberdade e ele, ainda abalado pela morte do pai, concordou com o pedido como um agradecimento pelos nossos esforços.
Os vulcões da ilha se abriram para facilitar nossa saída da fenda e assim que saímos, percebemos pelo semblante das pessoas que nossa missão estava cumprida.
Rokushima Taiyoo finalmente estava em paz.
O tratado agora era uma mera formalidade, mas sempre me ensinaram de que o papel é a prova de tudo.
E com a morte do Dragão Vermelho, acredito que os dois irmãos remanescentes não devam se opor ao tratado de paz.
Afinal, essa guerra perdeu totalmente o sentido.
* * *
Alguns dias depois, após o ritual fúnebre do Dragão Vermelho ser realizado e de Vareen recuperar-se do desmaio que teve após entregar o rosário a William, voltamos junto com Shinpi Yuji a Yosai Kurai e contamos tudo aos outros Shinpis o que aconteceu com o Dragão Vermelho.
Eles ficaram tão consternados com a morte de Yake que resolveram de comum acordo selar a paz entre as quatro províncias e acabar com uma longa e insana guerra que devastou o domínio.
Ficou acertado também que Minoru seria o novo lorde de Rokushima Taiyoo por ser, entre os quatro daimyos, o mais ponderado e tolerante com seu povo e ele fez concessões a Yoko continuar com sua religião em Yosai Kurai e os demais Shinpis a continuarem com sua autonomia em assuntos locais.
Nikolai teve a brilhante ideia de ficar com o espelho como um presente de casamento para Ilfa, a futura esposa de Lucianinho, e fez o pedido formal a Minoru que aceitou sua sugestão.
Caleb, por sua vez, mal podia esperar pela festa de casamento e estava tão feliz que até fez questão de pedir desculpas aos guardas daquele incidente a beira do lago.
Depois de uma boa festa para celebrar a paz em Rokushima Taiyoo, era chegada a hora de nos despedirmos desta ilha depois de uma grande e inesquecível aventura.
Fomos a Nagaoka, pegamos o barco e chegamos novamente a borda etérea com uma Shinigami sendo nossa barqueira.
Ela pulou do barco e logo sentimos o oceano bater na costa da ilha onde Meredoth nos atacou.
Estávamos de volta ao Mar Noturno e ficamos felizes de ver os olhos de Nikolai voltarem ao normal.
Era hora de voltar pra casa.
E de voltar aos braços de Charlotte e dos gêmeos.