A menina que matou o galo
A menina que matou o galo
Era Uma Vez, numa manhã ensolarada, uma menina levada foi tomar banho no açude que ficava perto da sua casa.
Seus pais gostavam de receber familiares e amigos. Estavam eles na parte da frente da casa, onde havia uma grande sala na qual seu pai recebia os convidados naquele domingo de sol para tocarem viola e versar literatura de cordel. Sua mãe tinha uma grande criação de galinhas e galos de raça que ela sempre os tinha presos num galinheiro, onde especialmente havia o grande protetor do galinhaço, um fidalgo galo de pescoço pelado que ao andar parecia um majestoso rei do lugar cheio de penas e ninhos de ovos para o choco..
Qual o quê num descuido alguém não fechou bem o galinheiro naquele dia. A tal menina voltou do banho e deixou a porta dos fundos da casa aberta e houve uma grande invasão dos bichos de pena pelos cantos da casa e o comandante desta invasão era o tal galo.
Para retirar os intrusos visitantes sem que sua mãe desse por notar, a menina se aperreou. Espantou a bicharada como pôde e foi então que o tal galo de pescoço pelado partiu para cima dela como a querer furá-la com seus esporões afiados. A pobre menina já sem saber o que fazer para retirar toda aquela bicharada de dentro de casa foi dando pequenos chutes num e noutro até atingir fatalmente sem intenções o pescoço frágil do galo rei majestoso, dono do galinheiro. Ele caiu...ferido.
Machucado. Morreu saracoteando com o pescoço dependurado no seu enorme corpo cheio de penas coloridas. Nesta hora, todas as galinhas e galos saíram como a temerem de serem culpados pela morte do galo. A menina o retirou de dentro de casa e o colocou lá no galinheiro. Entrou em casa bem calminha e foi ver a cantoria que, graças a Deus, era tão alta que não ouviram o barulho da morte do galo. Mas não sei porquê cargas d'água alguém foi ver alguma coisa na lateral da casa e viu toda a bicharada ao lado do defunto galo. De imediato chamaram a mãe da mocinha. O galo estava morto. Corre daqui, corre dali. O que teria acontecido? Meu Deus, como este galo teria morrido? Investiga daqui, investiga dali. Não havia vestígios de assassinato.
O galo morreu de morte natural, foi o veredito final. Mas o pai da menina, que era bom policial olhou para ela e viu em seus olhinhos a matadora do galo. Como cúmplice, ficaram no seu silêncio e muitos anos depois este assassinato fora revelado.
Maria Tecina
Natal, 01 de outubro de 2019