Gaijin - Parte I - Macacos Brancos

Lá fomos Vareen e eu rumo a cidade em busca de mais informações a respeito não só do local mas também de todos esses acontecimentos quando de repente o povo começou a nos observar e alguns até se assustaram com nossa presença apontando para nós como se fôssemos atrações de circo.

Se olhar pelo ponto de vista deles, dá pra se dizer que éramos mesmo exóticos.

Fomos chamados de macacos brancos provavelmente devido a nossas barbas e fiquei espantado pelo fato dos homens desta terra não ter pelos no rosto.

Não conseguimos muita coisa com os moradores desse lugar a não ser sobre uma história que contaram sobre duas ilhas que foram supostamente afundadas pela morte de seus daimyos.

Enquanto isso, Caleb, Nikolai e William estavam no ferreiro reparando as armas que haviam sido recuperadas.

Assim que reunimos na parte central, vimos um homem vindo em nossa direção usando as mesmas vestes de Yoko.

Apresentou-se como Matheus Motoyama e prontamente nos entregou o mapa de Rokushima Taiyoo.

O domínio tinha quatro ilhas principais que eram ligadas pelo Grande Lago Espelhado. Havia também o Mar Venenoso que banha a província onde se encontra a fortaleza de Yoosai Kurai e as Névoas do Pesadelo, que estão um pouco mais a norte.

Motoyama nos contou histórias sobre as estatuetas de onis e águas que trazem vida, o que para nós era irrelevante naquele momento.

Disse ainda que os irmãos de Yoko não estão muito satisfeitos com ele e que são hostis uns com os outros, algo que nós também chegamos a essa conclusão.

De repente, Vareen sentiu um forte tremor que fez perder o equilíbrio e cair no chão. Strahd começou a latir nervosamente assim como todos os outros cachorros e os gatos miavam agitadamente.

Vi pedrinhas quicando e ao mesmo tempo senti uma espécie de vertigem que logo passou.

Motoyama nos explicou que era um terremoto, algo que não é comum em nossos domínios e parece ser bastante constante aqui.

Devido a isso, a navegação ficou inviável e nossa fuga pelo mar era praticamente impossível.

Seguimos em frente e vimos uma enorme multidão ouvindo as pregações de um monge chamado Matsumoto que defendia o extermínio dos “macacos brancos” que profanaram a terra.

Ainda bem que Motoyama resolveu a situação apenas encarando o monge e seguimos nosso caminho com ele falando entusiasticamente sobre o Festival do Fogo e já sugerindo que participássemos desta festa.

Por mim, seria uma ótima oportunidade para conhecer novos costumes e se familiarizar com o ambiente, mas Caleb, Vareen e Nikolai queriam encontrar uma maneira de voltar pra casa o mais rápido possível.

A discussão foi acalorada e tensa, mas William nos convenceu a ficar em Yoosai Kurai até o ferreiro reparar nossas armas e armaduras.

E estava certo.

Logo nossas armas foram reparadas.

E a festa seria para homenagear os novos visitantes da província, que no caso éramos nós.

Mas mal sabíamos que esta festa seria melhor do que a encomenda, com novas descobertas e um bocado de problemas a resolver.

* * *

Reencontramos Shinpi Yoko e ele pediu para nos acompanhar em sua visita ao túmulo do pai deles.

Pra mim foi mais um monólogo do daimyo dizendo ser o mais apto para o trono e que entendia muito de finanças e construções, mas havia algo na conversa que nos chamou a atenção.

Disse ter ouvido um sussurro de seu pai afirmando que ele deveria ser o lorde supremo da ilha depois de subjugar seus irmãos.

E percebemos que a encrenca era muito grande e essa rivalidade explícita entre os quatro irmãos era perigosa demais para nós chegando a conclusão de que o pai deles estava induzindo-os a essa guerra insana.

Yoko ainda acentuou a chegada dos “macacos brancos” da Nova Hispânia que trouxeram, entre outras coisas, arcabuzes capazes de derrotar exércitos inteiros.

Francamente, esses arcabuzes não seriam páreos para meu rifle que é muito mais rápido de carregar e o disparo é bem mais eficiente.

Vareen sugeriu a Yoko que tentasse fazer a paz com seus três irmãos e ele aceitou de forma relutante uma missão diplomática na tentativa de conseguir o impossível. O clérigo sugeriu que nós fossemos seus emissários já que éramos neutros nessa luta e o daimyo prometeu barcos e cavalos para nos levar as outras províncias.

Feito tudo isso, concordamos em participar da festa esta noite e partir no dia seguinte rumo ao castelo das Sete Torres para encontrarmos com Shinpi Yaku, o daimyo local que tinha um gosto excessivo por mulheres, segundo as informações de Yoko.

Fiquei contente com nossa decisão e mal poderia esperar para conhecer de perto as tradições e os costumes de Rokushima Taiyoo.

E quem poderia imaginar que isso seria marcado pelas estripulias de um certo paladino que quase levou a missão ao fracasso antes mesmo de começar.

* * *

A festa estava bem animada com atraentes gueixas entretendo-nos com canto e dança. Até mesmo houve apresentações de poesias e um estranho teatro com mascarados dançando e recriando batalhas passadas no domínio, o teatro kabuki como fiquei sabendo depois.

Serviram peixes de todos os tipos e bolinhos de arroz que eram uma delicia. Serviram chá e uma estranha bebida que nunca tinha visto até então e que eles chamavam de saquê, bem como um vinho tinto trazido da Nova Hispânia pelos missionários.

Vi Motoyama tossir e ficar vermelho com a bebida e Ruy Cantábria quase cair de tanto beber.

A comida era excelente e a conversa estava bem animada com os convidados falando até mesmo de um demônio que tinha um olho no traseiro. Caleb achou graça de tudo isso e quase caiu a cadeira de tanto rir.

Vimos ali também uma cena meio bizarra onde o herói da peça derrotava o demônio com um único golpe. Felizmente era um boneco de madeira chamado por eles de mokujin e logo foi removido do palco.

E todos fizeram um brinde aos novos “macacos brancos”, isto é, a nós.

Depois disso, William retirou-se para seus aposentos e Vareen e eu começamos a ficar tontos e com dores de cabeça devido a bebida.

Demos dois passos e caímos de tanto beber assim como Nikolai.

Mas Caleb resistiu a bebedeira e saiu do castelo rindo e gritando feito louco.

E criando muitas confusões.

* * *

Eu acordei com uma ressaca daquelas e a cabeça não parava de latejar de tanta dor. Juntei-me a Vareen, Nikolai e William e assim que saímos do castelo, ouvimos uma violenta altercação vinda das margens do grande lago.

Era Caleb discutindo com alguns samurais que queriam fazer com que pagasse pela blasfêmia que supostamente teria feito ao deus deles.

Ele nos contou que durante sua bebedeira, resolveu dar um passeio noturno pelas margens e ali encontrou uma criança perdida. Resolveu ajuda-la a voltar pra casa e ali o paladino sentiu algo muito estranho na criança com esta revelando ser uma espécie de criatura aquática. Então ele não pensou duas vezes e jogou-a de volta para o mar.

O problema dessa atitude foi que os samurais não gostaram disso e quase o prenderam por perturbação da lei e da ordem e supostamente por zombar das crenças deles.

Só não virou uma luta em larga escala graças a intervenção do próprio Yoko que fez com que seus homens embainhassem suas katanas e sugeriu a Caleb que fizesse uma oferenda de desculpas aos deuses com um saco de arroz e um saquê na borda do lago.

Após o ritual ser feito, sentimos algo estranho se formando.

A neblina estava muito densa e logo surgiu uma figura bem familiar, mas com algo diferente no semblante.

Era uma barqueira nos dizendo que essa luta fratricida precisa acabar e adicionou algumas informações a respeito do pai deles.

Ele era o lorde negro de Rokushima Taiyoo e acabou preso por cometer um terrível pecado, presumivelmente, por ter atitudes arrogantes com seus próprios filhos e súditos.

Assim que terminamos de falar com a barqueira, pegamos nossos equipamentos e Vareen sugeriu exumar o corpo do lorde e tentar contato com o espírito dele a fim de saber o motivo desta guerra e fazendo com que nos ajudasse no processo de pacificação.

Nesse meio tempo, surgiu do mar uma mulher usando um quimono azul acusando Caleb de desrespeitar o Senhor do Fogo, que era seu irmão.

Vareen tomou as dores de Caleb e afrontou a mulher dizendo que o paladino era inocente e que sua acusação era absurda, mas William diplomaticamente contornou a situação aceitando a oferenda de desculpas exigida e fazendo questão de ajudar Caleb neste novo ritual.

Depois de tudo isso, conseguimos um barco para ir rumo a Sete Torres onde Shinpi Yaku, o segundo daimyo, provavelmente nos aguardaria.

E assim começou uma das missões mais difíceis para nós.

A de acabar com uma das guerras mais complicadas que existe.

Um conflito entre irmãos.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 10/09/2019
Reeditado em 23/09/2019
Código do texto: T6741914
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.