Quem roubou os meus sapatos?

- Sayana chegou! - Anunciou Praanvi com os olhos brilhando, fazendo com que todos os presentes na residência dos Padagavakar corressem para as janelas da sala, assistir o desembarque do noivo. Desembarque, pois Sayana Shrivastava viera numa imensa limusine negra, alugada para conduzir a noiva mais tarde para a cerimônia de casamento. Juntamente com ele, meia dúzia de parentes, entre irmãos, primos e tios.

À frente do pequeno cortejo, o jovem destacava-se por sua elegância: sherwani de seda verde-água, decorado com arabescos dourados, um flamejante turbante lilás e laranja sobre a cabeça, e nos pés, que era o que a família da noiva realmente queria saber, um exuberante par de jutas vermelhos, bordados a ouro.

- Olha só aqueles jutas! - Exclamou Kumari, a futura sogra, boquiaberta. - Quanto vocês acham que valem?

- O resgate de um marajá! - Redarguiu Urvasi, a filha caçula, dando uma risada.

A família Padagavakar recompôs-se, pois o noivo e comitiva haviam chegado à porta da frente. Kumari foi abrir, e ela e Sayana curvaram-se frente a frente, mãos postas.

- Namastê! - Saudou o noivo.

- Namastê, Sayana! Sejam bem-vindos à nossa casa!

Entraram todos e foram cercados pelos Padagavakar, numa algazarra alegre. Kumari ergueu as mãos e a voz para que abrissem espaço.

- Dêem espaço para os Shrivastava respirar! Tenho trabalho a fazer!

Rindo, a família consentiu que a matriarca conduzisse Sayana e seus convidados para o jardim dos fundos da casa, onde seria realizada a cerimônia do Juta Chori. Os parentes do noivo mantiveram-se próximos deles, alertando que não tinham a menor intenção de despregar os olhos do noivo - e muito menos dos seus ricos jutas bordados a ouro.

Sayana foi instalado numa confortável cadeira de braços no jardim, diante de uma bacia. Descalçou cuidadosamente os jutas, sob o olhar atento dos seus parentes, e colocou os pés dentro do recipiente. Kumari então, verteu água morna sobre eles, e ajoelhando-se, começou a lavá-los,murmurando uma prece. Estavam todos em silêncio, acompanhando a cerimônia, quando, subitamente, um bando de barulhentos macacos rhesus pulou de uma mangueira próxima, e, antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, espalharam-se pelo jardim, aos gritos. Os Shrivastava e Padagavakar correram atrás dos animais, para os afugentar, e, quando a paz voltou a reinar, todos olharam imediatamente para o local onde o noivo havia deixado seus preciosos jutas.

Eles não estavam mais lá.

- Não fomos nós - defendeu-se Praanvi Padagavakar, antes que alguém perguntasse alguma coisa. - Foram os macacos!

- Macacos ensinados? - Questionou um dos tios de Sanaya, Viswamitra, braços cruzados.

- Macacos ladrões - atalhou o pai da noiva, Mahadaji.

- Gente, isso é sério? - Indagou Sayana, obviamente preocupado. - Não foi um truque das saalis para ganhar o Juta Chori?

- Estamos inocentes nessa história - declarou solenemente Urvasi. - Eu ia lhe cobrar 10.000 rúpias para devolver os seus jutas.

- Parece que vou ter que pensar num resgate mais interessante para os macacos - ponderou Sayana.

Todos os esforços para reaver os jutas roubados, contudo, foram inúteis: o noivo teve que se casar com sapatos emprestados pelo pai da noiva.

- [02-09-2019]