Sorte ou coincidência

Eu havia desembarcado em Brasília e juntamente com dez colegas esperávamos o avião que nos levaria a Minaçu/GO, para uma visita a mineração se amianto. Foi assim que conheci na década de 90, aquela robusta aeronave. Monomotor e só precisava de um piloto. Era o único tipo de avião que operava naquela linha. Por este tempo, as companhias aéreas usavam muito este modelo pelo interior de Goiás e Mato Grosso. Ele é muito seguro, disse-me um colega. É um verdadeiro trator alado. Depois destas palavras, eu, que não gostava muito de viagens aéreas, fiquei tranquilo.

Enquanto aguardávamos dentro da aeronave o início do voo, fomos informados de que teríamos de mudar de veículo:

— Desculpem-nos pelos transtornos, tivemos uma pane elétrica, disse o piloto.

Todos começaram a descer. Fiz o mesmo. Mudamos para o outro avião, do mesmo tipo que nos indicaram. O frio na barriga aumentou. Apreensivo, tentei afastar o pensamento ruim, mas não consegui tirar aquele mau agouro da cabeça. Entrei na aeronave e segui para o fundo. Na passagem pelo corredor das poltronas vi os colegas tensos e preocupados, aumentando ainda mais minha apreensão. Depois de al-guns minutos de espera ouvimos o ronco da aeronave andando pela pista e logo decolou. O voo tinha a duração de aproximadamente uma hora e meia. Os minutos se passaram até que avistamos o aeroporto da cidade. O pouso foi tranquilo.

Passamos o resto dia visitando a mineração, recebendo informações sobre a extração, beneficiamento e uso do mineral. Depois fomos para as instalações da empresa onde jantamos e passamos a noite em um hotel de propriedade da mesma.

Pela manhã, voltamos ao aeroporto para retornarmos a Brasília e depois, Goiânia. Já acomodados, no avião, para a viagem de volta, esperávamos os procedimentos para sua decolagem, mas não aconteceu. O motor estranhamente não pegava. De repente, o piloto saiu da cabine e disse que o motor não quis pegar e que teríamos de esperar por vinte minutos, quando ele tentaria novamente. Saímos do avião e ficamos no galpão do aeroporto esperando os vinte minutos passarem. Após este tempo, voltamos a aeronave. O piloto tentou fazer o motor funcionar, mas, novamente, nada aconteceu. Ele fazia uns ruídos estranhos e não pegava. O piloto apareceu, e sem muita convicção, nos disse que terí-amos que esperar mais vinte minutos, quando então, tentaria nova-mente.

Pedimos para que ele tomasse outras providências, telefonar para a empresa durante o tempo de espera. Ele então resolveu ligar para a dona do avião. Logo depois, voltou e nos disse que a empresa iria mandar outro avião e que demoraria uns 40 minutos. Antes de terminar o prazo estipulado por ele, uma aeronave surgiu no horizonte e pousou na pista, vindo do norte do estado. Era um avião de carga, mesmo assim, tinha ordem da empresa para nos levar até Brasília.

Não tínhamos escolhas. Alguns passageiros da cidade, que não eram do grupo, desistiram, mas a maioria resolveu embarcar. O problema era que não havia poltronas, portanto, viajaríamos sentado no chão da aeronave.

O pior, era que a metade do compartimento de carga estava ocupado por mercadorias que seriam entregues em Brasília. Mesmo assim, nos ajeitamos como sardinhas em lata. A aceleração do avião ao decolar nos comprimiu ainda mais. E apesar do desconforto a viagem transcorreu normalmente. Seja como for não aconteceu nada de grave. Por sorte ou coincidência, os problemas da viagem foram todos em terra.