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Extraido do meu livro "O PAPA RISOS"
"MINHA FRONTEIRA"
Eu caminhava sob uma garoa fina, por uma estrada de terras indo em direção à fazenda onde meu avô morava e trabalhava junto aos meus tios, como meeiros na zona cafeeira ao leste das Minas Gerais e onde plantavam lavoura de subsistência, um trabalho muito duro, mas digno e honesto e que os faziam conhecidos e respeitados nas redondezas.
Sempre que conseguia algum dinheiro eu viajava para passar alguns dias, zoar as garotas, nadar nos rios pescar e fazer tudo o que se podia naqueles dias dourados sem poluição.
Havia na beira da estrada uma casa de adobe e ainda faltando uns quarenta metros para passar por ela eu vi sair correndo uma menina franzina vinda ao meu encontro aflita e pedindo para ajudar a irmã que estava morrendo.
Mesmo sem conhecer-me o desespero era tanto que ela fez algo incomum em pessoas da roça, tímidas por natureza, agarrou minha mão e foi me puxando fazendo com que os últimos quinze metros fossem vencidos com uma corrida forçada, acho que eu devia estar parecendo para aquela garota o próprio Jesus, já que como médico eu não parecia em nada.
Entrei na casa ouvindo os gritos sem ter tempo para raciocinar se haveria perigo em tentar ajudar alguém que gritava daquele jeito, certo é que me vi dentro do que parecia ser o único quarto grande da casa. Numa tarimba deitada, uma mulher jovem olhou-me e sem parar de gritar disse moço ajude-me, meu filho vai nascer.
Ela estava em franco trabalho de parto isso pelo pouco que eu sabia, por ter ouvido o nascimento dos meus três irmãos mais novos, até a data presente e sempre muito curioso perguntando tudo para à minha vó, que era uma descendente direta de suíços e fazia questão de me explicar todos os detalhes sem que eu ficasse envergonhado já que naqueles tempos todo o processo referente ao surgimento da vida e sexo era tabu até para adolescentes, mesmo os curiosos.
A garota não queria soltar minha mão e eu acho que ela estava com medo de eu fugir ou... Estava simplesmente com medo. O fogo no fogão estava alto e eu aproveitei para pegar a primeira panela que me pareceu limpa e coloquei na trempe e peguei água com uma caneca tirando de uma lata de querosene enchi a panela preta destas feitas de ferro, fazendo tudo meio automático e sem saber como exatamente eu iria usar a água quente, mas, sentindo que ela seria necessária para o evento.
Segurei a outra mão da menina e perguntei pelos parentes, ela já um pouco mais calma disse que eles estavam trabalhando na roça, perguntei se era muito longe e ela respondeu que não, perguntei se ela conseguia ir onde eles estavam. Ela respondeu que sempre era quem levava café para os parentes. Falei com mais autoridade do que realmente tinha, corra e vá chama-los eu fico aqui com sua irmã não se preocupe que eu tomo conta dela, isto era um compromisso que assumi e que depois foi motivo de reflexão do que seria, se aquela moça morresse, como eu ia explicar para a garotinha, minha mentira?
Ela saiu correndo sem contestar e voltei ao quarto onde à mulher que por um instante tinha feito silencio, voltara a gemer alto. Quando entrei e acho que estava mostrando um jeito de quem sabia o que estava fazendo, ela parou de gemer alto trincando os dentes e com o olhar, sem falar nada me obrigou a responder que estava tudo bem, acrescentei ainda que a irmã fora chamar os parentes e perguntei se ela já tivera outro filho ela fez um esforço e conseguiu balbuciar que era o primeiro e voltou a gemer eu segurei os braços dela e coloquei a cabeça no meu colo e mandei-a fazer força.
Eu; Se sabia o que estava fazendo era por instinto, ou por ter ouvido nos partos de meus irmãos as parteiras berrarem estas ordens para minha mãe, ela após me ouvir esticou o corpo e eu sentia a pressão dela contra meus braços, quase me esmagando contra a cabeceira da cama.
Estava para completar quinze anos, tinha um físico de atleta aparentando mais idade do que realmente tinha. Segurei o impacto e instintivamente levei à mão direita a barriga dela e ajudei a empurrar. Ela deu um grito e novamente fez a carga sobre mim e ao mesmo tempo a ouvi gritar: está saindo, nem sei como aquele pensamento me veio à cabeça, ele vai cair no chão, senti a pressão diminuir sobre mim, saí debaixo dela segurando com cuidado, mas firmemente os seus ombros e colocando sua cabeça sobre o travesseiro.
Estranho não ter visto como fiquei naquela posição, não me lembrava de ter entrado debaixo dela e a ter deitado no meio das minhas pernas. Fui para os pés da cama, rápido e entre as pernas da garota eu vi aquele corpinho cheio de sangue, inerte e não senti medo do sangue, estou dizendo não senti, por que sempre, quando ouvia relatos sobre sangue, eu ficava me sentindo mal, mas ali não, vi a vagina dilatada o sangue em poças junto com a placenta talhada, tudo para mim era tão novo tão grande e tão natural, não... Natural é hoje, ali: tudo passou a ser parte de mim e foi talvez por isto que eu tenha segurado sem medo aquele corpinho com as duas mãos, pensando que talvez tivesse nascido morto, como foram dois partos mal sucedidos de irmãos.
Assim que levantei o recém-nascido percebi que era uma menina e percebi também que ela se mexeu em minhas mãos se contorcendo e numa explosão de sons, abriu a boca e mostrou que estava viva chorando tão alto que eu comecei a rir e a chorar e chorando eu a imitava e ria de bobo e chorava feliz e chorava de bobo e ria de felicidade e foi o maior amor à vida, que eu senti naquele momento e foi o momento que eu me senti bom, senti que o mundo era bom, a vida era boa e merecia ser vivida e decidi que eu ia vivê-la enquanto eu a tiver.
Esta foi a cena que os pais da moça o marido e a menina encontraram quando todos entraram de uma vez na casa e no quarto, a vovó da menininha me olhando nos olhos estendeu as mãos em minha direção, num impulso de defesa ou de ciúmes e tentei afastar o bebê, a senhora de uns quarenta anos apenas disse eu sou a vó dela. Olhei a criança, olhei a mãe dela que sorria e olhei as outras pessoas e me lembro de ter sorrido e entregue a menininha chorona para a avó e saído do quarto acompanhado do marido e da garotinha, consegui perguntar se tinham sabão para eu lavar o sangue dos braços, me indicaram a bica de água e me seguiram para lá com o marido me fazendo perguntas e agradecendo, tudo de vez, e eu apenas ria como um bobo que só sabia rir, só depois de me lavar e molhar a cabeça e a camisa é que fui me acalmando, e voltando à realidade.
Fiquei sabendo que se enganaram em mais de quinze dias na data do nascimento, e a jovem mãe disse que começara a sentir as dores violentas no momento que a irmã saiu gritando, “Freud explica”. Lembrei-me de como tinha sido rápido o parto e disse isto a ela, ela retrucou: não, demorou muito! Eu queria até desistir e aí você gritava para empurrar, gritava para eu abrir as pernas me ajudava a empurrar e gritava para fazer força, pensei que ia morrer... Deve ter se passado mais de uma hora até que ela veio. Não conseguia entender, mas pelo que me disseram a distância da lavoura até a casa era de quase uma légua, o “perto” da Elza.
Elias e Malvina, os meus primeiros compadres, Ana Vitória a minha primeira afilhada, a Elza minha afilhada de crisma e dona Neuza e senhor José Batista, padrinhos do meu casamento no civil, uma amizade que surgiu, quando atravessei minha fronteira. A fronteira que separa os meninos dos homens. A eles onde estiverem, obrigado.
Sempre que conseguia algum dinheiro eu viajava para passar alguns dias, zoar as garotas, nadar nos rios pescar e fazer tudo o que se podia naqueles dias dourados sem poluição.
Havia na beira da estrada uma casa de adobe e ainda faltando uns quarenta metros para passar por ela eu vi sair correndo uma menina franzina vinda ao meu encontro aflita e pedindo para ajudar a irmã que estava morrendo.
Mesmo sem conhecer-me o desespero era tanto que ela fez algo incomum em pessoas da roça, tímidas por natureza, agarrou minha mão e foi me puxando fazendo com que os últimos quinze metros fossem vencidos com uma corrida forçada, acho que eu devia estar parecendo para aquela garota o próprio Jesus, já que como médico eu não parecia em nada.
Entrei na casa ouvindo os gritos sem ter tempo para raciocinar se haveria perigo em tentar ajudar alguém que gritava daquele jeito, certo é que me vi dentro do que parecia ser o único quarto grande da casa. Numa tarimba deitada, uma mulher jovem olhou-me e sem parar de gritar disse moço ajude-me, meu filho vai nascer.
Ela estava em franco trabalho de parto isso pelo pouco que eu sabia, por ter ouvido o nascimento dos meus três irmãos mais novos, até a data presente e sempre muito curioso perguntando tudo para à minha vó, que era uma descendente direta de suíços e fazia questão de me explicar todos os detalhes sem que eu ficasse envergonhado já que naqueles tempos todo o processo referente ao surgimento da vida e sexo era tabu até para adolescentes, mesmo os curiosos.
A garota não queria soltar minha mão e eu acho que ela estava com medo de eu fugir ou... Estava simplesmente com medo. O fogo no fogão estava alto e eu aproveitei para pegar a primeira panela que me pareceu limpa e coloquei na trempe e peguei água com uma caneca tirando de uma lata de querosene enchi a panela preta destas feitas de ferro, fazendo tudo meio automático e sem saber como exatamente eu iria usar a água quente, mas, sentindo que ela seria necessária para o evento.
Segurei a outra mão da menina e perguntei pelos parentes, ela já um pouco mais calma disse que eles estavam trabalhando na roça, perguntei se era muito longe e ela respondeu que não, perguntei se ela conseguia ir onde eles estavam. Ela respondeu que sempre era quem levava café para os parentes. Falei com mais autoridade do que realmente tinha, corra e vá chama-los eu fico aqui com sua irmã não se preocupe que eu tomo conta dela, isto era um compromisso que assumi e que depois foi motivo de reflexão do que seria, se aquela moça morresse, como eu ia explicar para a garotinha, minha mentira?
Ela saiu correndo sem contestar e voltei ao quarto onde à mulher que por um instante tinha feito silencio, voltara a gemer alto. Quando entrei e acho que estava mostrando um jeito de quem sabia o que estava fazendo, ela parou de gemer alto trincando os dentes e com o olhar, sem falar nada me obrigou a responder que estava tudo bem, acrescentei ainda que a irmã fora chamar os parentes e perguntei se ela já tivera outro filho ela fez um esforço e conseguiu balbuciar que era o primeiro e voltou a gemer eu segurei os braços dela e coloquei a cabeça no meu colo e mandei-a fazer força.
Eu; Se sabia o que estava fazendo era por instinto, ou por ter ouvido nos partos de meus irmãos as parteiras berrarem estas ordens para minha mãe, ela após me ouvir esticou o corpo e eu sentia a pressão dela contra meus braços, quase me esmagando contra a cabeceira da cama.
Estava para completar quinze anos, tinha um físico de atleta aparentando mais idade do que realmente tinha. Segurei o impacto e instintivamente levei à mão direita a barriga dela e ajudei a empurrar. Ela deu um grito e novamente fez a carga sobre mim e ao mesmo tempo a ouvi gritar: está saindo, nem sei como aquele pensamento me veio à cabeça, ele vai cair no chão, senti a pressão diminuir sobre mim, saí debaixo dela segurando com cuidado, mas firmemente os seus ombros e colocando sua cabeça sobre o travesseiro.
Estranho não ter visto como fiquei naquela posição, não me lembrava de ter entrado debaixo dela e a ter deitado no meio das minhas pernas. Fui para os pés da cama, rápido e entre as pernas da garota eu vi aquele corpinho cheio de sangue, inerte e não senti medo do sangue, estou dizendo não senti, por que sempre, quando ouvia relatos sobre sangue, eu ficava me sentindo mal, mas ali não, vi a vagina dilatada o sangue em poças junto com a placenta talhada, tudo para mim era tão novo tão grande e tão natural, não... Natural é hoje, ali: tudo passou a ser parte de mim e foi talvez por isto que eu tenha segurado sem medo aquele corpinho com as duas mãos, pensando que talvez tivesse nascido morto, como foram dois partos mal sucedidos de irmãos.
Assim que levantei o recém-nascido percebi que era uma menina e percebi também que ela se mexeu em minhas mãos se contorcendo e numa explosão de sons, abriu a boca e mostrou que estava viva chorando tão alto que eu comecei a rir e a chorar e chorando eu a imitava e ria de bobo e chorava feliz e chorava de bobo e ria de felicidade e foi o maior amor à vida, que eu senti naquele momento e foi o momento que eu me senti bom, senti que o mundo era bom, a vida era boa e merecia ser vivida e decidi que eu ia vivê-la enquanto eu a tiver.
Esta foi a cena que os pais da moça o marido e a menina encontraram quando todos entraram de uma vez na casa e no quarto, a vovó da menininha me olhando nos olhos estendeu as mãos em minha direção, num impulso de defesa ou de ciúmes e tentei afastar o bebê, a senhora de uns quarenta anos apenas disse eu sou a vó dela. Olhei a criança, olhei a mãe dela que sorria e olhei as outras pessoas e me lembro de ter sorrido e entregue a menininha chorona para a avó e saído do quarto acompanhado do marido e da garotinha, consegui perguntar se tinham sabão para eu lavar o sangue dos braços, me indicaram a bica de água e me seguiram para lá com o marido me fazendo perguntas e agradecendo, tudo de vez, e eu apenas ria como um bobo que só sabia rir, só depois de me lavar e molhar a cabeça e a camisa é que fui me acalmando, e voltando à realidade.
Fiquei sabendo que se enganaram em mais de quinze dias na data do nascimento, e a jovem mãe disse que começara a sentir as dores violentas no momento que a irmã saiu gritando, “Freud explica”. Lembrei-me de como tinha sido rápido o parto e disse isto a ela, ela retrucou: não, demorou muito! Eu queria até desistir e aí você gritava para empurrar, gritava para eu abrir as pernas me ajudava a empurrar e gritava para fazer força, pensei que ia morrer... Deve ter se passado mais de uma hora até que ela veio. Não conseguia entender, mas pelo que me disseram a distância da lavoura até a casa era de quase uma légua, o “perto” da Elza.
Elias e Malvina, os meus primeiros compadres, Ana Vitória a minha primeira afilhada, a Elza minha afilhada de crisma e dona Neuza e senhor José Batista, padrinhos do meu casamento no civil, uma amizade que surgiu, quando atravessei minha fronteira. A fronteira que separa os meninos dos homens. A eles onde estiverem, obrigado.
Mãe da vida
Valdemiro Mendonça
A dor e os gritos de ansiedade
Ao ver surgindo uma nova vida.
A explosão do choro de vitória,
Ao conseguir vencer a corrida.
Consagrando a mãe na história,
Que cumpriu a missão exigida.
É o milagre de um nascimento
O mais belo; Feito pelo Criador,
De todo o milagre que houver.
Cada nascer é um hino de louvor
Numa musica em notas de amor
Cantando a sublimação; Mulher.
São nove meses na longa espera
Para tornar-se a rainha querida
Dividindo, corpo, alma e o calor.
Sem jamais se dar por vencida
É a razão de ser da própria vida,
Feita de paixão, carinho e amor.
Obrigado mestre Jacó valeu.
19/08/2019 16:37 - Jacó Filho
Não fiz nada parecido,
E imagino a tensão.
Ter outra vida nas mãos,
Jamais será esquecido...
Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...
Para o texto: "MINHA FRONTEIRA" (T6723092)
Valdemiro Mendonça
A dor e os gritos de ansiedade
Ao ver surgindo uma nova vida.
A explosão do choro de vitória,
Ao conseguir vencer a corrida.
Consagrando a mãe na história,
Que cumpriu a missão exigida.
É o milagre de um nascimento
O mais belo; Feito pelo Criador,
De todo o milagre que houver.
Cada nascer é um hino de louvor
Numa musica em notas de amor
Cantando a sublimação; Mulher.
São nove meses na longa espera
Para tornar-se a rainha querida
Dividindo, corpo, alma e o calor.
Sem jamais se dar por vencida
É a razão de ser da própria vida,
Feita de paixão, carinho e amor.
Obrigado mestre Jacó valeu.
19/08/2019 16:37 - Jacó Filho
Não fiz nada parecido,
E imagino a tensão.
Ter outra vida nas mãos,
Jamais será esquecido...
Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...
Para o texto: "MINHA FRONTEIRA" (T6723092)