A Águia Pousou

[Continuação de "Voando para o perigo"]

Aproximava-se a hora do almoço quando um secretário passou uma ligação de Berlim para o embaixador em Bucareste, Lorenz Klugmann. Ele atendeu em seu gabinete de trabalho.

- Heil Hitler! - Exclamou, antes mesmo de ouvir a voz do interlocutor.

- Heil Hitler - respondeu uma voz tranquila do outro lado. - Como estão indo as coisas na Valáquia, embaixador?

Klugmann já havia enviado o seu relatório codificado horas antes para o Auswärtiges Amt, o ministério das Relações Exteriores alemão, mas quem estava ligando era um oficial de ligação da Abwehr, o serviço de inteligência militar.

- Os valaquianos estão cumprindo a sua parte no acordo, Herr Bolender - replicou Klugmann. - Enviaram tropas para a Polônia, mas à centenas de quilômetros da frente de combate, e em quantidade puramente simbólica.

- Sim... li seu relatório - comentou Jochen Bolender. - Apenas uma companhia de dragões sob o comando de um capitão, armamento leve. Nada com que devamos nos preocupar, até porque, quando chegarmos ao ponto onde estão, a guerra já terá acabado. Todavia, a presença de aeronaves americanas na Valáquia acendeu algumas luzes amarelas aqui em Berlim.

- Confesso que isso também me preocupou a princípio - admitiu Klugmann. - Mas trata-se de uma empresa privada, contratada apenas para levar os valaquianos até a Polônia. Preferiram não utilizar aviões da própria Força Aérea para não caracterizar que se tratava de uma missão de combate, assim me foi justificado.

- Sim... isso faz sentido. Os Estados Unidos são um país neutro, e não pretendemos criar problemas com as empresas que os representam na Europa... até porque, algumas delas nos servem também.

- Bem lembrado! - Aprovou Klugmann. - Então, a ordem é deixar os valaquianos prosseguir sem interferência pelo espaço aéreo polonês?

- Desde que não tentem seguir rumo à Varsóvia, que fique bem claro - advertiu Bolender. - Varsóvia... e tudo o que ela contém... é nossa.

* * *

O dia não havia começado bem para o general Konstanty Plisowski, comandante das forças de defesa de Brest, Polônia. Sob ataque feroz dos nazistas, o governo republicano em Varsóvia havia lhe informado que deveria manter sua posição da melhor maneira possível - sem reforços.

- Não posso fazer milagres - retrucou Plisowski, exasperado. - Tudo o que tenho são cerca de três batalhões de infantaria e pouco mais de uma dúzia de tanques Renault obsoletos... viria a calhar pelo menos algum apoio aéreo.

Nenhum apoio aéreo viria em seu socorro, foi informado. A Força Aérea polonesa mal podia se defender contra as aeronaves tecnicamente superiores e em maior número da Luftwaffe, quanto mais prestar socorro a quem quer que fosse.

Plisowski havia acabado de deixar a sala de rádio da Fortaleza de Brest, quando um ajudante de ordens aproximou-se dele e prestou continência.

- Os valaquianos acabaram de pousar à noroeste da cidade, general! - Informou o oficial.

- Finalmente! - Exultou Plisowski, batendo as palmas das mãos enluvadas. - E quantos são, tenente Waniczek?

- Senhor... enviaram uma companhia de dragões... e uma dúzia de médicos e enfermeiras - informou o oficial, constrangido.

Plisowski ficou em silêncio por alguns instantes, como se estivesse processando a informação. Em seguida, mãos atrás das costas, indagou:

- Pelo menos, vieram em aeronaves de combate?

- Não senhor... aviões de passageiros... americanos.

- Americanos? - Plisowski ergueu os sobrolhos e deixou os braços pender ao longo do corpo.

- Pan Am, senhor.

O general balançou a cabeça, em concordância. Tocou no braço do ajudante e ordenou:

- Preciso lhes dar as boas vindas; mande preparar meu carro.

- Sim, senhor! - Replicou Waniczek, prestando continência.

[Continua]

- [14-07-2019]