Mar Noturno - Parte VII - A Fúria de Meredoth

Assim que terminamos nossos preparativos, voltamos a Graben onde estava um frio de rachar e para piorar ainda mais as coisas, a chuva fina transformou-se em um verdadeiro temporal.

Por sorte, chegamos ao barco do capitão Garvin para avisá-lo que precisávamos ir a Todstein o mais breve possível, o que ele achou um ato de irresponsável loucura.

Vareen, no entanto, ignorou as opiniões do capitão e a viagem foi feita assim mesmo no meio de uma tempestade terrível e com uma temperatura de 20 graus abaixo de zero capaz de matar de frio até mesmo os mais corajosos.

E se alguém ler um dia este diário descobrirá que nosso grupo era um bando de malucos determinados a fazer justiça de acordo com nossas crenças.

Apesar de todos os percalços, a viagem corria bem e logo encontramos uma ponte de gelo.

Preparamos tudo que fosse necessário e passamos com certa tranquilidade por baixo da ponte de gelo a não ser Caleb que escorregou e quase caiu no mar sendo salvo por Vareen e William.

A tempestade havia piorado ainda mais e com os problemas na vela do barco, a previsão de chegada a Todstein seria de três dias.

Sorte nossa que Torstein resolveu nos guiar até a ilha talvez impulsionado por seus próprios interesses.

E pra aumentar ainda mais nossa sorte bem-abençoada, o barco navegava com boa velocidade e segundo William, o tempo de viagem caiu para 30 minutos.

Foi aí que tivemos um susto grande. Ouvimos um solavanco no barco e ficamos ansiosos para saber o que tinha ocorrido, mas felizmente foi apenas uma curva errada feita pelo timoneiro e logo voltamos ao curso.

Vareen não conseguiu suportar o enjoo e vomitou no mar tudo o que comeu.

Isso é o que acontece quando temos “velhinhos” inexperientes na arte marítima.

Depois de nos divertirmos ás custas do pobre clérigo, observamos algumas pedras a sudoeste.

O que significava uma coisa.

Tínhamos chegado a costa de Todstein.

* * *

Assim que chegamos a Todstein, Vareen usou novamente seus poderes descobrindo uma enorme parede de pedra.

O vento estava diminuindo lentamente e assim que tivemos um pouco de visibilidade, conseguimos identificar uma pessoa congelada.

Vareen e eu o observamos um pouco mais e identificamos como um homem na casa dos 30 anos e forte fisicamente.

O clérigo detectou magia arcana nele e ficamos surpresos quando levantou-se de costas para nós e caminhou sem mais nem menos, como se estivesse tão vivo como nós.

Pediu que o acompanhássemos dizendo que o mestre dele nos aguardava ansiosamente.

Que só podia ser Meredoth.

Notei algo estranho naquele homem. Seu olhar apático e distante, seu andar mecânico e seu semblante indiferente lembram muito as de um zumbi.

E meu palpite estava certo. Era um dos Lebentods reanimados por Meredoth.

Vareen chegou a mesma conclusão e atacou aquele homem pelas costas, derrubando-o.

Logo em seguida Nikolai o decapitou com sua chaskar e o clérigo queimou o resto do corpo liberando para sempre o espírito que estava aprisionado nele.

Isso fez lembrar-me de uma das conversas que tive com lorde Dominic.

Numa tarde, após um dos meus treinos puxados em Dementlieu, o lorde Dominic me chamou a seu gabinete para uma conversa amigável.

Fiquei surpreso quando ele começou a falar a respeito de seus colegas que governam os domínios deste núcleo e foi aí que ouvi falar de Meredoth.

Embora nunca tenham se encontrado pessoalmente, tinha ouvido falar de sua habilidade de criar servos para seu domínio sem se importar com o sofrimento das pessoas e que para ele, Meredoth é um dos lordes negros mais terríveis de todos os domínios, com uma crueldade de dar inveja ao próprio Vlad Drakov e uma extrema frieza que nem mesmo o conde Strahd Von Zarovich possui.

E depois que vi o que Vareen fez, passei a acreditar ainda mais nas palavras do lorde Dominic.

Mas não tinha mais tempo pra reflexões.

Era hora de ir as escadarias.

* * *

Ao subir as escadarias, ficamos perplexos com o que vimos.

Era uma espécie de catedral onde uma missa era realizada com os fiéis orando por seus deuses.

Parecia normal demais.

E a perplexidade aumentou mais ainda quando avistamos um lindo jardim do lado de fora da catedral com bancos incrustados em todos os cantos lembrando uma praça.

Vimos algumas pessoas sentadas e conversando como se nada estivesse acontecendo de anormal.

No entanto, assim que chegamos perto delas para pedir informações, percebemos o mesmo olhar apático e distante do homem que Vareen atacou e exorcizou.

Todos os que estavam ali eram Lebentods reanimados por Meredoth e fugiram alarmados pela nossa presença.

Caleb não perdeu tempo e atacou-os com bolas de fogo, atingindo um deles que rolou de dor dando tempo suficiente para Nikolai decapitá-lo e Vareen libertar seu espirito usando seu exorcismo.

Assim que adentramos a catedral, o que vimos apenas confirmou o que suspeitávamos.

Havia famílias inteiras nas bancadas assistindo uma missa onde o sacerdote fazia mais um de seus sermões a respeito dos deuses.

Nikolai, Caleb e eu ficamos de guarda na entrada da catedral enquanto Vareen e William foram falar com o sacerdote que não tinha muito a dizer sobre o que estava acontecendo.

E nem poderia mesmo porque o sacerdote também era um Lebentod assim como todos os outros que estavam ali.

Assim que o clérigo deu o sinal, Nikolai, Caleb e eu fechamos todas as portas e esperamos o momento de William entrar em ação.

Notei que as pessoas em todas as bancadas se abraçaram e começaram a chorar.

De início, pensei que eram por medo acreditando que iríamos massacrá-los.

Mas estava errado.

Os espíritos, ao menos alguns deles, queriam se libertar de seus corpos reanimados.

Era hora do exorcismo.

E isso eu deixo pros Calebs, Vareens e Williams da vida.

* * *

O exorcismo foi tranquilo embora William tenha ficado um pouco impaciente na ânsia de conseguir informações sobre Meredoth.

A catedral começou a se desfazer com o exorcismo e logo as almas se libertaram de seus corpos reanimados que se desmanchavam.

Como agradecimento, um dos espíritos revelou que Meredoth está no subsolo fazendo experimentos com alguns cadáveres.

Perto dali, descobrimos outra escadaria que leva para as catacumbas.

E para os aposentos de Meredoth.

Não sabemos o que vamos encontrar, mas uma coisa era certa.

Meredoth pagaria pelas atrocidades cometidas contra pessoas inocentes.

* * *

Ao passarmos pelas catacumbas, ouvimos passos leves de uma jovem tentando escapar de algo ou alguém.

Tivemos um bocado de sorte em capturá-la e levá-la conosco, quem sabe forçar Meredoth a sair de seus aposentos para lutar contra nós usando a jovem como refém ou talvez usá-la como moeda de troca.

Um pouco mais a frente, havia uma cúpula com alguns quartos a esquerda e a direita com uma porta enorme no fim do corredor.

Não havia nenhuma armadilha montada para nós e Caleb e Nikolai foram para a porta observar o que havia atrás dela.

E ficaram espantados com o que viram.

Era um laboratório gigante com cadáveres espalhados por toda a parte e Vareen reconheceu um desses cadáveres como o agente da KGT que deixamos na mansão Graben.

Havia vastas estantes com pilhas de livros e anotações a respeito do estado dos corpos. Na mesa mais ao sul, havia um homem fazendo anotações de seu mais novo experimento.

Era barbudo e se vestia como um mago eremita.

E aquele cajado repousado em uma das cadeiras adjacentes confirmou aquilo que esperávamos.

Era Meredoth.

* * *

Vareen logo traçou um plano enquanto eu já preparava meu rifle para mirar a cabeça de Meredoth e acabar com tudo o mais depressa possível.

No entanto, o tiro não saiu como deveria e a bala alvejou o ombro do lorde negro fazendo-o sacolejar na cadeira.

O clérigo ainda atacou Meredoth com seus relâmpagos antes que milagrosamente escapasse das nossas vistas.

Antes de irmos atrás dele, sentimos um forte tremor na sala que nos fez parar.

Meredoth não era um lorde negro a toa.

Ele havia deixado um presente nada agradável para nós.

Em forma de quatro golens.

* * *

O golem gigante tomou a iniciativa e tentou derrubar Caleb com um soco mas o paladino desviou do ataque e conseguiu chegar a porta que Meredoth havia aberto pra fugir.

Nikolai ordenou seu cão Strahd atacar a mão do monstro enquanto ele golpeava a perna para fazê-lo se desequilibrar e cair.

Mas, mesmo com a incrível combinação de homem e animal, o golem nada sentiu.

No corredor oposto, Meredoth bateu seu cajado no chão fazendo a terra tremer novamente e então o rumo da batalha mudou.

Estávamos em seu mundo de ilusões.

Ainda assim não vacilamos em nenhum instante porque a raiva e a vontade de fazer justiça eram maiores que o medo.

Atiro no primeiro golem com minhas pistolas e o monstro recua para trás dando tempo suficiente para Nikolai cortá-lo com sua chaskar e o derrotar.

Vareen usou seus poderes para abrir um enorme buraco embaixo do segundo golem que tropeça e cai.

O terceiro estava pronto para atacar e o quarto agarra uma mesa tentando acertar Nikolai.

Eu havia sacado minha rapieira e a espada goblin quando aquele golem que havia acertado com meu rifle tentou atacar-me.

No momento em que o soco seria desferido onde certamente me mataria, ouvi tiros que fizeram o monstro ajoelhar-se.

Era William.

E o show dele ainda nem havia terminado.

Tirou sua espada e fez um verdadeiro picadinho de golem acertando quatro golpes. Um na cabeça, outro no olho, um terceiro na têmpora e o último bem no peito, matando-o instantaneamente.

Sempre achei que William era muito subestimado pelos outros por ser nobre e um mero político que raramente suja suas “mãozinhas”.

Mas depois do que vi, notei que ele era um tremendo espadachim e um atirador muito melhor do que eu.

William é um trunfo valioso para nosso grupo e achei melhor acompanhá-lo em busca do próximo golem.

Enquanto isso, Caleb e Nikolai planejaram arriscar uma carga tripla junto com o cão Strahd para derrubar o quarto golem.

Achei essa manobra muito arriscada pelo fato do golem ser bem mais forte do que os três combinados e caso falhassem, eles seriam estraçalhados pela força do impacto.

E por incrível que pareça, a ousada manobra dos dois barovianos havia funcionado.

Strahd pulou e mordeu o golem e Nikolai e Caleb combinaram ataque e defesa em um único movimento usando a chaskar e o escudo respectivamente fazendo o suficiente para anular o golpe do golem, feri-lo gravemente e deixa-lo exposto para novo ataque.

Foi exatamente isso que aconteceu.

Caleb atacou com o escudo a cabeça do monstro e Nikolai deu o golpe de misericórdia com a chaskar.

Ainda restava um golem e Vareen e William combinaram seus poderes para abrir outro buraco enquanto o monstro movia-se para tentar outro ataque.

Nosso movimento de pinça havia funcionado e logo cercamos o golem, que devido a expansão da parede provocada pela magia de Meredoth acabou caindo no buraco feito pelos dois clérigos.

Dei dois golpes no monstro que nem fizeram cócegas, mas a distração que provoquei deu tempo suficiente para Caleb dar o golpe fatal e aniquilar o último golem.

A porta que Meredoth havia trancado se abriu.

O lorde negro do Mar Noturno estava nos esperando.

Era hora da batalha final.

* * *

Infelizmente tenho um problema quase insolúvel. Não gosto muito de leniência e parto pra cima dos inimigos como um touro brabo.

Logo senti os efeitos de minha tolice levando uma rajada mágica de Meredoth e ser jogado contra a parede.

Nikolai e William não tiveram muita sorte também e recuaram devido a sua magia de envelhecimento.

Ali o corpo-a-corpo era inútil e a batalha teria que ser magia contra magia.

E a batalha era sob medida para Vareen e Caleb.

Os dois atacaram o lorde negro com tudo o que tinha de magia atingindo-o em cheio.

Vareen então teve tempo suficiente para superar a magia de envelhecimento de Meredoth e dar o golpe fatal.

Caleb conseguiu fechar a porta de entrada e chegamos até onde Vareen estava sem problemas.

Lá fora, estava ventando demais e a nevasca aumentava.

Era o vento glacial que atingia a ilha de Todstein com força total.

Meredoth estava morto.

Tínhamos derrotado o lorde negro do Mar Noturno.

Mas o preço seria alto demais.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 22/06/2019
Código do texto: T6679231
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