Hoje não

Uma Mercedes 260D negra parou na entrada do posto policial, e dela desceram dois homens de chapéu e sobretudo, aparência comum.

- A Gestapo chegou - alertou desnecessariamente Marko Spitzer ao seu colega policial, Tizian Schachner. Ambos dirigiram-se à porta aberta, para recepcionar os recém-chegados.

- Eu sou Wolfgang Destinn e este é Theodor Pankau, Gestapo - identificou-se o mais alto dos forasteiros. - Fomos informados de que Hugo Brodzinski está preso aqui.

- Sim, aguardando julgamento... - explicou Schachner.

Os agentes da polícia secreta trocaram um olhar irônico.

- Ele vem conosco - informou Destinn.

- Nossas ordens são para mantê-lo sob custódia até o julgamento - replicou Schachner, num tom polido, mas firme.

- Quem você pensa que é, garoto? - Inquiriu Pankau, erguendo o indicador direito.

- Somos a lei nesta cidade, agente - redarguiu friamente Schachner.

Subitamente sentindo-se mais corajoso, Spitzer acescentou:

- Somos a GemPo!

Os dois agentes da Gestapo sorriram com sarcasmo.

- GemPo! Que bela porcaria... policiais da roça, guardas de vacas e porcos! - Exclamou Pankau.

- Não interessa o que pensam de nós, aqui ninguém vai levar prisioneiro nenhum sem mandado - atalhou Schachner, mão pousada no coldre onde trazia sua Luger de serviço.

O rosto de Pankau contorceu-se de ódio.

- Não precisamos de mandado, garoto! Você sabe o que esse maldito polonês fez!

- Sabemos - retrucou Schachner, abrindo ostensivamente o coldre sem perder contato visual com Pankau. - E é exatamente por isso que ele vai a julgamento. Ninguém vai enforcar um prisioneiro nosso em praça pública, apenas para servir de exemplo.

Destinn tocou no ombro de Pankau e manteve a mão ali.

- O GemPo tem razão, Pankau - ponderou. - Há leis no Reich, e ele demonstrou que as está cumprindo. Deveríamos elogiá-lo, não repreendê-lo.

Pankau engoliu um palavrão, mas pareceu dar-se por vencido.

- Muito bem. O polaco fica.

Os agentes deram meia volta e entraram na Mercedes, que partiu em disparada. Spitzer encarou nervosamente o parceiro, que fechara o coldre da arma e apoiara o corpo na escrivaninha da sala, parecendo que subitamente acabara de sucumbir a um grande peso.

- O que acha que vai acontecer?

- Temos que transferir o prisioneiro para a sede do distrito, onde será mais difícil que voltem depois... com um rolo de corda - retrucou Schachner, inclinando-se para pegar o telefone sobre a escrivaninha.

Quando finalmente a ligação foi completada, solicitou uma viatura de transporte de presos.

- E eu vou junto, para ter certeza de que ele chegará vivo até aí - ressaltou.

- [20-05-2019]